domingo, 17 de fevereiro de 2013

Oscar nos anos 2000 (3) - 2008 e 2009

2008
Melhor Filme
O curioso caso de Benjamin Button
Frost/Nixon
O leitor
Milk
Quem quer ser um milionário?

O que dizer deste ano? Com relação aos atores vencedores, tudo nos seus devidos conformes: Penélope Cruz (Vicky Cristina Barcelona) e Heath Ledger (Batman: O cavaleiro das trevas) nos prêmios de coadjuvantes (certíssimo). Kate Winslet (O leitor) e Sean Penn (Milk – a voz da igualdade) nos prêmios de protagonistas (ótimas opções, ótimos atores e ótimos trabalhos que disputaram em pé de igualdade com Meryl Streep e Mickey Rourke). O problema de 2008 é que os melhores filmes do ano não foram indicados ao Oscar de melhor filme por puro conservadorismo da Academia. São eles: Wall-e e Batman: O cavaleiro das trevas, segunda fatia da trilogia Batman de Christopher Nolan. Wall-e é uma das melhores animações já produzidas pela parceria Disney/Pixar e é um trabalho genuinamente único em qualidade técnica e sentimental. É extremamente raro um filme de animação ser indicado a melhor filme (apenas Up!, Toy Story 3 e A bela e a fera conseguiram tal feito) e a única explicação que eu vejo pra isso é que a academia não curte o gênero. O cavaleiro das trevas, por sua vez, também deriva de outro gênero que também não é tão bem visto pelos membros da academia. Por mais que o trabalho de Nolan seja superior a essa denominação simples, é um filme de super-herói. Mas o que todos sabem é que este é um dos melhores filmes da década, aliando um grande roteiro com uma superprodução técnica e um desempenho inquestionável dos atores. Se apenas um filme de 2008 for entrar pra história, será O cavaleiro das trevas. No mais, os cinco indicados são bons filmes. Benjamin Button é bonito, mas não consigo levá-lo muito a sério. O leitor é muito interessante com seu questionamento de acerto de contas da Alemanha com seu passado nazista através do romance de juventude de um advogado. Milk retrata a biografia do político homossexual Harvey Milk, que lutou ferozmente pelos direitos homossexuais nos EUA dos anos 70. Quem quer ser um milionário?, o vencedor da noite e o melhor dos cinco indicados, é um filme bem completo. Tem drama, ação, comédia, aventura e até cenas mais tensas, tudo isso passando na Índia. Não a Índia exótica e misteriosa, mas sim num país de pobreza, violência e marginalidade muito longe do foco da mídia.
Obs: Ledger veio a se tornar o segundo ator a receber um prêmio póstumo. O primeiro foi Peter Finch, vencedor de melhor ator por Rede de intrigas (Network, 1976).

2009 
Melhor Filme
Educação
Um sonho possível
Up – altas aventuras
Amor sem escalas
Avatar
Guerra ao terror
Bastardos inglórios
Preciosa
Distrito 9
Um homem sério

Mudança de regras na Academia. Depois de quase 80 anos, voltam a serem dez os indicados na categoria principal. O lado bom disso é que bons filmes que literalmente corriam risco de serem esquecidos com o tempo acabam tendo uma chance maior de alcançarem uma representatividade interessante, mas a verdade é que na disputa real ao prêmio continuam sendo cinco filmes: Avatar, Bastardos inglórios, Guerra ao terror, Preciosa e Amor sem escalas. Destes, o vencedor acabou sendo Guerra ao terror. Meu favorito? Longe disso. Realmente acredito que Guerra ao terror seja um filme excepcional com seus “viciados em guerra” e admiro o trabalho de direção de Kathryn Bigelow, mas Bastardos inglórios é algo tão original, tão inovador, tão bem feito, criativo, “cool”, e com um elenco, roteiro e direção (ambos de Quentin Tarantino) tão bons que pra mim é o mais nítido possível que este é o melhor filme de 2009. De longe o melhor. Dos outros cinco, os que realmente valem a pena são Educação – a trajetória de uma jovem inglesa chamada Jenny (Carey Mulligan) que aspira viver uma vida cheia de cores e sons através de um relacionamento com um homem mais velho e que no caminho acaba aprendendo lições importantes sobre a vida e o amor (pra mim, este é o segundo melhor filme de 2009) – e Up: altas aventuras – a carismática aventura de um velhinho que decide seguir um sonho de infância compartilhado por toda uma vida com sua esposa levando sua casa amarrada em balões até as florestas tropicais da América do Sul. Vencedor de melhor ator: Jeff Bridges por Coração Louco. Vencedora de melhor atriz: Sandra Bullock por Um sonho possível. E aí eu te pergunto: que merda é essa? Pois é, também não sei. Tínhamos um ano realmente especial no Oscar de melhor atriz. Não digo isso pela presença de Meryl Streep (cujo papel eu nem curti tanto assim), que todos indicavam como a rival direta de Bullock, mas pela presença de dois jovens rostos cheios de talento em filmes que são pequenas obras-primas: Carey Mulligan, por Educação, e Gabourey Sidibe, por Preciosa. Ambos filmes excelentes, ambas interpretações mágicas em papéis dificílimos. Qualquer uma das duas seria uma vitória merecida e muito bonita de se ver. Ao invés disso, a Academia deu o prêmio a pior das cinco indicadas por um filme meia boca que tem a cara da sessão da tarde – sem querer ofender ninguém que gosta. Uma pena. Principalmente para Gabourey Sidibe. Se for analisar as carreiras dela e de Carey atualmente, é nítido que a dela é que passa por mais problemas. Depois do sucesso de Educação, Carey emendou um filme atrás do outro e todos de alta qualidade, diferente de Gabby que não fez mais nada de impacto. Afinal, sejamos sinceros, é muito difícil uma atriz quase desconhecida, negra, obesa e com cara de pobre conseguir um papel de real visibilidade dentro de Hollywood. Preciosa, pelo menos, saiu com o prêmio de atriz coadjuvante para Mo’nique, num trabalho assustadoramente excelente. Quem também teve grande destaque foi o vencedor de ator coadjuvante, Christoph Waltz, pelo seu trabalho inesquecível na pele do caçador de judeus em Bastardos inglórios.

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