sexta-feira, 13 de março de 2020

Filmes pro final de semana - 13/03

1. Jojo Rabbit (2019)
Um dos destaques do Oscar deste ano, Jojo Rabbit é uma deliciosa comédia nada convencional centrada no garoto Johannes, conhecido como Jojo (Roman Griffin), um alemão entusiasta do nazismo que tem como amigo imaginário o próprio führer (Taika Waititi). O ponto de partida do filme é a entrada de Jojo na Juventude Hitlerista, comandada por um capitão doido de pedra que fora tirado da linha de frente por perder um olho após ser ferido. Logo no primeiro dia Jojo ganha o apelido de Jojo Rabbit por não conseguir estrangular um coelho. Depois de ser envergonhado pelos colegas, ele tenta demonstrar bravura explodindo uma granada, mas acaba ferido e ganha algumas cicatrizes no rosto e uma lesão na perna que o deixa mancando. Depois da recuperação, obrigado a passar mais tempo em casa, Jojo descobre que sua mãe (Scarlett Johansson) escondia uma menina judia (Thomasin McKenzie) no sótão, e sem a mãe saber, inicia uma estranha amizade com ela. O ódio que foi ensinado a ter e os mitos absurdos sobre judeus (chifres escondidos, beber sangue, devorar bebês" vão dando lugar a um carinho fraterno. Filme sensacional, uma sátira que oscila entre comédia caótica e drama. 
Nota: 10
2. O Lobo atrás da porta (2013)
 O desaparecimento de uma menina na escola é o pontapé inicial para uma trama que quanto mais avança, mais fica sombria. Na sala de um desbocado delegado (Juliano Cazarré), uma mãe desesperada (Fabiula Nascimento) chora até a chegada de seu marido Bernardo (Milhem Cortaz), que ao ouvir o depoimento da professora de sua filha dá as primeiras pistas ao suspeitar do envolvimento de sua ex-amante, Rosa (Leandra Leal), no sumiço da filha. Através de depoimentos e flashblacks é montado o quebra cabeça do caso que Bernardo  e Rosa mantiveram, e a personalidade forte e misteriosa dela, que se manifesta através de olhar decidido e fala mansa, mas sabendo bem seduzir e dominar. Tenso e um pouco aflitivo graças ao trabalho de direção, o filme é abrilhantado pelo ótimo trabalho de seu elenco, em especial de Leandra Leal, vencedora do Prêmio de Melhor Atriz no Festival do Rio.
Nota: 9,0/ 10
3. Ray (2004)
Estrelado pelo brilhante Jamie Foxx, o filme mostra boa parte da vida do super astro Ray Charles, desde a infância pobre até o estrelato absoluto. Nascido na Geórgia e criado no interior da Flórida em meio à pobreza e racismo, Ray ficou cego aos sete anos. Sua mãe Aretha o ensinou a ser forte e nunca ser um pobre coitado. A voz e o talento no piano o levaram longe - inicialmente tocando em bares, depois saindo em turnês simples, até ser descoberto por uma gravadora. Em meio à ascensão, memórias perturbadoras de um trauma que choca ao ser revelado - trauma que leva ao caminho do vício em heroína, que marcou a vida do artista. Um filme muito bem construído, no ritmo de um gênio que revolucionou a música, e carregado pelo talento imenso de Jamie Foxx, cuja atuação memorável foi vencedora do Oscar.
Nota: 9,0/ 10
4. Despedida em Las Vegas (Leaving Las Vegas, 1995)
Esse é um filme imperdível - afinal, foi-se o tempo em que Nicolas Cage fazia ótimos trabalhos. Vivendo o alcoólatra Ben Sanderson, Cage mostra a que ponto um homem pode chegar por causa do alcoolismo: viver na solidão, perder o emprego, e quando a esperança de dias melhores parece acabar, resolve ir a Las Vegas para beber até morrer. Simples, trágico e chocante. Em Las Vegas, Ben conhece a prostituta Sera (Elizabeth Shue), com quem inicia um estranho relacionamento baseado num acordo: ela não reclamaria da bebida e ele não reclamaria da profissão dela. O problema é que mesmo que Ben tente sair de seu deplorável estado, ele já parece irreversível.
Nota: 9,5/ 10
5. O Grande Ditador (The Great Dictator, 1940)
Um barbeiro judeu (Charles Chaplin) ferido na I Guerra passa quase vinte anos numa clínica de repouso após perder a memória. Ao sair ele encontra seu país, Tomânia, dominado pelo ditador Adenoid Hynkel (também Chaplin), que havia instituído a perseguição aos judeus como uma das principais políticas de Estado. O antigo bairro do barbeiro se tornou um gueto judeu, onde membros do exército e da SS vivem agredindo os moradores. Do outro lado da estória está Hynkel, ditador perverso e ao mesmo tempo bastante caricato - sua grande vaidade o torna ridículo, além do fato de ser muito desastrado. Associando cenas do mais puro humor pastelão à delicada questão do holocausto, Charles Chaplin cria uma de suas melhores obras-primas.
Nota: 10

Luís F. Passos

quinta-feira, 5 de março de 2020

Livros para Março

1. Essa gente (Chico Buarque, 2019)
O mais novo livro de Chico Buarque talvez seja o melhor dele - pelo menos é o melhor entre os que eu li. Escrito intercalando a forma de diário com a forma epistolar, Essa gente é centrado em Manuel Duarte, escritor decadente que em seus dias áureos foi um dos mais vendidos autores do Brasil. Falido, em crise constante com suas duas ex-mulheres e pai de um adolescente com quem não consegue manter uma conversa trivial, Duarte é mais um fracassado da obra literária de Chico. Através das andanças de Duarte por bairros nobres, praias e favelas da zona sul carioca, vemos a sociedade sangrar por feridas históricas muitas vezes defendidas orgulhosamente por pessoas ditas diferenciadas - claras referências ao atual contexto social e político de nosso país. Atual, mas vigente há séculos. O romance não poupa aspereza e tem seu toque de enigma. É sensacional. É cru, é intenso, é pulsante, mesmo sendo apresentado com o distanciamento emocional com que Duarte vê e trata da decadência de valores humanos. É Chico Buarque em sua melhor forma.
Nota: 10
2. Memorial de Aires (Machado de Assis, 1908)
Depois de inaugurar o Realismo no Brasil e lançar quatro livros imortais nessas características, Machado de Assis muda o estilo ao escrever seu último romance, o emocionante Memorial de Aires, em que fica visível o caráter pessoal. O livro mostra um casal de idosos, Aguiar e Carmo, que apesar de muito felizes, não têm filhos. Mas Tristão, afilhado deles, e Fidélia, uma jovem viúva, são tratados pelo casal Aguiar como se fossem filhos deles.
A história é narrada pelo conselheiro José Aires, diplomata aposentado, amigo dos Aguiar e que acompanha o surgimento do amor entre Tristão e Fidélia. No final do livro, a tristeza e solidão sentida pelo casal Aguiar é reflexo do sofrimento do autor, que anos antes havia perdido sua esposa Carolina, o grande amor de sua vida.
Nota: 10
3. O corcunda de Notre Dame (Victor Hugo, 1831)
Um dos melhores e mais conhecidos romances do grande escritor francês se passa no fim da idade média. Numa época em que o poder da Igreja Católica era absoluto, soldados sonhavam com glória e a maior parte da população lutava contra a fome e a miséria, acompanhamos a estória do pobre Quasímodo, o tocador dos sinos da catedral de Notre Dame. Corcunda, caolho, deformado, surdo e coxo, Quasímodo fora abandonado e frente à igreja ainda bebê, e criado pelo rígido padre Claude Frollo, arquidiácono de Notre Dame. Do alto das torres da catedral, Quasímodo observa apaixonadamente a bela e jovem cigana Esmeralda, que também desperta a paixão do arquidiácono Frollo - no entanto, Esmeralda é apaixonada pelo capitão da guarda Phoebus Châteaupers, que não corresponde seu amor, mas apenas tem por ela desejo sexual. Victor Hugo nos apresenta com maestria uma estória de amor, ódio, preconceito e injustiças.
Nota: 10

Luís F. Passos