domingo, 31 de julho de 2011

O Estrangeiro

Em O Estrangeiro, mais importante que o enredo é o conteúdo. Por isso que  esse livro, meio pequeno em número de páginas, é gigante em seu valor literário. Coisa que não surpreende quando se trata do argelino Albert Camus (1913-1960), romancista, dramaturgo, ensaísta e filósofo. Camus se tornou um dos maiores escritores do século XX usando como tema o absurdo; a alienação e o desencanto do homem no pós guerra. Sua contribuição à literatura foi reconhecida várias vezes, inclusive com o Prêmio Nobel de Literatura em 1957.
O Estrangeiro é dividido em duas partes. Na primeira, o leitor conhece o protagonista, Meursault, um ateu que mora em Argel e que é aparentemente desprovido de emoções - especialmente aquelas que são esperadas pelos outros, como a compaixão. A história é narrada em primeira pessoa, o que ajuda o leitor a entender a proposta do autor. Logo no início do livro a mãe de Meursault, que vivia num asilo, morre, e ele não demonstra nenhum pesar. Voltando do enterro, encontra Marie, uma antiga colega de trabalho, com quem inicia um relacionamento (ela por sentimentos, ele por necessidade física). Seu desapego emocional é mostrado outra vez quando Marie lhe pergunta se deseja oficializar a relação e ele diz que tanto faz.
Meursault conhece um homem chamado Raymond, e é na casa de praia deste que acontece o principal fato da narrativa: Meursault mata um árabe praticamente sem motivo.
A segunda parte é a mais importante. Preso, Meursault não demonstra o mínimo arrependimento, e segundo ele, matou o árabe porque "lhe veio a vontade". Tal atitude deixa perplexos o promotor e os juízes, e é a recusa dele em sentir remorso e seu aspecto sentimental subumano que o condena, pois o jovem foi considerado um perigo para a sociedade. Condenado à decapitação, Meursault nem assim se abala, aceitando a pena em paz consigo mesmo.
O livro, ao lado de A peste, é o mais conhecido de Camus, etambém o melhor, na opinião de muitos. A conduta de Meursault resume bem a obra e a convicção do escritor argelino: a apatia da personagem é o que merece destaque, chegando a ser comparada a elementos da obra de Kafka e rendendo, até hoje, muita discussão para literários, filósofos e afins. Gigante na sua simplicidade, é sem dúvida um dos melhores livros que já li.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Os Pássaros – gaivotas malucas!

Mistério na cidade de Bodega Bay. Pássaros de todos os tipos começam a atacar os habitantes da cidade levando caos e destruição por onde passam. Uau...esse definitivamente não é meu estilo de filme preferido (não gosto muito de filmes de animais) mas tenho que admitir que Os Pássaros (1963) consegue se sair bem no gênero.
Tudo começa quando Mélanie (Tippi Hendren) encontra com Mitch (Rod Taylor) numa loja que vende pássaros na cidade de San Francisco. Na verdade não é bem um encontro casual, Mitch sabia quem era Mélanie por ser um advogado da cidade e a moça estar envolvida em pequenos escândalos. Mélanie, que nada sabe sobre o rapaz, decide investigá-lo e levar dois periquitos para ele como uma resposta irônica ao primeiro encontro dos dois (Mitch fez-se passar como um comprador de aves na loja para buscar aproximar-se a Mélanie). Como ele não estava em seu apartamento, Mélanie decide ir à cidade de Bodega Bay onde Mitch está na casa de sua família, junto a sua mãe e sua irmã mais nova. Logo após deixar os periquitos na casa de Mitch, Mélanie é atacada por uma gaivota sem noção: é o primeiro de muitos ataques que ocorrerão durante o filme.
É um filme bom, mas que não deixa explicações muito claras de porque aquilo tudo está acontecendo. Os pássaros estão atacando a cidade...e? Não é dada nenhuma explicação direta sobre os motivos que os levaram a isso. Às vezes me parecia que os pássaros atacavam como se quisessem impedir Mélanie de ficar próxima a Mitch. Ou então, talvez os pássaros sejam apenas sem noção ou queiram dominar o mundo ou qualquer coisa..não sei. Sei que o filme deixa muitas possibilidades em aberto e cada um que dê sua opinião sobre o porquê dos ataques. 
Os Pássaros é um filme bem agressivo, talvez o mais agressivo de Hitchcock. Indicado ao Oscar de efeitos especiais, o filme realmente é inovador nesse aspecto. A tecnologia aplicada para fazer os ataques, com todas aquelas aves é muito boa e inovadora para a época. É claro que hoje em dia aquilo tudo pode até parecer meio mal feito, mas estamos falando de 1963! Sem falar que apesar dos pesares, o filme em si é bastante tenso, mesmo com a artificialidade que o tempo deu aos efeitos especiais utilizados para fazer as gaivotas, os corvos, as galinhas, os cisnes e blábláblá (hehe, to exagerando). Dá sempre aquela sensação de que alguma coisa está prestes a acontecer, de que não é pra Tippi Hendren fazer isso ou aquilo, que tudo vai dar errado, que vai vir uma gaivota doida e arrancar olho de alguém, ahh!
Socorro! uma calopsita!
As minhas cenas preferidas são o ataque às crianças na escola e Mélanie, Mitch, sua mãe e sua irmã presos dentro de casa cercados pelos animais por todos os lados. Outra cena interessante é a que Tippi Hendren tá lá sentada no banquinho na parte de fora da escola e os corvos se amontoando aos poucos e cada vez mais no parquinho das crianças. Muito legal.


por Lucas Moura

terça-feira, 26 de julho de 2011

O Guarani

Umas das características do Romantismo brasileiro foi a criação do herói nacional baseado na figura do índio, chamado de bom selvagem. O maior exemplo do bom selvagem está no romance O Guarani, de José de Alencar, publicado em folhetim entre fevereiro e abril de 1857, mais tarde sendo lançado como livro.
A narração se passa no final do século XVI, quando o fidalgo português D. Antônio Mariz, após participar a fundação da cidade do Rio de Janeiro junto a Men de Sá e Estácio de Sá, decide permanecer no Brasil com sua família. D. Antônio construiu uma casa à beira de um penhasco em estilo medieval, onde havia uma sociedade de caráter feudal, comandada por ele. Como dá pra imaginar, a casa fica no meio do nada - só floresta e mais floresta. Numa dessas matas mora um povo indígena hostil, os amoirés. A rivalidade entre a tribo e o fidalgo começaram quando D. Diogo, filho de D. Antônio, mata uma filha do cacique aimoré sem querer, numa caçada, e o chefe aimoré promete vingança lhe causando o mesmo mal - matando Cecília, a filha do fidalgo.
A outra ameaça contra Cecília, mas que ninguém sabia era Loredano, um dos aventureiros sob o comando de D. Antônio, que na verdade era o frei Ângelo di Luca, sem caráter e que assassinara um homem para obter o mapa de minas de prata. Loredano tramava destruir a família do fidalgo e seus vassalos, e raptar Ceci.
Para a frustração dos planos de Loredano, aparece o índio Peri, um guerreiro da nação Goitacá. Logo na sua chegada, Peri salva Ceci de dois amoirés, e afirma a todos que fora enviado para proteger a linda moça branca. D. Antônio fica honrado com a presença de Peri, que passa a morar numa cabana ao lado da casa. A partir daí, Peri se torna responsável pela segurança de Ceci, e sua adoração por ela só aumentava.
As outras personagens importantes da história são D. Lauriana, mulher de D. Antônio; Isabel, filha bastarda do fidalgo mas apresentada por este como sua sobrinha; Aires Gomes, braço direito de D. Antônio; e Álvaro, valente cavalheiro que é apaixonado por Cecília. O sentimento de Álvaro não é correspondido - Ceci apenas o admira. Quem é apaixonada pelo rapaz é Isabel, que sofre por não ter seus sentimentos correspondidos.
Os aimorés começam um pesado ataque, e por serem mais numerosos, a vitória parece fácil. Sabendo que os aimorés são canibais, Peri, desesperado, decide tomar veneno e depois se entregar ao inimigo, planejando matar todos que comerem suas carnes. Ceci implora que ele não faça isso, e ele entra na floresta em busca do antídoto, mas é preso pelos aimorés. Álvaro então vai salvá-lo, mas é morto pelos índios. Ao ver o corpo de seu amado, Isabel suicida-se. Na fortaleza, Loredano decide que é o momento de matar D. Antônio e fugir, mas é descoberto e morto pelos outros. Quando os aimorés se aproximavam da casa, e Peri pede para salvar Ceci, fugindo com ela. D. Antônio concorda, mas Peri tinha que se tornar cristão. Depois de um batismo improvisado, o índio foge com a moça nos braços, enquanto a casa pegava fogo. Começa a chover, e os dois abrigam-se no topo de uma palmeira. Como a água subia rapidamente, Peri (provando mais uma vez ser o ancestral do Superman) arranca a palmeira do solo, fazendo uma espécie de canoa, na qual ele e Ceci flutuam na direção do infinito. É aí que o autor sugere que Peri e Ceci serão os povoadores da terra brasileira.
O livro tem caráter épico, é extenso, e é baseado na lenda do Tamandaré, na qual um índio e sua mulher povoaram o mundo depois dele ser inundado. Além disso, preserva as características românticas: índio como bom selvagem, moças puras, peripécias. O que difere é o amor existente entre Peri e Ceci: não é um amor carnal, pelo menos não durante o enredo. Peri tem adoração extrema pela moça, e ela sente por ele um carinho fraterno e imensa gratidão. Mas fica a sugestão, no final, de que eles iriam se unir para dar origem a um novo povo.
Eu recomendo O guarani, mas ele está longe de ser um de meus preferidos. Tem que ter um pouco de estômago pra aguentar os mimos de Ceci e os "super poderes" de Peri. Em uma passagem, ele entra num poço cheio de cobras, aranhas e lagartos e sai sem um arranhão. Mas no contexto do Romantismo, a gente perdoa, né?

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Minhas mães e meu pai - família moderna

Nic (a sempre ótima Annete Bening) e Jules (a sempre ótima Julianne Moore) são lésbicas, casadas há anos e mães de dois filhos, Josi (Mia Wasikowska) e Laser (Josh Hutcherson), concebidos por inseminação artificial feita em uma clínica através da doação de um total desconhecido. Ao completar 18 anos, Josi vai para a faculdade e o filme se passa nos seus últimos dias em casa. Nesse meio tempo, a pedido de Laser, Josi procura e encontra seu pai biológico, Paul (Mark Ruffalo) que vai mudar totalmente a vida da família.
Só dando esse roteiro básico já dá pra perceber que este é um filme muito moderno, uma família totalmente fora do comum, mas as crises pelas quais essa passa ao longo do filme não são tão diferentes assim.
Nic é uma médica, metódica, perfeccionista, exigente e controladora enquanto que Jules faz mais o estilo hippie, paz e amor. As cobranças e exigências de uma com relação à outra e a desgastante rotina do casamento já mostra os primeiros sinais de crise na relação desta família. Essa crise só é aumentada com a chegada do pai dos garotos. Paul aparece como um daqueles caras super legais, com um emprego legal, uma personalidade legal e, ao descobrir que Josi e Laser entraram em contanto com o pai biológico, as duas mães passam então a ter ciúmes e se sentir muito inseguras com a presença deste desconhecido. Afinal, ele pode até ser um desconhecido, mas o vínculo entre Paul, Josi e Laser é inevitável e elas temem que ele possa afastá-los delas. O intuito imediato de ambas: fazer de tudo para tirá-lo dali. É claro que as coisas não funcionam como o planejado e Paul vai se tornando uma presença cada vez mais constante na vida da família, sua aproximação, principalmente com Jules é o que dá mais ritmo ao filme, afinal, os dois passam a ter um caso amoroso e as conseqüências desse ato impensado tomado por Jules são os melhores e mais significativos momentos do filme. Claro que Jules não traiu Nic à toa, ela só estava cansada de ser sufocada pela mulher e Paul funcionou como uma válvula de escape.
Minhas mães e meu pai (The Kids are all right, 2010) é um filme interessante e bem original. O roteiro é rápido, e o filme flui numa boa. É interessante justamente por pôr em foco uma família estruturada numa relação fora do casual, mas que dá certo. Elas são lésbicas sim, e daí? A vida conjugal das duas é igual à de qualquer outro casal heterossexual. As duas riem, choram, passam bons momentos juntas, têm crises, se reconciliam, têm problemas com os filhos. Tudo normal, afinal, ser diferente é normal. Aqui não é focado o preconceito contra homossexuais, não é a intenção da diretora.
O filme também se mostra muito eficiente com relação às atuações. Mark Ruffalo está muito bem, até recebeu uma indicação ao Oscar. Mia Wasikowska (que eu já conhecia como a Alice do decepcionante Alice no país das maravilhas de Tim Burton) e Josh Hutcherson (?) também vão bem. Mas todas as atenções se voltam, logicamente, para Annete Bening e Julianne Moore. Julianne Moore é uma das minhas atrizes preferidas, e não é à toa, ela é simplesmente ótima! Ouvi muita gente reclamando sobre ela não ter sido indicada ao Oscar de Melhor Atriz desse ano, mas não sei dizer se seria o caso (ainda não conferi Jennifer Lawrence em Inverno da alma e nem Nicole Kidman em Reencontrando a felicidade). O que eu sei é que reclamaram muito por Michelle Williams ter entrado na disputa e ela não. Quanto a isso, não concordo, adoro Julianne Moore e Jules é uma ótima personagem, mas a Cindy que Michelle Williams compõe em Blue Valentine  é boa demais e se tiver que escolher, fico com Williams. Annete Bening consegue ser ainda melhor que Julianne Morre. A composição de Nic é muito boa, principalmente quando a personagem se vê totalmente insegura e perturbada pela simples idéia de que um homem que ainda é um desconhecido venha e tome o lugar que é seu naquela família. Muito bom mesmo. Indicada ao Oscar de melhor atriz era dita como uma das favoritas, mas por melhor que ela tenha aparecido aqui, a Nina que Natalie Portman viveu em Cisne Negro é imbatível.
          Ps: Coisa rara! O título dado a tradução brasileira é melhor que o título original!

por Lucas Moura

terça-feira, 19 de julho de 2011

O Tempo e o Vento - O Continente II

No segundo volume de O Continente, que começa após a morte do cap. Rodrigo Cambará, são firmadas as bases para os livros seguintes da saga, O Retrato e O Arquipélago. Para a família Terra, uma pequena tragédia: Pedro Terra perdeu sua casa por não ter pago suas dívidas ao agiota da cidade, o nordestino Aguinaldo Silva, que derrubou a casa para construir um elegante sobrado. Pedro morreu de desgosto com pouco tempo, e sua filha Bibiana prometeu recuperar a propriedade.
Também é nesse segundo volume que aparecem grandes personagens como o médico alemão Carl Winter, o padre italiano Romero, o velho capataz Fandango, e claro, os novos membros da família Terra Cambará.
A Teiniaguá: no Rio Grande do Sul há a lenda da Teiniaguá, princesa transformada em largatixa por um demônio indígena. No lugar da cabeça havia um grande rubi, e o monstro é a chave de um tesouro inestimável, por isso, no passado, vários gaúchos partiram pelo interior em busca da Teiniaguá. No livro, é a neta de Aguinaldo Silva, Luzia que é chamada de Teiniaguá, por ser bela, mas misteriosa. Luzia chega a Santa Fé depois de concluir seus estudos em Porto Alegre, e logo atrai os olhares de todos os homens do lugar, mas ela só dava atenção a dois rapazes: Florêncio Terra (filho de Juvenal) e Bolívar Cambará (filho de Bibiana), vindo a casar com o último. Bolívar e Bibiana se mudam para o Sobrado, e passam a perceber como é estranho o comportamento de Luzia, que gostava e se trancar por horas no quarto. A moça tem um filho, que recebe o nome de Licurgo. Meses após o nascimento do menino, Luzia e Bolívar vão a Porto Alegre, e enquanto estavam lá, surge uma epidemia de peste. Apesar disso, o casal permanece na cidade, deixando Bibiana bastante preocupada. Quando, enfim, retornam a Santa Fé, os Amaral decidem pôr o Sobrado em quarentena, já que os dois haviam sido expostos à peste. O dr Winter passou a fazer visitas à familia, e em uma dessas descobriu por Bolívar que o motivo da permanência deles em Porto Alegre era o prazer que Luzia sentia em ver as pessoas morrendo. Estressado com Luzia e com a quarentena, Bolívar decide enfrentar os capangas dos Amaral, e sai de casa armado. Quando tentam obrigá-lo a voltar ao Sobrado, reage e é morto a tiros.
O Sobrado V: sítio ao Sobrado
A Guerra: com a morte de Bolívar e a esquisitice de Luzia, Bibiana decide se dedicar à criação do neto, com a ajuda do padre Omero, do dr Winter, do juiz Nepomuceno e do capataz Fandango. E Licurgo cresce sob a admiração de todos, e muito parecido com o cap Rodrigo: forte, justo, divertido e querido por todos. Nessa época começa a Guerra do Paraguai, e o medo de Bibiana era que a guerra não acabasse até Bolívar ter idade de se alistar. Seu sobrinho, Florêncio, foi à guerra e voltou ferido, manco de uma perna. A guerra acaba, com o sul do país cheio de suas marcas. Luzia é diagnosticada com um tumor no estômago e agoniza lentamente até a morte, quando já não tinha sua beleza encantadora.
O Sobrado VI: sítio ao Sobrado
Ismália Caré: é o capítulo da vida adulta de Licurgo. O progresso estava chegando em Santa Fé, que foi elevada à categoria de cidade. O antigo ódio entre os Amaral e os Cambará continuava, desta vez em entre Licurgo e Alvarino, filho de Bento Amaral. Florêncio Terra, com a insistência da tia Bibiana, volta a frequentar o Sobrado, junto com seus filhos Juvenal, Maria Valeria e Alice. É pela última que Licurgo se apaixona e se casa, tendo com ela dois filhos, Toríbio e Rodrigo. Licurgo se torna partidário da causa republicana e liberta seus escravos, se tornando depois intendente da cidade, fato que culmina na revolução Federalista.
O Sobrado VII: é quando termina o cerco ao Sobrado. Quando a revolução chegou a Santa Fé, os republicanos foram pegos de surpresa, e se abrigaram no Sobrado de Licurgo, que era o intendente e chefe republicano local. Depois de dez dias comida e a água estavam escassas, Alice havia perdido a criança, que foi enterrada no porão. Nas ruas da cidade, cadáveres se amontoavam. Quando Licurgo ia se pedir uma trégua para socorrer as mulheres e crianças, as tropas do governo estavam chegando à cidade para ajudá-lo, e os federalistas haviam fugido. Mas em meio a comemoração, o velho Fandango descobre que Florêncio estava morto, e vai contar à Bibiana, que ao ouvir o uivo do vento, responde como sua avó, Ana Terra: "Está ouvindo? É o vento, é sempre o vento".

domingo, 17 de julho de 2011

O Tempo e o Vento - O Continente I

O Tempo e o Vento não é só a obra prima de Erico Veríssimo, como também um tesouro do povo gaúcho. Os três livros da saga são apresentados em sete volumes (O Continente - 2 volumes, O Retrato - 2 volumes, O Arquipélago - 3 volumes) e têm mais de duas mil páginas. É nesse bocado de livros que é contada a história gaúcha através da família Terra-Cambará, de 1745, nas missões jesuítas, até 1945, no fim do Estado Novo. É em O Continente I que estão duas das maiores personagens de Erico, Ana Terra e o cap. Rodrigo Cambará, que representam os típicos mulher e homem gaúchos: Ana, sofrida e trabalhadora, e que passa boa parte da vida a esperar, enquanto que Rodrigo é um militar que ama a vida livre, as mulheres, a música, os excessos e a guerra.
O livro começa na revolução federalista de 1893, quando o líder republicano de Santa Fé, Licurgo Cambará, está sitiado em sua casa com sua família e seus partidários. O cerco já durava dias, a comida estava se acabando e sua mulher prestes a dar à luz. A partir daí, os capítulos sobre o Sobrado de Licurgo se intercalam com os capítulos que explicam a origem de sua família. A ordem dos capítulos é:
O Sobrado I: narra parte do cerco ao Sobrado.
A Fonte: Por volta do século XVIII a chamada colônia do Sacramento, parte do atual Rio Grande do Sul, pertencia à Espanha até o Tratado de Madri (1750) que aumentou o território da parte portuguesa. Na colônia haviam missões jesuíticas, os chamados Sete Povos das Missões, comandados por sacerdotes espanhóis. É nas missões que mora o jovem Pedro, um índio órfão criado pelos padres. Quando as terras ocupadas pelas missões passaram ao domínio português, foi determinado que os jesuítas e os índios deveriam ir para o território dos espanhóis, tarefa impossível devido à quantidade de pessoas, animais e a complexidade social que havia nas missões. Os índios, então, resistiram aos portugueses e espanhóis, comandados pelo capitão índio Sepé Tiaraju. A partir daí, Pedro passou a ter visões em que Tiaraju aparecia como um guerreiro divino. Os índios acreditavam no menino porque alguma das visões se confirmaram, como  a prisão do capitão, sua fuga e a vitória de algumas batalhas. Mas apesar dos esforços dos índios, o exército dos europeus era superior, e as missões foram destruídas, e seu povo, massacrado.
O Sobrado II: narra parte do cerco ao Sobrado.
Ana Terra, papel de Glória Pires
na minissérie O Tempo e o Vento
Ana Terra: A família Terra, de Sorocaba, havia conseguido ma sesmaria no continente do Rio Grande, e para lá se mudou, erguendo um pequeno rancho. Maneco Terra, sua mulher Henriqueta e os filhos Antônio, Horácio e Ana trabalhavam de sol a sol, isolados em suas terras, vulneráveis a perigos como ataque de bandidos, principalmente castelhanos. A vida dos Terra mudou quando um índio apareceu em suas terras, ferido. Eles cuidaram do índio, que após recuperado trabalhou para eles e foi conquistando a confiança da família, até que engravida Ana e é morto pelos irmãos dela. Ana tem seu filho e lhe dá o nome de Pedro. Os anos passam, o menino cresce e as poucos a felicidade volta ao rancho, até que todos os homens da família morrem num ataque de castelhanos, sobrevivendo apenas Ana, Pedro, a mulher e a filha de Antônio, que se mudam para um povoado chamado Santa Fé, fundado por um certo Ricardo Amaral, onde se torna parteira. Pedro cresce, e vai para uma das muitas guerras com os castelhanos, mas volta vivo, se casa e tem dois filhos, Juvenal e Bibiana. É de Ana Terra a frase que muito se repete na saga: "noite de vento, noite dos mortos"
O Sobrado III: narra parte do cerco ao Sobrado.
Tarcísio Meira como o cap Rodrigo,
na minissérie da rede Globo
Um certo Capitão Rodrigo: Anos depois da morte de Ana Terra, quem mandava em Santa Fé era a terceira geração dos Amaral, o coronel Ricardo Amaral Neto. Seu filho, Bento, era apaixonado por Bibiana Terra, neta de Ana. Mas a chegada do misterioso capitão Rodrigo Cambará atrapalha seus planos. Animado e espalhafatoso, Rodrigo vinha conquistando a simpatia de muita gente na cidade, inclusive de Juvenal, irmão de Bibiana. Depois de um duelo com Bento, em que quase saiu morto, Rodrigo consegue se casar com Bibiana, a contragosto do pai da moça. O que inicialmente era um casamento feliz foi se tornando difícil, pois Rodrigo começou a enjoar da vida sedentária, se entregando ao jogo, a álcool e às amantes. Com o nascimento de Bolívar, o primeiro filho do casal, seu comportamento melhora, mas por pouco tempo. Bibiana ficou grávida novamente, mas a menina morreu ainda criança. Quando estoura a revolução Farroupilha, Rodrigo, que era amigo pessoal do general Bento Gonçalves, apresenta-se às tropas rebeldes, e é ele quem comanda o ataque à Santa Fé, já que a família Amaral estava ao lado do governo. Antes do ataque ele visita Bibiana, que tinha ficado em casa mesmo com a ameaça da invasão, e havia mandado os filhos para a casa paroquial. Rodrigo manda Bibiana fazer comida e lhe prometeu que voltaria para casa ao amanhecer, após invadir o casarão Amaral. O capitão invade a casa, mata o velho Ricardo Amaral Neto, mas é morto pelos legalistas. Bento Amaral consegue fugir. Rodrigo deixa uma viúva, dois filhos e centenas de amigos no povoado onde era tão querido.
O Sobrado IV: narra parte do cerco ao Sobrado.




quinta-feira, 14 de julho de 2011

Vicky Cristina Barcelona - um dos filmes mais envolventes de Woody Allen

Primeiramente, vamos às apresentações básicas. Sou Lucas Moura, 18 anos, cinéfilo, atualmente desocupado, e amigo do mais desocupado ainda dono deste blog e resolvi fazer pequenas participações aqui falando sobre meu hobbie: cinema! Então, de tempos em tempos pretendo aparecer aqui fazendo comentários, positivos ou não, sobre filmes dos mais diversos gêneros e épocas. De Casablanca a O hóspede quer bananas, nada será perdoado! Hehe
Então é isso, o filme escolhido para ser minha primeira postagem é o maravilhoso Vicky Cristina Barcelona (2008) do meu diretor preferido, Woody Allen. Ao analisar a possibilidade de postar algo sobre cinema nesse espaço não pensei duas vezes em escolher algum filme de Woody e como tinha visto recentemente (e gostado ainda mais que da primeira vez, diga-se de passagem) Vicky Cristina Barcelona resolvi falar sobre ele.
Primeiro vamos a um resumo básico do enredo do filme. Vicky e Cristina são duas amigas que decidem passar uns tempos na cidade de Barcelona. Vicky vai à cidade com o intuito de estudar para sua tese sobre identidade catalã está noiva de um homem de negócios bem sucedido que dá a estabilidade que, teoricamente, ela sempre procurou no seu conceito do que seria o amor. Cristina é passional, tem um ponto de vista amoroso totalmente diferente de Vicky, e não teme sair magoada de uma relação se durante o tempo que ela durar valer a pena. Não sabe o que quer, só sabe o que não quer.
Durante um jantar, após passeios turísticos pela cidade, as duas conhecem o sedutor Juan Antonio que as convida a passar um final de semana de vinho, música e sexo (é, ele é meio direto) na vila de Oviedo. Vicky não mostra nenhum interesse, diferente de Cristina. Em Oviedo, após Cristina ficar doente, Vicky e Juan Antonio saem para passear pela cidade, um vinhozinho aqui..uma musiquinha espanhola ali..enfim, acho que vocês já entenderam. Voltando a Barcelona, parece que tudo voltou ao normal. O noivo de Vicky chega a cidade e Cristina passa a ter um relacionamento firme com Juan Antonio. As coisas parecem seguir pelo caminho certo, mas as experiências vividas por Vicky em Oviedo e a aparição de seu noivo e da impulsiva Maria Helena dão um novo rumo ao filme.

Vicky Cristina é um filme sobre o choque de cultura no qual duas mulheres se vêem envolvidas por um espanhol sedutor. Juan Antonio é o oposto daquilo que Vicky procurava no amor, mas depois de Oviedo ela se sente cada vez mais atraída por ele (chegando a procurá-lo, desastrosamente, nos momentos finais do filme), mas seus valores morais tão enraizados não permitem que ela viva o que Cristina está vivendo: uma relação amorosa plena, livre e totalmente não casual com Juan Antonio. Nas palavras de Vicky: “nunca tive a coragem de Cristina”, coragem capaz de romper tabus sexuais a ponto da relação entre ela e Juan Antonio ter mais uma terceira pessoa, a explosiva Maria Helena, ex- mulher de Juan Antonio, pintora e totalmente desequilibrada psicologicamente. Os dois se amam muito, mas tinham uma relação altamente destrutiva e Cristina aparece como um elemento de equilíbrio na relação. Em termos mais diretos, o ménage dá certo. Eles vivem felizes, Cristina aprende sobre amor e arte, Maria Helena está em paz, tudo vai bem. A estabilidade dessa relação é tão frágil que a saída de Cristina, com sua personalidade confusa e incerta é difícil se manter parada em uma relação, Maria Helena e Juan Antonio voltam a se desentender (causando o pequeno desastre no final).
Acho que a intenção de Woody nesse filme foi mostrar a questão da moralidade e de como agimos quando tudo aquilo em que acreditamos se encontra em cheque depois de algo que muda nossas vidas. O filme também fala sobre o amor, sobre a liberdade nos relacionamentos e, como não poderias faltar em um filme de Woody Allen, sobre as incertezas e confusões da mente do homem moderno. Em alguns momentos, sobretudo o relacionamento triplo e a personagem de Maria Helena, me lembrou Almodóvar.
Quanto às atuações, ótimas como eram de se esperar. Rebecca Hall dá o tom perfeito para a moralista Vicky, dando aquele ar de quem luta contra seus próprios sentimentos. Muito se fala sobre Penélope e Scarlett, mas Rebecca não fica atrás de nenhuma das duas, muito pelo contrário, as atuações aqui são todas do mesmo nível, e bem alto por sinal. Em Scarlett Johansson, atual musa de Allen, Cristina caiu como uma luva. Parabéns também para o sempre competente Javier Bardem. Outro papel menor porém decisivo que me chamou muito a atenção foi o de Patricia Clarkson que vive a anfitriã e parente de Cristina que hospeda as amigas na cidade. Ela é o que Vicky será se continuar com seu plano de vida sem graça: triste, solitária, entediada. Ama o marido mas não está apaixonada por ele há anos. Sua tentativa de ajudar a amiga a viver uma vida diferente da sua terá conseqüências no final do filme (que eu não quero revelar!). não vamos esquecer, é claro, da vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante, Penelope Cruz que dá forma a Maria Helena, minha personagem preferida do filme. Para mim soou como um daqueles casos de “não consigo ver outra pessoa nesse papel!”, ficou totalmente perfeito e seu Oscar foi merecidíssimo. 

Cinema!

Bom, como vocês devem ter percebido, das três palavras do blog (ler, assistir, ouvir) o assistir anda meio fraco por aqui. E confesso, não tenho com filmes a mesma intimidade que tenho com livros. Aí o meu amigo temporariamente desocupado Lucas, que tem um conhecimento vasto sobre cinema vai fazer uns posts sobre grandes filmes, uns recentes, outros antigos que se tornaram clássicos. Ainda hoje tem post dele sobre o filme Vicky Cristina Barcelona, de Woody Allen.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

501 Grandes Escritores

Há uns anos atrás uma americana escreveu 1000 lugares para conhecer antes de morrer, e o livro virou best-seller. A partir de então, fizeram livros de 1001 tudo. 1001 filmes, discos, vinhos, comidas, livros, invenções. E também escreveram 501 escritores, artistas, crimes, etc. São guias que valem a pena pra quem quer saber mais sobre cada tema, e apresentados de um jeito bem bacana. Deles, posso opinar sobre o 501 Grandes Escritores, que ganhei esse ano. Gostei bastante, ele abrange nomes famosos de Homero até os contemporâneos, passando por Platão, Virgílio, Santo Agostinho, Dante, Bocaccio, Erasmo de Roterdã, Camões, Cervantes, Shakespeare, Voltaire, Rousseau, Goethe, Heine, Victor Hugo, Edgar Allan Poe, Dickens, Flaubert, Dostoiévski, Tolstói, Proust, Kafka, James Joyce, Fernando Pessoa, Agatha Christie, Neruda, Sartre, Simone de Beauvoir, Camus, Saramago, García Márquez, Vargas Llosa, Stephen King e J.K. Rowling. 
Dentre os 501, apenas três brasileiros: Machado de Assis, Jorge Amado e Paulo Coelho. Por isso a edição brasileira traz um apêndice com outros 24 de nossos escritores. É aí que a gente se pergunta: por quê só três brasileiros? E pior, por quê Paulo Coelho? Vou explicar direito minha indignação.
1. Machado de Assis: merecido, aliás, merecidíssimo. Machado, quando não é chamado de maior escritor brasileiro, fica com a segunda posição (atrás do nosso amigo Guimarães Rosa). A própria história pessoal dele é digna de admiração: pobre, neto de escravos, trabalhou desde jovem. Mas a sorte lhe sorriu, e o fez autodidata. Machado trabalhou como jornalista e depois ingressou no serviço público, onde teve carreira meteórica. Depois de escrever livros de características românticas, Machado inaugurou o Realismo no Brasil em 1881 com Memórias Póstumas de Brás Cubas. Fundou e foi o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras. Com seus livros realistas, foi o primeiro brasileiro a escrever literatura universal, e foi quem colocou a literatura brasileira no mapa. Machado de Assis faleceu em 1908, ano em que escreveu seu último livro, Memorial de Aires, onde deixa evidente a tristeza e a saudade provocada por sua esposa, Carolina, falecida anos antes.
2. Jorge Amado: claro que merece, afinal é o segundo brasileiro que mais vendeu livros em todos os tempos. Baiano de Itabuna, imortalizou os diferentes tipos da Bahia em suas muitas obras. Trabalhou como jornalista, foi comunista (assim como os outros escritores de sua geração, a 2ª fase modernista), escreveu livros de cunho esquerdista, chegando a ter exemplares queimados em praça pública. A partir dos anos 50, passou a escrever romances sobre o cotidiano urbano, retratando com humor a sociedade baiana. Na década de 60 chegou a ser indicado ao Nobel de Literatura por Dona Flor e seus dois maridos. Foi o escritor com mais obras adaptadas para o teatro, cinema e televisão. Membro da Academia Brasileira de Letras, quando faleceu em 2001, teve sua vaga ocupada por sua mulher, a também escritora Zélia Gattai.
3. Paulo Coelho: não posso falar muito, já que a péssima fama do cara fez com que eu não tivesse vontade alguma de lê-lo. O cara é acusado de escrever mal, plagiar, enfim. Além de escrever um livro chamado Na margem do rio Piedra eu sentei e chorei - quem diabos dá um título desses a um livro? Mas minha intenção não é (só) falar mal de Paulo Coelho, e sim apontar quem deveria estar no lugar dele: Guimarães Rosa. E não é coisa de fã, é pra fazer justiça mesmo. Guimarães foi um dos maiores nomes da literatura universal no século XX,  e um dos reinventores da prosa (post sobre Guimarães aqui).
Até dá pra perdoar o erro, já que o livro é estrangeiro. Mas engrandecer Paulo Coelho desse jeito... é pra perder a paciência. Sacanagem não só com Guimarães Rosa, mas com os vários (e verdadeiros) gigantes da literatura nacional como José de Alencar, Aluízio de Azevedo, Lima Barreto, Mário de Andrade, José Lins do Rêgo, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, Drummond de Andrade, Erico Verissimo e Clarice Lispector.

domingo, 10 de julho de 2011

Valerie

Faltou no post de ontem, então compenso hoje. Valerie apareceu no cd bônus do Back to black - deluxe edition, e é uma das músicas preferidas dos fãs - me incluo nesse grupo.

"Stop making a fool out of me
Why don't you come on over, Valerie?"

sábado, 9 de julho de 2011

Amy Winehouse

Há um bom tempo, eu tava assistindo TV e passou algo sobre Amy Winehouse. Na época eu não sabia nada dela, aí recorri ao bom e velho Youtube, e gostei das músicas que ouvi. Aí procurei os cds, baixei, e virei fã dessa doida que com sua voz e estilo único conquistou o mundo da música.
E quando se fala na combinação de talento e vocação pra escândalo, tem alguém melhor que Amy? No, no, no. Com 27 anos de idade, a britânica é destaque na mídia por sua música e por seu envolvimento com as drogas, que tanto atrapalharam sua carreira.
Amy toca guitarra desde os 13 anos, e com 16 já cantava profissionalmente em pubs londrinos. Foi descoberta por um produtor que achou sua voz ideal para cantar jazz e blues, e assinou um contrato com a Island Records, com a qual lançou seu primeiro cd, Frank, em 2003. Todas as músicas foram compostas por Amy, e o álbum foi bem recebido por crítica e público.
´Mas foi em 2006 que ganhou projeção internacional com seu segundo cd, Back to black. Com cinco milhões de cópias vendidas em um ano, foi o cd mais vendido de 2007 (até o ano passado já eram treze milhões de cópias), e rendeu a Amy seis indicações ao Grammy 2008, das quais ela venceu cinco: Canção do Ano (Rehab), Gravação do Ano, Artista Revelação, Melhor Álbum Vocal Pop, Melhor Performance Vocal Pop Feminina. No ano seguinte foi lançado Back to black - Deluxe edition, um cd duplo que além do disco lançado anteriormente traz um cd bônus (entre as músicas deste, o sucesso Valerie).
Ainda em 2007 Amy se casou, o que só piorou seu antigo problema com drogas, pois o marido, também viciado, foi preso. A partir de 2008 se tornaram comuns escândalos envolvendo a cantora, que apareceu em shows bêbada, foi vista usando crack e chegou a agredir fãs. Amy parou de fazer shows, e sua música Rehab passou a ser tema de sua vida, segundo a imprensa. Na cerimônia do Grammy de 2008 ela não pôde comparecer - o governo americano vetou a viagem de Amy ao país por considerá-la péssima influência.
Em 2010, um pouco recuperada do vício - o suficiente pra poder cantar novamente - Amy voltou aos palcos, anunciando, inclusive, uma turnê no Brasil, que ocorreu em janeiro de 2011 (até hoje lamento por não ter ido). Mas como era esperado, a cantora chamou a atenção por cantar bêbada e abandonar o show em Florianópolis, e foi flagrada fumando crack no Rio de Janeiro.
Recomendo (muito, muito,muito) os cds de Amy, principalmente o Back to black - deluxe edition, aí você pode ouvir grandes sucessos como Rehab, Back to black, Tears dry on their own e Valerie.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Zoya

Zoya foi escrito por Danielle Steel. Então não preciso dizer que é bonito. O bacana é que consegue ser bonito mesmo com tanta tristeza - a história é cheia de altos e baixos, e são as reações da protagonista que tornam o livro tão bonito.
Na Rússia de 1917, vivia uma menina de dezoito anos chamada Zoya Ossupov. Mas não era uma menina comum: seu pai era conde e primo do czar Nicolau II. A família de Zoya vivia num palacete e tinha uma vida luxuosa. Mas 1917 não era um bom ano na Rússia, especialmente pra quem tinha sangue sobre, pois estourou a primeira revolução socialista do mundo. Em meio às revoltas populares, o pai e o irmão de Zoya morreram, e quando ela fugia de sua casa, sua mãe morreu num incêndio, restando a ela apenas a avó e o velho empregado da família, Feodor. Depois de passar uma semana junto à família imperial, eles fogem para Paris, onde as condições de vida estavam difíceis por causa da Primeira Guerra. Com poucos meses na capital francesa, Zoya perde a avó e Feodor, e quase morre de fome e desgosto até conhecer o capitão do exército americano Clayton Andrews, por quem se apaixona, casando-se com ele e mudando-se para Nova York.
Andrews investia na bolsa de valores, o que garantiu ao casal e aos seus dois filhos, Nicolau e Sasha uma vida bastante confortável, até que, em 1929, houve a queda da bolsa, que acabou com várias empresas e milhões de empregos. Falido, o capitão morre de um ataque cardíaco. Zoya e seus filhos mudam-se para um apartamento modesto e ela arruma um emprego noturno, que abandona quando um incêndio destruiu quase todos seus pertences e quase matou as crianças.
Então Zoya resolve fazer valer o seu título de condessa e consegue um emprego numa das mais caras grifes de NY, onde se destaca junto à patroa, chegando a ser convidada para viagens à Europa para assistir desfiles nas principais cidades da moda. Numa dessas viagens Zoya conhece o milionário da indústria têxtil Simon Hirsch, com quem se casa e tem um novo filho, Mateus.
Em 1939 começou a Segunda Guerra Mundial, na qual os EUA entraram em 1941. Simon decidiu se voluntariar e foi morto em combate. Novamente viúva, Zoya decidiu se dedicar aos negócios, principalmente à sua loja de departamentos, Condessa Zoya. Com o passar do tempo ela se envolve com o advogado Paul Kelly, mas não oficializa o romance. Outra tragédia marca a vida de Zoya: a morte de Sasha, com apenas 21 anos, que deixa uma filha, Zoe.
Zoya é uma história de esperança. Mesmo após sucessivas tragédias, a protagonista consegue se reerguer, e encontrar motivos para viver. Ao final do livro, ela resolve viajar à Russia pela primeira vez depois da Revolução com sua neta Zoe, e relembrar sua querida infância.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Sagarana - parte 2

JG em excursão ao Cerrado
Já falei um bocado sobre Sagarana, mas como seus nove contos são bem distintos, vale a pena falar um pouco sobre cada um.
1. O burrinho pedrês:  conto focado no burrinho Sete-de-ouros, velho mas muito estimado por seu dono, um grande fazendeiro. Guimarães atribui ao burrinho grande sabedoria - a atribuição de sentimentos humanos a animais se repete em outros contos. Na história é narrado o afogamento de um grupo de vaqueiros que transportavam centenas de cabeças de gado. Na volta para casa, muitos estavam bêbados, e ao atravessarem um rio que transbordara, foram arrastados pela correnteza. Os únicos sobreviventes foram Sete-de-ouros e dois vaqueiros que se agarraram a ele.
2. A volta do marido pródigo: conto bastante divertido, que conta a história de um certo Lalino (Eulálio), um malandro que vivia enganando a todos. Quando decidiu botar o pé no mundo, enganou o patrão e "vendeu" a esposa para um espanhol, partindo para o Rio de Janeiro com os bolsos cheios. Meses depois, cansado da farra e sem dinheiro, voltou à sua terra, conseguindo o emprego de cabo eleitoral de um poderoso fazendeiro. Com sua lábia e a proteção do político, conseguiu expulsar os espanhóis da cidade e recuperar sua mulher.
3. Sarapalha: conto sem graça, até o autor achava isso. Narra a vida de dois primos, Argemiro e Ribeiro, num sítio isolado, num lugar devastado pela maleita (malária). Para lhes fazer companhia havia apenas o cão Jiló e a negra surda Conceição. Ribeiro, além da doença, sofre pela mulher que o abandonara. Numa das crises do primo, Argemiro revela que era apaixonado pela mulher dele, e por isso fora morar no sítio. Sentindo-se traído, Ribeiro expulsa Argemiro, que morre na estrada durante um ataque da malária.
4. Duelo: ao descobrir que sua mulher Silivana o traía, o pescador Turibio Todo decidiu matar o amante, o soldado Cassiano Gomes. Mas em vez do policial, Turíbio matou o irmão dele, Levindo, e fugiu pelo sertão. Jurando vingança, Cassiano partiu em busca do assassino, mas nunca o encontrou. Doente, Cassiano busca descanso em um povoado, onde dá dinheiro para salvar a vida de uma pobre criança do local, e conta sua história a pai do menino, Timpim. Cassiano morre, e ao final do conto Timpim conhece Turíbio e o mata, vingando Cassiano.
5. Minha gente: história em que um jovem médico que vai passar uns tempos na casa do tio, Emílio, se apaixona pela prima, Maria Irma, que resiste às suas investidas. O narrador fica com o tio, que estava envolvido em política, até as eleições, onde ele sai vitorioso. Ele vai embora, mas depois volta, tentando novamente conquistar o amor da prima, que o apresenta a amiga Amanda, e eles se casam três meses depois. Aí é revelada a intenção de Maria Irma: ela casou o primo para ficar com o ex-noivo de Amanda, Ramiro, por quem sempre fora apaixonada.
6. São Marcos: o médico José, mesmo supersticioso, não acredita em feitiçaria, e por isso zomba do feiticeiro João Mangolô. Num dia em que José andava pelo mato, admirando a flora sertaneja, Mangolô se vinga cegando o médico através de magia. Irado, José profere a "reza de São Marcos", e mesmo sem enxergar, corre decidido numa direção: a da casa do velho bruxo. Quando chega lá, começa a esganá-lo, e nesse momento sua visão é devolvida.
7. Corpo fechado: é outro conto que destaca o misticismo. Mané Fulô, contador de causos, estava num bar conversando com certo doutor, quando um dos valentões da cidade, Targino, diz que no dia seguinte dormiria com sua noiva, Maria das Dores. Os parentes e amigos de Fulô pedem ajuda ao feiticeiro Toniquinho, que promete "fechar o corpo" de Fulô (imunizá-lo contra qualquer mal) em troca da mula Beija-Flor. Por gostar muito da mula, o rapaz se nega, mas acaba aceitando. No outro dia, Targino não conseguiu fazer-lhe mal algum, e Mané o matou com uma pequena faca. Mané Fulô entrega a mula a Toniquinho, mas nos finais de semana pega o animal emprestado, devido ao enorme carinho que sente por ele.
8. Conversa de bois: outra vez Guimarães atribui qualidades humanas a animais. No conto, de caráter fabulista, o carreiro Agenor Soronho está num carro puxado por oito bois e guiado pelo menino Tiãozinho. O carro transportava o corpo do pai do menino para a cidade vizinha, morto na véspera. Para piorar a tristeza de Tiãozinho, Agenor era amante de sua mãe, e prometia maltratá-lo agora que o garoto estava órfão. Apiedados de Tiãozinho, os bois decidem matar o carreiro, derrubando-o do carro e degolando-o, para evitar o sofrimento do menino.
9. A hora e a vez de Augusto Matraga: um dos contos mais populares, já foi adaptado para o cinema duas vezes. Augusto Matraga era o rico valentão da cidade, mas sua vida virou ao avesso quando sua mulher e sua filha fugiram e seus capangas o traíram, dando uma surra nele e o deixando como morto num precipício. Matraga sobrevive por um milagre e se recupera com a ajuda de um casal de velhos que o acolhe. Depois da visita de um padre, decidiu sair em busca da salvação de sua alma, e parte com os velhos. Num povoado distante, encontra um sítio abandonado, onde passa a trabalhar de sol a sol, na esperança de esquecer seu passado. É perto do sítio que Augusto conhece o bando de jagunços de Seu Joãozinho Bem-Bem, que se torna seu amigo e o convida a entrar no bando, proposta que é recusada. Matraga reencontra o jagunço tempos depois, quando este ia destruir um povoado. Matraga intercede pelo lugarejo, e como Joãozinho Bem-Bem insiste na violência, os dois brigam e acabam matando um ao outro. Augusto Matraga abençoa a filha e morre feliz por ter sua hora e sua vez.