quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Luiz Gonzaga - rei do baião, caboclo feliz

"Eu sou um caboclo feliz. Se eu nascesse de novo, eu queria ser o mesmo mané Luiz. Se eu nascesse de novo e pudesse escolher, mais do que eu sou não queria ser. Eu queria nascer na fazenda da Caiçara, lá em Exu, Pernambuco, bem na divisinha com o Ceará. É por isso que eu costumo dizer que uma banda minha é pernambucana e a outra banda é cearense. Quando eu ficasse taludinho assim eu queria logo comprar uma sanfona pra ajudar meu pai nos toque, lá nos forró. Eu queria era ser fio de Januário mesmo e de dona Santana! Mais do que eu sou não queria ser, não sinhô. Se eu nascesse de novo e pudesse escolher, rá!, quando chegasse 1930 eu entrava no colégio... 18 anos de idade... colégio do pobre é o Exército brasileiro; sentava praça. Haha! Fazia revolução como o diabo, não dava nem um tiro. Eita Brasil bom danado! Ah, eu queria ser o rei do baião, mas não era mole não, meu irmão. Quando eu chegasse no Rio em 39 eu ia tocar na zona violenta, da pesada, lá no mangue. Correndo pilo nos gringo. Queria ser tudo isso. Oxente, eu queria ser o rei do baião... até que uma certa noite chegasse lá assim um grupo de cearenses, diziam que eram universitários - sei lá o que era isso! - era estudante mesmo. Depois de me agradarem muito fizeram exigência: 'Olha caboclo, quando a gente voltar aqui outra vez nesse lugar, nós só damos dinheiro a você se você tocar um negócio lá daqueles pé-de-serra. Você não é sertanejo? Você não é da serra do Araripe?' Eu digo: sou. 'Tá feita a exigência'. Ai eu fiz uma recapitulação, organizei e fiz como entrei tocando aqui agora o vira e mexe. É, foi o primeiro! Quando os cearenses chegaram eu disse pra eles: olha, tenho um negocinho aqui pra empurrar em vocês! 'Então manda!' Lasquei brasa. 'É isso aí, caboclo!' Naquele tempo era caboclo, agora é bicho. 'É isso mesmo! Agora você pode até visitar nossa república'. Eu: diabo é isso? 'É uma república lá na Lapa, lá é que é pesada mesmo, só de cearense. E você tá convidado de ir lá tocar pra nós'. Eu fui, tava agradando. Fui conhecer a república dos cearenses. Quando eu cheguei lá era a maior bagunça do mundo. Já viu? República de estudante, ainda mais cearense (...) E se eu nascesse de novo e pudesse escolher, quando chegasse o dia... 24 hoje, né? 24 de março de 1972, a essa horinha mermim, 'cês querem saber onde que eu queria estar? Era aqui. Com vocês, no Teatro Tereza Raquel, enrolando vocês na conversa, contando essa história (...) vai boiadeiro que a noite já vem, pega o teu gado e vai pra junto do teu bem!"

(Trecho do cd "Luiz Gonzaga volta pra curtir", gravado em 1972 no Teatro Tereza Raquel, RJ)


Luís F. Passos

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