sexta-feira, 18 de abril de 2014

Filmes pro final de semana - 18/04

1. Antes do inverno (Avant l'hiver, 2012)
 Uma série de buquês de rosas vermelhas entregues na casa, no consultório e no hospital em que o Paul (Daniel Auteuil), respeitado neurocirurgião trabalha levanta um mistério na família do médico. Casado há trinta anos com Lucie (Kristin S. Thomas), ele se vê envolvido com Lou (Leila Bekhti), paciente de muitos anos atrás que está visivelmente interessada nele. Pra piorar, seu casamento está degastado e ele percebe que ele a esposa eram dois estranhos dormindo juntos. O aparecimento das flores e de Lou parece ser a oportunidade de revelar fantasmas do passado, no difícil momento que é a chegada da velhice. É hora então de pôr em prova os velhos laços afetivos, incluindo a amizade com Gérard (Richard Berry), velho amigo do casal, e os próprios filhos. Mais um grande título do cinema francês e outro trabalho ótimo de Kristin Scott Thomas.
Nota: 8,5/ 10
2. O segredo de Brokeback Mountain (Brokeback Mountain, 2005)
Por mais que já tivesse ouvido mil elogios ou o quão injusta foi a vitória de Crash no Oscar de 2005, me surpreendi com a qualidade de Brokeback Mountain. Um filme muito sólido, emocionante e nem um pouco apelativo. A história do amor proibido dos cowboys Ennis Del Mar (Heath Ledger) e Jack Twist (Jake Gyllenhaal) se passa nos anos 60, a partir do primeiro contato, quando foram contratados para tomar conta de um rebanho nos arredores de uma montanha. O tempo passa, ambos constituem família em suas respectivas cidades, se reencontrando raras vezes mas mantendo o sentimento que os uniu. Sentimento transmitido pelas grandes atuações dos protagonistas, em especial Heath Ledger, que se mostrou uma revelação. Tímido e introspectivo, Ennis Del Mar esconde seus sentimentos por trás de uma carapaça de músculos e brutalidade. Tudo isso apresentado como um western pra John Ford ou Sergio Leone nenhum botar defeito - a não ser que eles não deixassem de lado alguns preconceitos.
Nota: 9,5/ 10
3. O Leopardo (Il Gattopardo, 1963)
Eu tava planejando um especial de filmes antigos que receberam restaurações incríveis pra esse mês, mas não deu pra fazer por enquanto. Um dos escolhidos era O leopardo, um dos épicos italianos mais conhecidos e aclamados pelo mundo. Centrado no príncipe italiano Fabrizio di Salina, conhecido como Il Gattopardo, a trama acontece na Sicília dos anos 1860, em meio à luta de Garibaldi pela Reunificação Italiana. O que se vê é uma verdadeira transformação na sociedade, já que várias pequenas monarquias deram lugar à uma grande monarquia onde a burguesia sobrepujava a nobreza. Essa mudança é vista a partir de Tancredi Falconeri (Alan Delon), rico comerciante que de repende se torna figura de prestígio e cuja filha (Claudia Cardinale) se torna el de ligação com a família Salina. Ao longo de três horas de filme o espectador se delicia com uma história monumental e inesquecível que ficou ainda melhor com sua perfeita restauração.
Nota: 10
4. All that Jazz (1979)
Se tem um diretor que me surpreendeu, esse cara é Bob Fosse. O ex-coreógrafo  que logo em sua estreia derrotou ninguém menos que Francis Ford Coppola no Oscar de direção de 1972 é o responsável por dois dos melhores musicais que já vi, Cabaret e All that Jazz. Este último, uma versão descontraída e politicamente incorreta de 8 1/2 de Fellini, acompanha o renomado coreógrafo Joe Gideon (Roy Scheider) atravessando uma crise de criatividade enquanto tenta criar um novo show, ao mesmo tempo em que começa a sentir dores no peito - e claro, as ignora, tomando doses e mais doses e whisky e pílulas de anfetamina. Joe, alter-ego de Fosse, rouba a cena nesse vibrante e imaginativo filme, seja bolando coreografias, gritando com toda sua equipe ou flertando com todas as mulheres que vê, até mesmo numa mesa de cirurgia. Tão inesquecível quanto o épico Apocalypse now, do mesmo ano, All that Jazz também foi ofuscado na premiação por Krammer vs Krammer, mas ainda hoje persiste como um dos mais criativos filmes dos anos 70.
Nota: 10
5. Morangos Silvestres (Smultronstället, 1957)
Um dos melhores e mais conhecidos filmes de Ingmar Bergman também é um dos mais influentes. Em filmes como Desconstruindo Harry de Woody Allen podemos ver traços da imortal história de um médico e professor universitário, Isak Borg (Victor Sjöström), que viaja de Estocolmo a sua cidade natal de carro para receber uma homenagem. Um dia na estrada junto de sua nora e uns jovens caroneiros fazem o velho Isak relembrar sua juventude, seu amor por uma prima e pensar em sua vida, mergulhada no trabalho, cheia de decepções, além de pensar na própria mortalidade - tema que inicia o filme, quando Isak tem um sonho sombrio. Coroado no Festival de Berlim com Urso de Ouro (melhor filme) e prêmio de melhor ator para Sjöström, Morangos Silvestres permanece atual e vivo entre sua enorme legião de fãs.
Nota: 10

Luís F. Passos

terça-feira, 8 de abril de 2014

A Árvore da Vida - genial ou prepotente?

De tanto falar de Melancolia (2011) aqui no blog acabei falando algumas vezes da polêmica criada por Lars von Trier em Cannes em seu lançamento, na consequente expulsão do diretor do festival e na talvez consequente vitória de A Árvore da Vida, que faturou a Palma de Ouro. Mas hoje vou tentar ao máximo evitar esse assunto, já que sou muito suspeito pra falar dele pois Melancolia ainda é meu filme favorito, e me prender ao filme de Terrence Malick.
A Árvore da Vida muito resumidamente traz Jack (Sean Penn), um homem de meia-idade que provavelmente é empresário provavelmente lembrando sua infância no seio de uma família conservadora liderada por um pai rígido (Bradd Pitt), que demonstrava o imenso amor que tinha pela esposa e pelos três filhos de um jeito que ele achava certíssimo - opinião completamente diferente da de  Jack, que era o mais velho. A ideia de "o homem da casa", ao lado de comportamento estritamente católico, visto por todos como exemplo de pai de família, traz consigo a figura autoritária e quase despótica, que é a mais forte e traumática lembrança da infância do primogênito.
Mallick traz aqui imagens lindas, numa fotografia de tirar o fôlego, acompanhando o crescimento de Jack e seus irmãos. Mas aí vem o início do problema. As imagens são uma coisa soberba, mas falta elos entre cenas - se é que se pode chamar de cenas. É quase uma bagunça. Mas bagunçado mesmo parece o corte aos 17 minutos de filme, quando é mostrado (supostamente) o big bang, surgimento da Terra, asteroides caindo às centenas no planeta, o esfriamento deste e consequente surgimento das primeiras moléculas, células e depois primeiros seres pluricelulares, os primeiros animais terrestres, dinossauros... enfim, o que me levanta a dúvida se tô vendo um filme ou documentário da BBC que a Globo ama exibir. Acontece que há a proposta de se incluir muitos temas no filme, mas todos são tratados com excessiva superficialidade, exceto talvez a relação entre Jack e o pai. Porque boa parte das duas horas do longa são árvores a partir de câmeras que giram, a leveza de tecidos esvoaçando ao vento, a mãe (Jessica Chastain) e seus filhos rodopiando na grama (que parece ser uma fixação constante na obra do diretor) e outras coisas que o deixam etéreo e tiram a paciência de boa parte dos que o viram. Claro, muitos o adoraram, viram nele reflexões sobre a vida, infância, a condição humana dentro do universo... mas francamente, é difícil ver assim logo de cara. Isso porque A Árvore da Vida (The Tree of Life, 2011) não tem consistência suficiente para tanto. Pra mim ele é demasiadamente pretensioso, muito vago e não chega a lugar nenhum, porque nem mesmo o Jack adulto vivido por Sean Penn é consistente; apenas a tristeza e o cansaço são aparentes em seu rosto.
Mas nem tudo é deficiente no filme. Além da fotografia extraordinária, Bradd Pitt faz um ótimo trabalho, dentro das limitações da personagem, e Jessica Chastain foi lançada depois desse filme - estrelando, um ano depois, A hora mais escura, pelo qual foi indicada a melhor atriz no Oscar.
E respondendo à pergunta do subtítulo: o filme é prepotente. Mais parece alguém tentando abraçar o mundo com as pernas e falar de tudo... sem chegar a nada.

Nota: 6,0/ 10

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Luís F. Passos