domingo, 27 de novembro de 2016

Elizabeth - a mulher e a coroa


Filme que relata o período inicial do reinado de 40 anos de Elizabeth I numa Inglaterra ainda dividida entre duas crenças. Entre católicos e protestantes, a morte da rainha inglesa Mary (católica) culminou com a ascensão de sua irmã bastarda Elizabeth, filha de seu pai com Ana Bolena. Protestante, Elizabeth não teve grande apoio ao início do seu reinado e este filme de 1998 retrata com firmeza os altos e baixos da época.

E não foram poucos. Até poder reinar absoluta, Elizabeth I (vivida por Cate Blanchett) teve que superar tudo e todos. Uma irmã que a desprezava, inseguranças pessoais, o peso da coroa, reinos inimigos a poderosa e enraivecida igreja católica, uma corte dividida entre apoiadores e aqueles dispostos a vê-la cair e a pressão para se casar, perpetuando, assim o instável trono. Traições e amores também marcaram seu caminho par alcançar a “Era do Ouro”.

Elizabeth (1998) acerta, então, tanto como um estudo para os mais interessados em história, por trazer a mais conhecida versão de uma mulher tão importante para a história mundial, mas também nos apresenta um minucioso estudo de personagem, indo além da rainha Elizabeth I e se aprofundando na mulher Elizabeth. Jamais retratada como uma escolhida divina, mas sempre apresentada como uma pessoa entre erros e acertos e uma mulher à frente de seu tempo, com a coragem de ser soberana num mundo cruel e bastante masculino.

Vencedor do BAFTA e do Globo de Ouro de melhor atriz.

Nota: 8/10

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Lucas Moura

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Filmes pro final de semana - 18/11

1. Amy (2015)
O último vencedor do Oscar de melhor documentário de longa-metragem traz a vida conturbada de uma das maiores estrelas da música que o mundo viu nos últimos anos. O início precoce da carreira, o sucesso estrondoso com o segundo CD e a incrível vitória de cinco Grammys recebem a mesma atenção que os problemas familiares, a relação autodestrutiva com o marido e o grave problema com álcool e drogas que tanto prejudicou sua carreira e acabou provocando sua morte em 2011, tendo apenas 27 anos de idade. O documentário mostra como Amy Winehouse viveu intensamente a música, as amizades e o amor. Um filme excelente; emocionante, mas nada apelativo, e bastante triste.
Nota: 9,5/ 10
2. Divertida Mente (Inside Out, 2015)
Outro vencedor do último Oscar, dessa vez na categoria animação. Divertida Mente é o argumento final de que animação não é sinônimo de filme infantil. A partir de uma garota de onze anos, Riley, que está passando por grandes mudanças em sua vida, vemos uma forma muito original de apresentar como funciona a mente humana: gerida por cinco emoções que são responsáveis pelo estado de humor e pela administração das memórias. São elas Alegria, Tristeza, Medo, Raiva e Nojinho. Um pequeno incidente envolvendo Alegria e Tristeza faz uma completa bagunça na cabeça de Riley, que só piora o difícil momento pelo qual ela está passando, e pode pôr em risco todo seu eu. O filme é lindo, não é simples o suficiente pra ser visto por qualquer criança, e consegue botar muito marmanjo pra chorar. Sem dúvida, uma das melhores animações já feitas.
Nota: 10
3. Direito de amar (A single man, 2009)
Protagonizado por um Colin Firth austero e introspectivo, Direito de amar acompanha o dilema de um professor inglês que vive na Califórnia, George (Firth), após a morte de seu companheiro, Jim, com quem viveu por 16 anos. George não consegue lidar com o vazio deixado por Jim, nem mesmo ocupando seus dias com suas aulas ou com a ajuda de sua amiga de longa data, Charlotte (Juliane Moore). O desespero faz o professor pensar e planejar seu suicídio, mas novas perspectivas podem convencê-lo de que ainda pode haver esperança em meio a tanta dor. O filme é recortado por diversos flashes do passado, no início do relacionamento com Jim, de momentos passados juntos e da trágica morte precoce. Além da bela e triste história, o filme conta com as incríveis atuações dos sempre competentes Colin Firth e Juliane Moore.
Nota:8,5/ 10
4. Sonata de Outono (Höstsonaten, 1978)
Dentre os filmes de Ingmar Bergman que já tive o prazer de assistir, este é um dos mais emocionantes. Este intenso drama familiar mostra a delicada relação entre uma mãe (Ingrid Bergman) que fora uma pianista famosa e sua filha (Liv Ullmann), que se encontram após sete anos sem se verem. É fácil ver que a convivência das duas é um constante desconforto, carregada de mágoas que a filha nutriu por uma mãe ausente, sempre viajando, e que quando ficava em casa era igualmente distante. O reencontro se torna uma lavagem de roupa suja e traz à tona todo o ressentimento que as aparências escondiam, com um forte teor psicanalítico muito bem explorado pela perfeita direção de Bergman e pelo talento de duas brilhantes atrizes.
Nota: 10
5. New Orleans (1947)
"Do you know what it means to miss New Orleans?" A voz inesquecível de Billie Holliday é um dos grandes atrativos desse esquecido musical que eu conheci por acaso (obrigado, Youtube) e pelo qual fiquei encantado. A história é simples e não muito atrativa, tendo como protagonistas uma cantora clássica (Dorothy Patrick) que se apaixona por um jogador profissional (Arturo de Córdova) que é dono de uma casa de jogos no submundo de Nova Orleans. Nos fundos da casa de jogos,  Louis "Satchmo" Armstrong (interpretado pelo próprio) e sua Happy Dixie Band, pioneiros do blues, tocam uma música diferente e apaixonante que é censurada na alta sociedade, mas que faz sucesso entre os moradores do subúrbio e que pra surpresa de todos, encanta a cantora clássica e seu maestro. O enredo um tanto clichê é deliciosamente embalado pela música de dois grandes ícones do jazz e blues, que aqui vivem um par romântico, que injustamente aparece em segundo plano. Interessados procurem no Youtube, tem versão completa e legendada.
Nota: 9,5/ 10 (mais pela música do que pela história)

Luís F. Passos

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Filmes pro final de semana - 04/11 - Especial ENEM

Chegou a hora da maior prova do País, com milhões de participantes e que é porta de acesso a boa parte das universidades públicas, além de servir pra quem quer bolsa no ProUni (enquanto o governo golpista não acabar de vez). E é em clima de Enem que temos uma lista especial, cheia de filme bom, cada um se relacionando a um bloco da prova. Se você não vai ficar dez horas numa sala fazendo uma prova cansativa, aproveite a lista no seu fim de semana.
 
CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
1. Clube da luta (Fight club, 1999)
Um tema recorrente na prova de Ciências Humanas é falar de conflitos, e aqui temos um ótimo exemplo. Clube da luta, ícone da filmografia de David Fincher, põe em xeque os valores de uma sociedade guiada pelo consumo e por definições vazias do que é sucesso ou felicidade - "trabalhamos em empregos que não gostamos para comprarmos coisas das quais não precisamos", diz Tyler Durden (Brad Pitt) para o narrador anônimo (Edward Norton). O narrador vive uma vida pacífica demais e é a convivência com Tyler, violento e rebelde, que vai mudá-lo, quando os dois iniciam um grupo que se reúne pra trocar porrada. Isso e a relação com Marla (Helena Bonham Carter), que ele conheceu frequentando grupos dos quais nenhum dos dois precisava. A proposta do filme e os segredos que vão sendo revelados são algo arrebatador que tão cedo não será esquecido. E vou encerrar aqui, afinal a primeira regra do Clube da Luta é não falar sobre o Clube da Luta.
Nota: 10
CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS
2. 2001: uma odisseia no espaço (2001: a space odissey, 1968)
Depois da sequência de Lolita (1962) e Dr. Fantástico (1964), o público sabia que deveria esperar por mais um filme de Kubrick. E o que veio foi muito além das expectativas de qualquer um. 2001 foi concebido por Kubrick para ser mais uma sensação do que uma história. O diretor queria fazer um filme de ficção científica ambientado no espaço, e para isso olhou primeiro para o passado, milhões de anos atrás, na aurora da humanidade, para depois dar um salto até a era das viagens cósmicas. E com muita subjetividade e efeitos visuais impensáveis até então, que lhe renderam seu único Oscar, ele nos leva a uma viagem capaz de representar o desejo humano de conhecer o que há para dentro e para fora daquilo de nós mesmos que é conhecido. Mais que revolucionar a ficção científica, Kubrick mostra que não há limites para o cinema, para a imaginação e o talento de um artista.
Nota: 10
LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS
3. O Escafandro e a Borboleta (Le scaphandre et le pappillon, 2007)
Uma nova definição de filme lindo. Sensibilidade é a palavra chave da história de Dominique Bauby (Mathieu Amaric), que depois de sofrer um derrame é vitimado pela raríssima síndrome do encarceramento, em que todo o seu corpo fica paralisado, exceto os olhos - sendo que todas as faculddes mentais ficaram preservadas. Para completar, seu olho direito precisa ser ocluído para evitar um ferimento na córnea, e ele fica dependente apenas do esquerdo. Com a ajuda de uma fonoaudióloga, Dominique aprende a se comunicar através de um sistema lento, mas eficiente, a partir do piscar de seu olho. Através da narração de Dominique, vemos como foi sua vida, os diversos erros que ele cometeu com seus entes queridos, a rua relação com seu pai e seus filhos, a amante que nunca o visitou depois da doença e a sua obstinação em compor um livro que se tornaria best-seller. Baseado em fatos reais.
Nota: 10
 MATEMÁTICA E SUAS TECNOLOGIAS
4. As Aventuras de Pi (Life of Pi, 2012)
O nome do protagonista vem exatamente do número tão complexo da matemática. Membro de uma família dona de circo, o jovem Pi está de mudança para o Canadá, junto com seus parentes, os animais do circo e todo material, em um navio cargueiro. Depois de uma tempestade o navio naufraga e Pi se vê à deriva em um bote salva vidas, na companhia do enorme tigre Richard Parker. O filme então aborda a luta pela sobrevivência e a estranha convivência de um homem com um animal selvagem em um espaço tão pequeno, em alto mar. Efeitos especiais belíssimos são usados para criar um ambiente fantasioso (seriam delírios ou a magia da natureza?), além da figura do próprio tigre, criado digitalmente mas de uma perfeição impressionante. E mais do que a beleza visual, o filme aborda crenças e religiosidade de forma muito bonita.
Nota: 8,5/ 10

REDAÇÃO
5. Julie e Julia (2009)
Falar em Julie e Julia é falar de um filme que eu via quase quinzenalmente e achava a coisa mais linda do mundo. Quase seis anos depois não tenho a mesma opinião, mas ainda gosto muito dele. É muito bacana ver o resgate de duas histórias reais de mulheres que tinham na culinária e no casamento os pilares de suas vidas. Na década de 1950 temos Julia Child (Meryl Streep), americana que em Paris aprendeu a cozinhar e começou a escrever um livro com duas amigas francesas; terminá-lo foi tão difícil quanto obter nota mil na redação do Enem, mas a publicação do livro deu fama e um programa de TV a ela. Cinquenta e dois anos depois, em Nova York, Julie (Amy Adams) é uma mulher que chega aos trinta com a sensação de que não fez nada na vida, e decide escrever um blog sobre a experiência de fazer todas as 524 receitas do livro de Julia no prazo de um ano. Ambas concluíram seus projetos com o apoio de seus maridos e sempre mantendo um bom humor que arranca boas risadas de quem assite ao filme. Bon appétit!
Nota: 8,0/ 10

Luís F. Passos