quinta-feira, 28 de junho de 2012

Sombras da noite - Tim Burton volta. Agora, com vampiros e afins.


A família Collins sai da cidade de Liverpool, no século XVIII em direção ao novo mundo, onde se instalam no Maine fundando uma cidade, Collinsport, criando um império do comércio de furtos do mar e fundando Collinswood, o castelo da família que simbolizava todo o poder dos Collins.
Ao mesmo tempo, Barnabas Collins (Johnny Depp) vê-se envolvido por duas mulheres: Jossete, seu amor verdadeiro, e Angelique (Eva Green), empregada da família desde a infância e apaixonada por Barnabas e mantém um relacionamento com ele (que não a ama). O problema é que Angelique é uma bruxa e, quando Barnabas decide por terminar o caso dos dois e seguir sua vida com Jossete, ela jura vingança à família Collins, a qual almeja destruir, e lança uma maldição no amado transformando-o num vampiro além de fazer com que ele fique preso num caixão por quase 200 anos até que seja desenterrado, por acaso, em escavações numa obra. 
Quando livre, o vampiro Barnabas volta para Collinswood que agora é um completo caos. Em estado de quase abandono, é habitada apenas pelos últimos quatro membros falidos da família, uma psiquiatra estranha (Helena Bonham Carter), a jovem e misteriosa Vicky (que, aparentemente, tem alguma relação com Jossete) e os dois velhos e quase inúteis funcionários do local (ambos hilários!). Seu objetivo passa a ser, então, retomar o poder e a influência dos Collins, com a ajuda, principalmente, de Elizabeth (Michelle Pfeiffer), a matriarca da família. Paralelamente, ele tem que se adaptar ao máximo ao estilo de vida de 1972 e lutar contra sua antiga rival Angelique, que, agora, manda na cidade de Collinsport. 
Sombras da noite (Dark Shadows, 2012) não é uma maravilha. Fato. Na verdade, é um filme no máximo bonzinho. Poderia descrevê-lo como uma comédia com leves toques de filme de terror, com direito a vampiros, bruxas, fantasmas e o kit completo que vem com eles. Ele tem alguns méritos. Gosto muito do estilo irônico de Tim Burton em criar situações engraçadas que são, ao mesmo tempo, levemente sombrias e Sombras da noite tem algumas delas. Geralmente, são pequenas sequências ou apenas certo elemento na cena que dão o ar cômico necessário, sem deixar de lado a bizarrice do momento. Isso fica muito claro na cena dos hippies (que é uma das melhores). Outra coisa muito bacana no filme é estar sempre puxando o ar dos anos 70 para Collinsport, que é uma cidade no fim do mundo.
Então, temos várias referências, que incluem globos de discoteca como quesito obrigatório numa festa, Amargo Pesadelo (Deliverance, 1972) em cartaz no cinema local, Alice Cooper numa festa na mansão dos Collins, o figurino do elenco e por aí vai. Apesar de contar com um ótimo elenco, não tem atuações fantásticas. Depp, em seu milésimo trabalho com Burton, já fez coisa muito melhor do que Barnabas. Helena Bonham Carter...puts, achei muito sem graça. Mas eu curti Michelle Pfeiffer (sempre ótima), Chloe Moretz (de Hugo Cabret) como a jovem, revoltada e meio chapada Carolyn, filha de Elizabeth e Eva Green, a obsessiva, sensual e divertida vilã.

O problema de Sombras é que é um filme meio... perdido. Você pensa que é um filme de vampiros, aí do nada começa a virar história de fantasmas...e de bruxaria...e aí aparece um lobisomem (?!)...enfim, é tudo muito solto. As coisas acontecem do nada e...não fazem muito sentido. Não parecem muito convincentes. Tim Burton, apesar de sempre trabalhar com mundos estranhos e impossíveis, consegue fazer com que eles pareçam reais dentro de seus próprios limites. Infelizmente, em Sombras ele não conseguiu esse feito. Isso sem falar no final... 
Sombras da noite é o segundo lançamento seguido de Burton que não me agradou. Depois de Alice (que foi uma decepção) já não andava muito confiante no diretor. De certa forma, isso me ajudou em Sombras, pois fui vê-lo sem criar expectativas que, no fim das contas, não seriam atendidas mesmo. Sendo assim, o que me resta é continuar admirando os bons trabalhos que ele fez há uns anos atrás (Beetlejuice, Edward, Batman e por aí vai) e esperar que ele volte a fazer ótimos filmes como antes. 

Lucas Moura

segunda-feira, 25 de junho de 2012

O Espelho dos Nomes - ou “Alice no País das Maravilhas” brasileiro


Há dez anos, a versão mais jovem do autor que vos escreve encarava o livro que se tornaria um marco em sua vida. Um livro colorido, letras grandes, com algumas páginas ilustradas (em tons de roxo ou abóbora), desenhos meigos e esclarecedores, aquele cheirinho de novo, pouco menos de duzentas páginas; assim foi o meu primeiro amor.
Ao encontrar esse livro me deparei com uma relíquia na minha coleção. Toda aquela nostalgia da infância, aquele saudosismo empoeirado, veio à tona. Fui notando como O Espelho dos Nomes, de alguma forma, influenciou em minha trajetória. Pois é, não foi um simples livro de literatura infanto-juvenil. Na verdade, esse livro se trata de algo maior como hoje eu posso perceber.
Minha intenção é fazer com que a nova geração de pais também perceba o valor da literatura infantil na formação das suas crianças. E por que não da literatura infanto- juvenil brasileira?
Inúmeros são os pais que estão desesperados nesse momento com o ócio dos filhos em frente à televisão absorvendo uma programação inútil ou que não conseguem encontram maneiras de arrancar seus pequenos do computador. Enquanto a conta de luz está subindo as notas na escola continuam descendo. Talvez uma ou outra mãe ainda consiga lembrar o último livro que seu filho leu: um tal de Harry Potter, ou talvez um Crepúsculo. Porém pouco deve saber sobre o que se trata...
Infelizmente, títulos de fantasia ainda são ignorados por profissionais da educação até que se tornem bastante rentáveis. Legiões de crianças e adolescentes acabam sendo afetados por isso. É duro dizer, mas é pouco comum gerar o interesse da literatura indo de cara com Machado de Assis. Por que não ir com Marcos Bagno antes?
Se não sabem de quem estou falando, é uma pena. O escritor é mineiro (da cidade de Cataguases), peregrinou pelas principais capitais do Brasil, se formou em Letras e tirou título de doutor pela USP, trabalha como tradutor, escreve tanto ficção quanto artigos, atua em pesquisas na área de linguística e hoje luta contra a discriminação social por meio da linguagem. Um homem com essa bagagem quando se dedica consegue escrever obras primas!
E escreveu...
O Espelho dos Nomes (São Paulo, 2002) é um “Alice no País das Maravilhas” com um diferencial enorme: foi escrito em nossa língua! Ou seja, as poesias (que rimam) e os quebra-cabeças (que fazem sentido) acabam aproximando o leitor da leitura. A aventura do personagem principal Abel (ou Gabriel, Isabel, Miguel, Natanael... um nome para cada capítulo!), acompanhado de um pequenino livro crescente chamado Tomenota, em diferentes missões através de oito espelhos, desvendando os mistérios em cada uma dessas dimensões.
Até agora parece um roteiro bobo e simplório? Bem, dê uma chance ao livro e terá uma aula de português diferente de qualquer outra. Os eventos da narrativa brincam com as possibilidades da nossa língua, questionam as regras desta, mostram as dificuldades dos alunos ao aprendê-la, etc. Isso tudo em um mundo de fantasias aonde os sapos falam saponês, patos fazem prova de grasnática, irmãs Viceversa dizem a mesma coisa sem nunca usar a mesma ordem e Grã-Má-Tica e Matê-Má-Tica são falsos monstros que aterrorizam as pessoas.
Há vários pontos que destacam O Espelho dos Nomes dos outros livros infantis: conta com comentários intrometidos do autor (entre parênteses) conversando com seu leitor, ora explicando, ora apenas entretendo; às vezes, o texto tem sua linearidade desviada com propósito ligado ao acontecimento; une outras formas textuais como teatro e poesia; há contos e enigmas por toda a parte, agradando tanto as meninas quanto aos meninos.
Eu recomendo esse livro não somente aos jovens iniciando a leitura. Recomendo também àqueles já adornados pela idade, sejam homens feitos ou senhoras, pois acredito no potencial ilustrativo deste. E se quiserem saber logo, o final é plausível...
Enfim, não há desculpa se você acabou de ler O Guia do Mochileiro das Galáxias, Alice no País das Maravilhas, Crepúsculo, Harry Potter ou Senhor dos Anéis e agora acha que não há mais nada para ser lido! Sempre haverá um título com uma nova história e um grande potencial para mudar a sua história também. 
O alerta acima serve aos pais da mesma forma. Não há boa literatura apenas em um gênero. Valorizem a fantasia, essa que costuma ser a porta de entrada para o universo textual... Tomenota!
Enfim, peço dez culpas se ofendi.
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Um texto de Guilherme (que não gosta muito de seu nome).

domingo, 24 de junho de 2012

O discurso do rei - insp-pir-rador

Em 1925 o duque de York, Albert, filho do rei George V, recebeu do pai a missão de discursar para todo o Reino e Império Britânico através do rádio. Acontece que o príncipe era gago, e sua tentativa de discursar foi um fracasso. Sua esposa, Elizabeth, assim como outros membros da família real e da corte vinham há muito tempo buscando um tratamento que pudesse ajudar Albert, já que como filho do rei, havia a necessidade de fazer pronunciamentos.
Passados alguns anos, Elizabeth procura um certo Lionel Logue, mas é logo advertida de que seus métodos eram controversos e pouco ortodoxos. Ela percebe que Logue é um cara que não se deixa impressionar facilmente e que exige igualdade com o paciente, exigindo que aqueles que buscam tratamento é que devem ir até ele, e não o contrário. Mesmo sabendo que seu futuro paciente é o segundo na sucessão ao trono, Logue faz questão que o príncipe vá até seu consultório.
O primeiro contato entre Albert e Lionel é tenso. O terapeuta ignorava todas as convenções e formalidades para se dirigir ao príncipe, e este o achou um desaforado, mas aceitou o tratamento, mesmo relutante. Até porque as técnicas de Logue eram, no mínimo, estranhas, desde exercícios para fortalecer a musculatura do tórax até dançar, gritar e xingar pela sala. Surpreendentemente, a gagueira vai sendo superada aos poucos. Mas em 1936, quando George V falece, muito velho, e o irmão mais velho de Albert, David, assume o trono como Eduardo VIII, Logue percebe que a infância traumática de Albert era a responsável por seu problema, e o príncipe encerra o tratamento por não admitir que o terapeuta falasse de sua família.
Eduardo VIII foi um rei que não tinha olhos para as necessidades de seu país, mas os tinha para sua amante, a americana Wallis Simpson, mulher divorciada duas vezes. Já que a monarquia não permitia seu casamento com Wallis, o rei abdica em favor de seu irmão mais novo. Albert assume o trono como George VI, mas estava inseguro com nunca, o que fez piorar sua gagueira. É aí que ele faz as pazes com Logue e recomeça o tratamento, conseguindo uma melhora satisfatória. Nos anos seguintes, a tensão na Europa vai aumentando, uma nova guerra está prestes a surgir e o novo rei se vê diante de seu maior desafio: ser a voz de uma nação em guerra.
O discurso do rei (The king's speech, 2010), é um belo filme baseado em histórias reais. O rei George VI, pai da rainha Elizabeth II, realmente era gago e se tratou com Lionel Logue, que veio a ser seu amigo íntimo. Claro que tudo isso exigia bastante discrição. O roteiro foi escrito por um ex-gago que se identificou com a história do rei e decidiu escrever sobre o monarca. A história foi barrada por anos (culpa da rainha-mãe, a Elizabeth esposa de George) e voltou a ser escrita anos atrás.
O filme é bom? Muito. A começar pelo elenco, liderado por Colin Firth, cuja brilhante atuação como o rei gago lhe rendeu o Oscar de melhor ator do ano passado. Geoffrey Hush e Helena Bonhan Carter, respectivamente como Logue e Elizabeth, receberam indicações de melhores ator e atriz coadjuvantes. Mas a grandeza não vai muito além dos atores. A história é bonita, o filme é bem feito, mas ele não tem força suficiente pra deixar marcas e ser lembrado por anos. Digo isso porque faturou o Oscar de melhor filme num ano em que tínhamos Cisne negro, 127 horas e A origem no páreo, que pra mim eram mais merecedores de levar a estatueta, especialmente Cisne, que sem dúvida foi o melhor filme de 2011. O Oscar levado pelo diretor também é questionável, já que os diretores de Cisne negro e A rede social eram favoritos nessa disputa. Não que essas coisas diminuam O discurso do rei, mas francamente, acho que ele não entrará para a galeria dos imortais do cinema.
Obs: o outro Oscar levado pelo filme foi o de melhor roteiro original.

Luís F. Passos

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Lua nova - chegamos ao fundo do poço

Depois de todo o chororô e sentimentalismo de Crepúsculo, chegamos ao segundo livro da saga, que começa com Bella e Edward sendo um casal perfeitamente feliz. Eles fazem tudo juntos, andam juntos, assistem as aulas juntos e até dormem juntos - o vampiro se deita na cama e ela se aconchega em seu gélido peito, apenas. Não queira mas que isso, afinal o público a que o livro é destinado é menor de 15 anos.
Bem, chega o aniversário de Bella, e ignorando os pedidos dela, Alice, irmã de Edward, resolve usar o (muito) dinheiro da família e fazer uma festa. Esta foi até simples, com direito a bolo (que apenas a mortal comeu, claro) e uns presentinhos. O problema é que na hora de abrir os presentes, a heroína (?) corta o dedo com papel, e o sangue começa a pingar. Por mais que os vampiros da família sejam controlados, isso definitivamente não é uma coisa boa, até porque um deles não o é - Jasper, o mais estranho e misterioso dos Cullen. Jasper tenta atacar Bella, mas é impedido pelos irmãos.
Passado o susto, tudo bem. Até que dias depois Edward procura Bella com a notícia de que ele e sua família estavam de partida, indo para um lugar bem longe de Forks, argumentando que eles não podiam ficar muito tempo na cidade, já que não envelheciam. Pra acabar de vez com a mosca morta, digo, Bella, ele diz que não havia possibilidade deles permanecerem juntos, e vai embora deixando a menina mais sem noção do que nunca. 
A ausência da vampirada deixa um enorme buraco em Bella (ela mesma usa essa expressão). É aí que o livro se torna um diário da adolescente mal amada.  Ela apenas narra como seus dias eram sufocantes e o que fazia para driblar a falta que Edward lhe fazia, como se dedicar mais aos estudos e a aproximação de seu velho amigo Jacob. Esse é outro que também tem seus segredos. Como não bastava estragar a figura dos vampiros, a autora decidiu ferrar com os lobisomens também, trazendo um novo e inusitado tipo de homem lobo, que são, no caso, alguns rapazes da reserva indígena, incluindo Jacob. Mesmo com essa grande amizade, Bella não consegue esquecer Edward, e nem quer ninguém no lugar dele - para a tristeza do lobisomem, que também tava doidinho pela protagonista.
Pra quem conseguiu ver alguma gracinha em Crepúsculo (eu, inclusive), Lua nova veio pra estragar tudo. Isso porque ele é péssimo. Ridículo. Deplorável. Imagine um livro chato, depois multiplique por 10, e ainda tá longe. O sofrimento de Bella é levado a certo ponto em que só quem já levou um fora cinematográfico e passou um mês assaltando os doces da geladeira consegue se identificar. O que é muito comercial, já que atinge em cheio um certo grupo.
Eu não vi o filme Lua nova porque tive medo de dormir no cinema, e nem tenho vontade de ver. Porque eu não tenho outra definição pra o livro além de "diário de uma adolescente retardada e mal amada". Bella narra seu sofrimento em círculos, se torturando com lembranças e torturando o leitor com suas mágoas. Ela só interrompe essas besteiras pra conviver com o perigo ao lado dos lobisomens e desenvolvendo umas atividades suicidas como andar de moto - tudo isso porque ao correr riscos, ela sente Edward ao seu lado (pff!). E falando em perigo, nesse livro começa um dos maiores defeitos da saga: a promessa de muita ação, e quando vê, nada. Só o tédio.
Pra não dizer que Lua nova não tem NADA de bom, tem umas duas páginas no começo em que Carlisle, pai adotivo de Edward, explica a Bella como se tornou vampiro e como decidiu nunca fazer mal a humanos, uma história que remete ao século XVII, em Londres. Mas o que são duas páginas boas comparadas a quatrocentas péssimas?
Sabe o pior nisso tudo? Eu tenho Lua nova. Só posso dizer que foram os 28 reais mais mal gastos de minha vida (leitores, não me julguem).

Luís F. Passos

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Prometheus - Ridley Scott volta ao seu hábitat de origem


Analisando algumas pinturas em cavernas feitas por diversas sociedades antigas, sem qualquer conexão entre si, um casal de pesquisadores descobre um padrão nessas imagens. Nelas, aparece o que seriam seres humanos adorando um ser superior, como se fosse uma espécie de deus, e esse está apontando para alguns pontos no céu. Esses pontos foram decifrados como um mapa estelar, e, foi interpretado então, que aquelas pinturas significavam um convite. Um convite para um planeta muito longe da Terra e que poderia responder a um dos maiores questionamentos da humanidade: de onde viemos.
Após um financiamento na casa dos trilhões de dólares, a nave Prometheus está pronta para chegar ao seu destino, o desconhecido planeta, onde se acredita que vai haver não apenas as respostas para o surgimento do homem como também os próprios criadores deste.
De imediato, logo eles descobrem que, em algum momento, realmente houve vida naquele lugar e que esses organismos eram geneticamente iguais ao ser humano. Porém, a busca não sai como o planejado, eles vão sim encontrar organismos vivos, mas em vez de respostas definitivas eles acabam se deparando com um perigo mortal.
 Prometheus é a ficção científica do momento. De fato, está muito acima da média em comparação a maioria dos filmes do gênero. A primeira parte do filme funciona como uma grande preparação do que está por vir, com a apresentação das personagens, suas motivações e tudo mais. Logo de cara, já percebemos quais são as personagens fundamentais do filme: Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) a corajosa protagonista, pesquisadora ávida por encontrar alguma explicação sobre o porquê de estarmos aqui, de modo que leva esse desejo por respostas a níveis extremos; seu namorado, o também pesquisador, Holloway; Vickers (Charlize Theron), a rigorosa e fria filha do financiador da expedição e o andróide David (Michael Fassbender), sem nunca demonstrar nenhum tipo de emoção, é a segunda personagem mais interessante da história (só perdendo para Shaw, claro) e, assim como ela, também está disposto a tudo para descobrir sobre esses “criadores”, não por vontade própria, mas por outros motivos que não vão ser revelados aqui. Já na segunda parte do filme, a ação desenrola de vez. Cria-se um clima de suspense e mistério crescentes, a história se torna violenta com pitadas de terror, cenas chocantes e uma tensão que se mantém até a conclusão do longa. De tirar o fôlego. 
Tecnicamente falando, o filme é impecável. Ridley Scott é um diretor que realmente sabe como trabalhar com o lado visual do filme e torná-lo o melhor possível. A nave é impecável com toda sua tecnologia futurística, bem como o cenário inóspito do planeta. Isso sem falar nos alienígenas, que parecem incrivelmente reais. O uso do 3D é excepcional. Sério, se for ver o filme veja em 3D. É fantástico e aqui não está só de enfeite não, realmente deixa o filme mais intenso. A parte técnica e os elementos de suspense/ação são tão bons que abafam alguns probleminhas que tem no final.
Ridley Scott usa em Prometheus vários elementos presentes em Alien. Impossível não notar a semelhança entre as criaturas, entre os robôs não muito confiáveis, entre as coisas estranhas que se encontra no planeta perdido, entre as naves, e aí vai. Sendo assim, a comparação é inevitável. Infelizmente para Prometheus, é muito difícil brigar de igual para igual com um dos filmes mais elogiados e revolucionários da indústria, mas ele é sim um grande filme.
De todas as coisas em comum entre os dois filmes de Ridley Scott, seja no roteiro em si ou nas locações do decorrer da história, para mim, uma se sobressaiu: Shaw é muito parecida com Ripley (protagonista de Alien, interpretada por Sigourney Weaver). Sério. Poucas vezes no cinema pude ver personagens femininas tão fortes, corajosas e determinadas quanto essas duas. Ao mesmo tempo em que se cercam da tecnologia mais avançada possível, são grandes lutadoras (e como lutam!) seguindo um instinto muito primitivo: o de sobrevivência (e como são resistentes!). Se Ripley ficou mundialmente famosa lutando de calcinha e sutiã, sozinha, numa nave de escape no meio do espaço, contra uma criatura muito mais poderosa e doidinha para matá-la, Shaw não fica atrás e faz coisas incríveis além de ser, durante grande parte do filme, igualmente levada aos seus limites físicos e psicológicos. Shaw entra, então, para o hall das heroínas de carne e osso de Ridley Scott.
Sendo assim, por todos esses motivos que pude apontar, e por muitos outros que não pude falar – não posso estragar as surpresas porque perde a graça – Prometheus é minha recomendação para quem está querendo ver um bom filme no cinema por estes dias, aproveitando que o filme ainda está em cartaz. Mesmo que tenha se criado expectativas gigantescas em torno do filme por ele ser de Ridley Scott e por ele ter uma conexão com o bom e velho Alien, acredito que quem for ver não vai se arrepender. 
Ah, um conselho! Quem quiser aproveitar a oportunidade e ver Alien também, não perca a chance. 


Lucas Moura

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Chico Buarque e Edu Lobo - Valsa brasileira

Impressionante como uma pessoa que passa o dia no computador consegue ser tão mal informada. Bem, sou eu. Ontem foi aniversário de Chico Buarque; o gênio paulista de nascimento e carioca de coração fez 68 anos (me perdoe, Chico, mas aparentando mais). Claro que a data exigia uma homenagem decente, como um post, mas na ausência deste, deixo um vídeo de Chico ao lado de seu parceiro, o também cantor e compositor Edu Lobo. Música bonita, grande interpretação.






Luís F. Passos

terça-feira, 19 de junho de 2012

American Psycho – Por que assistir?


Quem não fica com um pé atrás quando sabe que o filme foi uma adaptação de um livro bem sucedido? Quem também não ficaria alerta ao notar um título como “Psicopata Americano” e não esperaria por uma hora e meia de violência gratuita na tela? Pois venho cá, nesse espaço, defender o meu filme da semana.
Para início de conversa eu devo confessar: não li o livro de Bret Easton Ellis, datado do começo da década de 90, e nunca o encontrei de bobeira em nenhuma livraria. Até onde eu sei a obra foi bem aclamada, considerada até mesmo transgressiva – e isso nos USA é bom. Digno ou não, só posso avaliar o trabalho do diretor Marry Harron, assim como sua equipe, pela adaptação.
Aqueles que já são chegados nos clássicos serão chamados à atenção logo no nome do personagem principal: Patrick BATEMAN (interpretado por Christian Bale). Não, meu caro, se você achou que adivinhavam o destino de Bale como “Batman” cinco anos depois, você está meio enganado (ou eu posso estar), mas a referência existente deve-se ao psicopata-mor do cinema americano Norman Bates (Psycho, 1960). Sou um pouco atrevido e ouso dizer que a introdução do seriado “Dexter” foi meio inspirada pela primeira cena do filme. Não seria a única menção a qual a série do serial killer faria ao filme; na primeira temporada Dexter usa o pseudônimo de Dr. Patrick Bale a fim de obter medicamentos.
Eu vou confessar que no começo senti uma atuação meio forçada de Christian, com aquelas caras e bocas dignas do Nicolas Cage, entretanto é no desenvolvimento do filme que vamos percebendo uma adequada interpretação.
Descrever Patrick Bateman é fácil. Ele parece comigo. Parece também contigo. Parece com o seu vizinho. Parece com todo mundo... Contudo ele só parece. Além da imagem, a qual ele faz questão de cuidar com vários cremes faciais, mil abdominais e tantos outros tratamentos, há um homem extremamente narcisista, vaidoso, egocêntrico, egoísta, megalomaníaco e invejoso. Ficamos sabendo disso tudo através de seu relato em primeira pessoa.
Seu estilo de vida remete aos “yuppies” (os playboys dos anos 80), constantemente frequentando boates e restaurantes seletos, acompanhado de sua namorada fútil (Evelyn Williams, papel da Reese Witherspoon) e seus companheiros de igual qualidade. Bateman deixa bem claro sobre seu falso relacionamento com Evelyn, assim como explicita um interesse maior pela Courtney Rawlinson (Samantha Mathis), uma bela jovem viciada em antidepressivos, formando um casal de incapazes de sentir. Com o desembaraço da história, conhecendo melhor o personagem principal, veremos como a Courtney não pode ser tratada como amor, e sim como algo ainda inacessível ao avarento Patrick.
A história se desenvolve um pouco longe desse círculo social, mais precisamente dentro da empresa aonde nosso psicopata trabalha. Porém, antes de entrar nesse detalhe, eu gostaria de deixar uma pergunta para você que me lê agora: ainda se lembra daquela vez em que sentiu uma vontade de fazer alguém sofrer por passar na sua cara algo melhor do que aquilo que você tem? Com certeza você sentiu isso outrora, é normal. Confessa!

No primeiro momento todos acharão o motivo para o descontrole emocional de Bateman completamente frívolo. Desencadear um instinto assassino por um colega de trabalho (interpretado por Jared Leto) é mais comum do que se vê no noticiário. Levar adiante que é fora do comum...
A surpresa do filme está aí nesse “levar adiante”. Além das citações a outros psicopatas famosos nos USA, comentários violentos, cenas de sexo sádico, desenhos coléricos ou o ócio do filhinho de papai na empresa, nada denuncia um tipo de vida criminoso. Quando entra em cena o detetive Donald Kimball (Willem Dafoe), não só o Patrick fica tenso, mas quem está assistindo acaba achando que a casa vai cair.
A melhor sugestão, se me permite fazer, seria a de avaliar o julgamento pré-assassinato. Acrescentará bastante na compreensão do filme uma atenção especial às vítimas, a maneira como é morta e até mesmo ao local do crime. Mesmo perto do fim, quando parece não haver mais um discernimento nas execuções, podemos confirmar a chave do suspense criado pelo diretor.
Não se assuste se criar uma empatia pelo psicopata (alguns críticos ferrenhos insistem em chamá-lo de “sociopata”), okay? Quando você menos percebe está sorrindo no meio de um dos monólogos a respeito da musicalidade do Phil Collins ou da Whitney Houston. Por sinal, é um dos pontos mais humanos (ou O MAIS) no Bateman. Como alguém privado de sentimentos pode ser tão crítico e sensível à música como ele?
Devo avisar de antemão àqueles que adoram uma pitada de análise psicológica: não há absolutamente nenhuma informação sobre a família Bateman, apenas é referido em uma frase que Patrick trabalha na empresa da família. Só.
Enfim, não gostaria de soltar spoilers à toa. Acredito mesmo no potencial de surpreender desse filme, de prender o espectador ansioso pela justiça celestial ou simplesmente pelo fim. Para esses que gostam de finais óbvios: assistam à Sessão da Tarde!
Dica final: não durmam no final, pois os últimos cinco minutos são cruciais.


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Quem escreve essa crítica “feijão com arroz” para vocês é Guilherme Oliveira Patterson.
Sem ocupação maior, vou contribuindo nesse afável blog até vocês cansarem de mim.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Recordações do escrivão Isaías Caminha

Com o anseio pela crítica social, Afonso Henriques de Lima Barreto lançou no ano de 1909 o seu primeiro romance Recordações do escrivão Isaías Caminha (que já havia sido publicado dois anos antes na revista de sua autoria, a Floreal). O escritor nascido na cidade do Rio de Janeiro transportou sua visão crítica ao seu livro dando-o um cunho de reflexão social, fato que abalou os meios literários da época.
O criticismo ferrenho de Lima Barreto era constante em suas obras, e assim foi em Recordações do escrivão Isaías Caminha aonde trata de uma história que se confunde bastante com a própria enquanto mulato discriminado e jornalista. É decorrido em quatorze capítulos o destino do protagonista que dá nome a obra, a partir de sua infância em um ambiente familiar incomum – nascido da quebra do voto de castidade de um missionário branco com uma negra humilde – até sua conquista do cargo de escrivão após muitas dificuldades. Não se limitou a tecer comentários apenas sobre a penosa vida de um mestiço, mas foi além e discorreu sobre a urbanização desordenada do Rio de Janeiro, a atração do serviço público, o jogo de influências políticas e midiáticas e a tendência patética do povo brasileiro em reproduzir em suas terras o estilo das cidades europeias.
Assim como nas recordações de Isaías Caminha, seu autor não encontrou o estrelato que esperava no decorrer de sua trajetória. O personagem dividia-se entre o sonho de intitular-se “doutor” e a descrença de que conseguiria por ser mulato. Perante diversas dificuldades e discriminações, ora veladas, ora não, Caminha termina a sua jornada alçando uma boa carreira em órgão público com seu trabalho e conduta exemplares, entretanto não se realiza como “doutor”. Criação e criador se esbarram nesse ponto: apesar de edificarem certa importância social, a vaidade intelectual fazia-os ansiar por maior destaque.
Lima Barreto morreu em decadência após longo abuso de álcool aos 41 anos, o que pareciam bem mais devido ao envelhecimento precoce e o enfraquecimento do corpo. Enquanto vivo não parou de escrever, contribuindo sempre com os periódicos ou trancando-se em sua casa à rua Major Mascarenhas, onde morou por mais de vinte anos até a data de sua morte, para produzir novas narrativas. Dentre suas obras mais famosas encontram-se títulos como Triste fim de Policarpo Quaresma (1911), Numa e a Ninfa (1915), Clara dos Anjos (1922), Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919) e, é claro, Recordações do escrivão Isaías Caminha (1909).
É uma pena que o ficcionista não tenha encontrado amparo ainda vivo entre os escritores de seu tempo. A negligência da gramática em seus textos, a linguagem coloquial e alguns temas ultrajantes levaram o seu nome a ser repudiado por poetas, escritores e críticos da época. Até mesmo o seu primeiro romance foi recebido com silêncio pela roda literária do Rio de Janeiro, o que ia de encontro com sua intenção de gerar polêmica. Diante dessa marginalização passou a não se considerar um literato, apesar de viver apenas da sua literatura. 
Ao falar com o povo sobre os problemas do povo, Lima Barreto incomodou aqueles que anunciavam como a sociedade deveria ser. Se nos tempos da Primeira República apontar os preconceitos e as discriminações, a manipulação da mídia e o sedentarismo público ou político era rebeldia, hoje em dia não se tornou mais fácil ser ouvido. 
A leitura de Recordações do escrivão Isaías Caminha então é um lúcido desabafo, sua trama poderia se confundir com a de milhares de brasileiros e permanece atual. A escolha da sátira como forma de escrever deixa a estória mais leve, escarnecendo até o limite do ridículo as caricaturas e os seus vícios em uma comunidade de aparências.

Guilherme Patterson

domingo, 17 de junho de 2012

O tempo e o Vento - O Retrato

O Continente, primeira parte da trilogia O Tempo e o Vento, termina com o fim da Revolução Federalista de 1895. Na época os filhos de Licurgo Cambará, Toríbio e Rodrigo, são crianças. Na continuação, O Retrato, também dividido em dois volumes, os dois já são adultos.
A história começa com a volta de Rodrigo a Santa Fé, depois de se formar em medicina na capital Porto Alegre. As coisas na cidade estavam bem diferentes: a população aumentara, o telefone e a ferrovia haviam chegado, e velhas figuras da cidade como dona Bibiana e o padre Romano estavam mortos. Rodrigo volta a sua terra natal entusiasmado com a carreira médica e decidido a levar a Santa Fé as maravilhas da cidade grande. Mas essa figura do "novo gaúcho" encarnada em Rodrigo esbarra no pai, típico "velho gaúcho". Licurgo concluiu seus estudos, mas dá muito mais valor ao trabalho no campo do que às ciências médicas e humanas que tanto encantam seu filho. Por isso, logo na chegada de Rodrigo, ele afirma que o rapaz desperdiçava dinheiro com "inutilidades": discos de vinil, livros, champanhe e inúmeras comidas estrangeiras como caviar. Entre o conservador Licurgo e o inovador Rodrigo está Toríbio, que apesar de gostar de muitas das ideias e manias do irmão, é mais parecido com o pai, tanto que prefere passar o tempo na estância da família.
Depois de abrir seu consultório e uma farmácia na cidade, Rodrigo vai deixando sua marca em Santa Fé. Generoso a ponto de não cobrar consultas e remédios aos mais pobres, ganha o respeito do povo, mas o ódio  de alguns poderosos da região, como o prefeito Titi Trindade . Rodrigo começa a oferecer jantares e saraus em sua casa, reunindo pessoas ilustres como o padre Astolfo, o coronel do exército Jairo Bittencourt, além de seus velhos amigos e o pintor anarquista Pepe García. Pepe tem um papel chave no livro: é ele quem pinta o retrato de Rodrigo, dedicando-se de corpo e alma ao trabalho e tendo um resultado excelente - o retrato ficou famoso em Santa Fé, e as pessoas chegavam a dizer que a pintura só faltava falar para ser o próprio Rodrigo.
Assim como O Continente, O Retrato mistura ficção com fatos históricos, no caso, uma parte da República Velha, entre as décadas de 1910 e 1920. Rodrigo e sua família são contrários ao governo do Marechal Hermes da Fonseca, e o jovem médico era partidário de Rui Barbosa, principal inimigo político da política do café-com-leite. Rodrigo exaltava as qualidades do diplomata, homem culto e de prestígio internacional. Os Cambará também se envolvem com o senador Pinheiro Machado, o político mais poderoso da época no país, a quem a família era contrária, o que muda após uma visita do senador a Santa Fé.
A figura central de O Retrato é Rodrigo Terra Cambará. E é a pintura deste, feita por Pepe, que dá nome ao livro por um importante motivo: temos aqui uma espécie de O retrato de Dorian Gray às avessas. No livro de Oscar Wilde um jovem consegue beleza eterna enquanto que seu retrato vai se tornando feio e devastado, refletindo sua alma corrompida. Já no romance brasileiro, o retrato serve de comparação com a moral de Rodrigo, que mesmo depois de casado continua mulherengo, apronta todas com qualquer uma que esteja disposta a deitar com ele, e se torna vaidoso. Enquanto o Retrato permanece incrível, a honra de Rodrigo vai se sujando cada vez mais.
O Retrato prepara o leitor para a última e mais extensa parte da trilogia O Tempo e o Vento, O Arquipélago (dividido em três volumes). Aqui temos o começo da vida adulta de Rodrigo, seus ideais inovadores, sua bondade, suas aventuras amorosas e seu casamento com Flora. Fica marcada a semelhança que o rapaz tem com seu xará e bisavô, o inesquecível capitão Rodrigo Cambará. Os dois volumes de O Retrato são divididos em três partes; a primeira e a última se passam quando Rodrigo está velho, já a segunda é a que eu narrei acima. Interessante que ela se chama O Chantecler, título de uma ópera em que um galo acha que o sol nasce todos os dias porque ele canta para isso - e descobre que não é verdade quando acorda tarde e o dia já havia começado. E por quê isso é interessante? Só lendo pra saber. Recomendo.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Branca de Neve e o caçador - nova versão do clássico infantil


A história todo mundo conhece. Todo mundo meeeesmo! Branca de neve e os sete anões é uma das principais histórias infantis. Depois que, em 1939, a Disney escolheu esse conto para lançar sua primeira animação em longa metragem, a popularidade da história só fez aumentar e aumentar. 
Todo mundo sabe, também, que esses contos de fadas não são tão inocentes quanto parecem. Quando crianças, não nos damos conta exatamente de tudo o que está acontecendo e vários fatos acabam passando despercebidos. Contos de fada são histórias infantis, de fato, mas não são tão ingênuas assim. São repletas de traição, violência, sedução, ódio, vingança e por aí vai. Sendo assim, não são tão bobinhas quanto parecem.

A moda do momento é justamente recriar essas histórias, dando a tonalidade mais séria que elas possuem e que foram, por muito tempo, disfarçadas. Sendo assim, não são exatamente filmes para crianças.
Com Branca de Neve e o caçador não é diferente. Aqui temos a história clássica da menininha, branca como a neve e de lábios vermelhos como sangue, que tem que fugir de uma rainha feiticeira que faz de tudo pelo poder e pela juventude e beleza eternas, tendo a ajuda dos clássicos sete anões, da natureza em si, do príncipe William e do coitado do caçador. Então, é basicamente isso, porém, de um ponto de vista diferencial. O visual do filme é muito mais sério, a história é bem mais violenta e em vez de um ar infantil ele possui um ar meio sombrio. Se formos analisar a história de Branca de neve e os sete anões, dá pra ver que tem sequências que são praticamente de terror infantil, até mesmo no filme da Disney com aquelas paradas bizarras de “traga o coração dela” e da floresta assassina e da rainha descontrolada. Em Branca de Neve e o caçador há uma tentativa de intensificar ainda mais esse lado “dark” da história. Não dá muito certo porque não tem como alguém se assustar com aquilo, pelo menos não a grande maioria do público alvo do longa. Talvez crianças possam ficar meio tensas com algumas partes, mas nada fora do normal.
O filme traz algumas novidades na história (não tem graça contar) mas não esperem ver a mesma coisa do filme de Walt Disney com a rainha má morrendo por cair de um penhasco. Não só a rainha má é muito diferente. Todas as personagens o são. A Branca de Neve não é tão passiva e inocente assim, aqui ela luta e muito para sobreviver e tomar seu lugar, literalmente liderando as massas. O príncipe encantado, William, e o caçador também são diferentes da história a qual estamos acostumados, sem falar na rainha que ganhou uma complexidade muito maior. 
Grande mérito do filme: efeitos. Curti muito os efeitos, são muito bem feitos. Se as cenas que eram pra ser mais...assustadoras não dão certo, são válidas por causa dos efeitos especiais muito legais. O filme também tem muito de ação. Com sequências, inclusive, no maior estilo “batalha épica”, com espadas, arcos e flechas, armaduras, cavalaria e tudo que o gênero tem direito.
Kristen Stewart (sim, ela mesmo) lidera o elenco como a protagonista. Não sou nenhum fã da atriz, mas acho que ela merece uma chance. Não dá pra medir talento de ator nenhum com aquela saga tosca onde ela parece que vai dormir de tédio a cada cena. Em Branca, ela já está melhor. Sendo assim...veremos no que vai dar a carreira da atriz. Chris Hemsworth é o Caçador e eu não vejo nada demais nele. Nem aqui nem como Thor. Por fim, mas não menos importante, Charlize Theron é a rainha maléfica e bizarra. Essa sim é uma atriz de verdade. Ok, não é das melhores coisas que ela fez, mas dá pra levar – assim como o filme em si.

por Lucas Moura


Obs: para pessoas com a mente bem fértil e maldosa, o filme pode ser hilário. Eu, por exemplo, tive boas crises de riso. (Luis F. Passos)

terça-feira, 12 de junho de 2012

Bonequinha de luxo - Audrey, o gato e um clássico

Manhattan, 5 horas da manhã. Um táxi percorre a 5ª Avenida até parar na esquina com a rua 57, sede da joalheria Tiffany & Co. Do táxi desce uma mulher muito elegante, que vai até a vitrine e começa a tomar um copo de café. A mulher é Holly Golightly, acompanhante de luxo decidida a se casar com um milionário e se tornar atriz em Hollywood. Holly vive de festa em festa enchendo a cara e ganhando 50 dólares dos homens para ir ao toalete - mas só isso, e se alguém tentar passar disso, ela sai correndo. Num pequeno apartamento, ela mora com um gato sem nome - segundo ela, porque o gato não pertence a ela, e no mundo ninguém pertence a ninguém. Holly vive perdendo as suas chaves e atormentando seu vizinho, o fotógrafo japonês Yunioshi, que jura que um dia ainda prenderia a sua jovem vizinha.
O pontapé inicial do filme é a chegada de Paul Varjak ao prédio em que Holly mora. Escritor malsucedido, Paul vive às custas de sua amante milionária. Paul e Holly se conhecem e logo se tornam amigos; a moça fica fascinada com a semelhança entre seu irmão mais novo, Fred, e o escritor. Um dia depois de Paul se mudar, Holly oferece uma festa, e ele passa a conhecê-la melhor. A festa é uma coisa de louco - e a cena mais engraçada do filme, regada a muita bebida e com pessoas nada normais. Nessa festa Paul conhece O.J. Berman, velho amigo de Holly, que conta sua história, desde que ela saiu do interior e foi até a Califórnia, e depois a Nova York. O ponto alto da festa é a chegada da modelo Meg Wildwood, que leva com ela o milionário Rusty Trawler e um certo José da Silva Pereira, brasileiro que está em Nova York para aprender sobre a cultura norte-americana.
Holly não conseguiu nada com Trawler, mas descobriu que José era um fazendeiro muito rico, e os dois começam um romance. Paralelamente, aparece na cidade um tal Dr. Golightly, que revela a Paul ser o marido de Holly e tenta levá-la de volta para casa. Holly  diz ainda amá-lo, mas com um amor fraterno, e ele volta ao Texas sozinho. Paul observa tudo como um bom amigo, mas seus sentimentos por Holly passam de uma simples amizade; mas a paixão despertada no escritor esbarra nos interesses da desajuizada bonequinha de luxo.
Bonequinha de luxo (Breakfast at Tiffany's, 1961) é baseado no livro homônimo de Truman Capote. No livro, Holly é uma prostituta. Ao vender sua história para o cinema, Capote desejou que Marilyn Monroe fizesse o papel de Holly, mas a loira recusou porque fazer uma prostituta não seria bom para sua imagem. A escolhida então foi Audrey Hepburn, o que exigiu uma mudança na personagem principal, que passou a ser apenas uma moça sem muito juízo, já que era inconcebível a ideia de Audrey interpretando uma prostituta. Além disso, um filme com prostituição seria vetado pela censura do governo (claro que se Marilyn Monroe fosse a intérprete, o governo faria vistas grossas). Mas atualmente a ideia de uma Holly que não fosse Audrey Hepburn é no mínimo impensável. A atriz belga conseguiu dar à personagem ingenuidade e carisma que conquistam qualquer um que veja o filme.
Aliás, Bonequinha é inteiramente Holly. Não só por ser a protagonista e estar em 90% do filme, mas  por ser tão complexa em uma história relativamente simples. A moça que parece ser apenas uma vida louca ou uma caça milionários na verdade é uma pessoa que vive em conflito consigo mesma e com seu passado, numa busca por um lugar/ alguém que a faça feliz (a cena do Moon river reflete bem isso). São essas características que fazem do filme um clássico, e um dos mais queridos de Hollywood. Claro que o charme e tom comédia também pesam para o sucesso do filme. Isso porque excetuando Holly e suas ações, o longa é meio simples, mas sem perder a qualidade. Outro motivo de sua notoriedade é que ele é um filme romântico original e muito bom - o que não temos visto muito nas últimas décadas.


domingo, 10 de junho de 2012

Moon river

A cena é uma das mais conhecidas do cinema. A atriz, um ícone de beleza. A música, o cúmulo do forever alone. Moon river é a música tema de Bonequinha de luxo, de 1962. Cantada pela personagem de Audrey Herpburn na janela do banheiro, e tocada algumas outras vezes durante o filme, é responsável pelos dois Oscars levados pelo longa: Melhor canção e Melhor trilha sonora de filme dramático ou comédia (categoria atualmente extinta).
Enfim, essa é a prévia da próxima postagem, o filme Bonequinha de luxo.


quinta-feira, 7 de junho de 2012

O outro lado da meia-noite - o melhor de Sidney Sheldon

Aos 17 anos a jovem Noelle Page já era a mulher mais linda de Marselha, no sul da França. Filha de pescador, ela cresceu perto do cais, em meio à pobreza e a homens que passavam metade da vida no mar. Apesar da sua difícil realidade, Noelle se sentia uma princesa, admirada e invejada por todos. Em 1939 arranjou emprego como modelo  um uma loja, e depois de ser assediada por seu patrão, conseguiu fugir para Paris.
Na capital francesa Noelle conheceu o militar Larry Douglas, americano que estava combatendo na Guerra junto à aviação britânica. Larry era um homem bonitão e carismático, e foi atraído por Noelle - assim como ela foi atraída por ele. A paixão intensa durou dias, até que Larry precisou ir a Londres, deixando a francesa perdida de amor e a promessa de voltar logo - que ele nunca cumpriu.
Na mesma época e do outro lado do Atlântico, Catherine Alexander havia conseguido uma bolsa na universidade. Nascida em Chicago, era filha de um inventor malsucedido, mas a quem admirava bastante. Catherine era uma aluna exemplar, mas apesar de bonita, não tinha sorte nos relacionamentos. Em virtude da guerra, ela sai de Chicago e vai a Washington, onde começa a trabalhar para o Departamento de Estado, junto a Willian (Bill) Fraser. Os dois se apaixonam, mas o coração da moça fica perturbado por um certo Larry Douglas, piloto americano que retornara da Europa. Larry e Catherine se casam, mas o que inicialmente era um conto de fadas foi mudando, porque a vida de civil não era pra Larry. A solução apareceu anos depois, quando este arrumou um emprego de piloto particular com um magnata grego, e o casal se muda para o sul da Grécia.
Mais que uma promessa, Larry deixou um bebê no ventre de Noelle, que sofreu aborto. A loirinha passa por maus bocados mas se recupera, se tornando atriz e colaborando com o movimento da Resistência francesa. Passada a guerra, sua carreira cresce cada vez mais e Noelle se torna uma lenda, atraindo a atenção de todo o mundo, em especial de um homem incomum: o grego Constantin Dimiris, o cara mais rico do planeta, e um dos mais influentes.  Constantin e a atriz se tornam amantes, e ela é apresentada a um mundo em que o dinheiro e o poder parecem ilimitados.
O novo patrão de Larry era ninguém menos que Dimiris. A verdade é que desde a Guerra Noelle seguia todos os passos do piloto através de detetives, e conseguiu fazer com que seu amante o contratasse, planejando se vingar. Inicialmente ela se comporta como uma perua sem noção, maltratando Larry de todos os modos - isso porque o cara não deu nenhum sinal de que já a conhecia. O fato de Larry não lembrar de nada que havia ocorrido em Paris, anos antes, só aumentou o desejo de vingança de Noelle. Mas em certo momento ele lembra de tudo, a atração mútua é despertada, mudando totalmente os planos de Noelle. O problema é que os dois ignoram Constantin, seu poder e seu ódio, envolvendo-se numa trama perigosissima.
Depois de ler uns doze livros de Sidney Sheldon, eu já era fã de carteirinha, o que só aumentou depois que li O outro lado da meia-noite (1974). O livro é considerado o melhor escrito pelo cara, além de ser um de seus maiores sucessos de vendas. A história é envolvente como de costume, mas é surpreendente como nenhuma outra do escritor. As personagens principais são algumas das mais conhecidas e queridas de toda a obra de Sidney Sheldon: a sensual e vingativa Noelle, o aventureiro Larry, o temível Constantin e a inocente Catherine - essa última inocente mesmo, que se vê num triângulo amoroso que desperta o ódio do implacável magnata grego. O outro lado da meia-noite fez tanto sucesso que foi feita uma continuação, Lembranças da meia-noite.
ps: Ano passado, quando escrevi sobre os dez livros que mais gostei em 2011, O outro lado da meia-noite ficou de fora porque o li bem no fim do ano. Mas certamente ele estaria entre meus cinco preferidos.

domingo, 3 de junho de 2012

Drácula de Bram Stoker - vampiros e Coppola


Tudo começa quando um jovem corretor de imóveis (ou algo do tipo) chamado Johnattan de Londres viaja até o final da Transilvânia, na região dos cárpatos europeus para assinar um contrato de venda de imóveis (digamos assim) localizados em diversos pontos de Londres para um velho conde que mora num castelo abandonado e longe de tudo. O nome desse conde: Conde Dracule. Já fica claro, então, quem esse velho estranho realmente é: o famoso Conde Drácula. 
Breve histórico sobre Drácula: ele, inicialmente, foi um soldado corajoso e carniceiro que lutava a favor da igreja católica, durante a idade média, contra os turcos que haviam avançando contra o império do catolicismo. Durante essa batalha, ele teve que deixar de lado sua amada, a princesa Elisabeta, que se suicidou ao receber uma falsa carta dizendo que seu amado havia morrido em batalha. A partir daí, tornou-se ainda mais violento, conturbado, perigoso e rompeu de vez não só com a igreja a quem defendia como também com o Deus em que acreditava, tornando-se, assim, uma criatura das trevas fadada a vagar pela eternidade sem descanso (também conhecido como vampiro).
Voltando ao século XIX, o conde Drácula está tão interessado em Johnattan e na Inglaterra porque é lá que vive a jovem e inocente Mina. A questão é que Mina não é uma pessoa qualquer, ela é a reencarnação de Elisabeta, e tudo que Drácula mais quer é tê-la para si de novo para que juntos passem toda a eternidade, já que em vida não puderam ficar juntos. Isso vai dar certo? 
Drácula de Bram Stoker (Bram Stoker's Dracula, 1992) é uma história de vampiros como há tempos eu não via. Para ser mais exato, desde que vi Entrevista com o vampiro que não via nada interessante sobre o gênero. Aqui, tem tudo que originalmente um conto vampiresco deve ter: violência, sangue, sedução, fanatismo, medo, devoção e por aí vai. Tudo (ou quase tudo) que Coppola faz é de qualidade, e aqui não é diferente. Pode ser um filme à parte em sua filmografia, mas também tem suas qualidades. Conta também com um elenco cheio de atores conhecidos. Destaque para o bom e velho Gary Oldman interpreta o Conde Drácula da melhor forma possível. É sério, é de longe a melhor personagem do filme e ele é realmente assustador, como a personagem deve ser. Muito bom. A então jovem e no auge de sua carreira Winoma Ryder interpreta Mina/Elisabeta também muito bem. A carinha meiga da atriz ajuda na construção de personagens desse tipo, mas também não deixa a desejar nas cenas mais intensas de suas personagens. Falando em Winoma, ele teve uma participação importante no filme, pois o roteiro de Drácula foi apresentado a Coppola através da atriz, logo após ela ter recusado um papel em O poderoso chefão, parte III por motivos de saúde. Outros rostos bem conhecidos no filme são o de Keanu Reeves, como o coitado do Johnattan, e do bom e velho Anthony Hopkins, como ninguém mais ninguém menos que Van Helsing. 
Então, se você estiver interessado em ver um bom filme de vampiros – não essas porcarias água com açúcar que tem hoje em dia (não preciso citar nomes) – Drácula de Bram Stoker é a minha recomendação.

por Lucas Moura