Quem não fica com um pé atrás quando sabe que o filme foi uma adaptação de um livro bem sucedido? Quem também não ficaria alerta ao notar um título como “Psicopata Americano” e não esperaria por uma hora e meia de violência gratuita na tela? Pois venho cá, nesse espaço, defender o meu filme da semana.
Para início de conversa eu devo confessar: não li o livro de Bret Easton Ellis, datado do começo da década de 90, e nunca o encontrei de bobeira em nenhuma livraria. Até onde eu sei a obra foi bem aclamada, considerada até mesmo transgressiva – e isso nos USA é bom. Digno ou não, só posso avaliar o trabalho do diretor Marry Harron, assim como sua equipe, pela adaptação.
Aqueles que já são chegados nos clássicos serão chamados à atenção logo no nome do personagem principal: Patrick BATEMAN (interpretado por Christian Bale). Não, meu caro, se você achou que adivinhavam o destino de Bale como “Batman” cinco anos depois, você está meio enganado (ou eu posso estar), mas a referência existente deve-se ao psicopata-mor do cinema americano Norman Bates (Psycho, 1960). Sou um pouco atrevido e ouso dizer que a introdução do seriado “Dexter” foi meio inspirada pela primeira cena do filme. Não seria a única menção a qual a série do serial killer faria ao filme; na primeira temporada Dexter usa o pseudônimo de Dr. Patrick Bale a fim de obter medicamentos.
Eu vou confessar que no começo senti uma atuação meio forçada de Christian, com aquelas caras e bocas dignas do Nicolas Cage, entretanto é no desenvolvimento do filme que vamos percebendo uma adequada interpretação.
Descrever Patrick Bateman é fácil. Ele parece comigo. Parece também contigo. Parece com o seu vizinho. Parece com todo mundo... Contudo ele só parece. Além da imagem, a qual ele faz questão de cuidar com vários cremes faciais, mil abdominais e tantos outros tratamentos, há um homem extremamente narcisista, vaidoso, egocêntrico, egoísta, megalomaníaco e invejoso. Ficamos sabendo disso tudo através de seu relato em primeira pessoa.
Seu estilo de vida remete aos “yuppies” (os playboys dos anos 80), constantemente frequentando boates e restaurantes seletos, acompanhado de sua namorada fútil (Evelyn Williams, papel da Reese Witherspoon) e seus companheiros de igual qualidade. Bateman deixa bem claro sobre seu falso relacionamento com Evelyn, assim como explicita um interesse maior pela Courtney Rawlinson (Samantha Mathis), uma bela jovem viciada em antidepressivos, formando um casal de incapazes de sentir. Com o desembaraço da história, conhecendo melhor o personagem principal, veremos como a Courtney não pode ser tratada como amor, e sim como algo ainda inacessível ao avarento Patrick.
A história se desenvolve um pouco longe desse círculo social, mais precisamente dentro da empresa aonde nosso psicopata trabalha. Porém, antes de entrar nesse detalhe, eu gostaria de deixar uma pergunta para você que me lê agora: ainda se lembra daquela vez em que sentiu uma vontade de fazer alguém sofrer por passar na sua cara algo melhor do que aquilo que você tem? Com certeza você sentiu isso outrora, é normal. Confessa!
No primeiro momento todos acharão o motivo para o descontrole emocional de Bateman completamente frívolo. Desencadear um instinto assassino por um colega de trabalho (interpretado por Jared Leto) é mais comum do que se vê no noticiário. Levar adiante que é fora do comum...
A surpresa do filme está aí nesse “levar adiante”. Além das citações a outros psicopatas famosos nos USA, comentários violentos, cenas de sexo sádico, desenhos coléricos ou o ócio do filhinho de papai na empresa, nada denuncia um tipo de vida criminoso. Quando entra em cena o detetive Donald Kimball (Willem Dafoe), não só o Patrick fica tenso, mas quem está assistindo acaba achando que a casa vai cair.
A melhor sugestão, se me permite fazer, seria a de avaliar o julgamento pré-assassinato. Acrescentará bastante na compreensão do filme uma atenção especial às vítimas, a maneira como é morta e até mesmo ao local do crime. Mesmo perto do fim, quando parece não haver mais um discernimento nas execuções, podemos confirmar a chave do suspense criado pelo diretor.
Não se assuste se criar uma empatia pelo psicopata (alguns críticos ferrenhos insistem em chamá-lo de “sociopata”), okay? Quando você menos percebe está sorrindo no meio de um dos monólogos a respeito da musicalidade do Phil Collins ou da Whitney Houston. Por sinal, é um dos pontos mais humanos (ou O MAIS) no Bateman. Como alguém privado de sentimentos pode ser tão crítico e sensível à música como ele?
Devo avisar de antemão àqueles que adoram uma pitada de análise psicológica: não há absolutamente nenhuma informação sobre a família Bateman, apenas é referido em uma frase que Patrick trabalha na empresa da família. Só.
Enfim, não gostaria de soltar spoilers à toa. Acredito mesmo no potencial de surpreender desse filme, de prender o espectador ansioso pela justiça celestial ou simplesmente pelo fim. Para esses que gostam de finais óbvios: assistam à Sessão da Tarde!
Dica final: não durmam no final, pois os últimos cinco minutos são cruciais.
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Quem escreve essa crítica “feijão com arroz” para vocês é Guilherme Oliveira Patterson.
Sem ocupação maior, vou contribuindo nesse afável blog até vocês cansarem de mim.
Não tem nada de feijão com arroz. Me fez querer assistir o filme.
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