Filme que eternizou Jane Fonda
como sex symbol e ajudou a alavancar sua carreira já relativamente estável (que
já se iniciou relativamente estável pelo simples fato de ser filha de Henry
Fonda), Barbarella (1968) é uma grande
reunião de muito do que ocorria na esfera cultural e social no mundo nos
últimos anos da década de 60.
Navegante
espacial, a sexy Barbarella é recrutada pelo presidente da República da Terra
para caçar e trazer de volta um louco cientista, chamado Duran Duran, há muito
tempo perdido pelos confins do universo, que é um homem perigoso que
desenvolveu uma arma letal. Afinal, tratando-se do futuro fictício em que a
história se desenvolve, a violência já estava abolida há séculos da civilização
terráquea – bem utópica essa ideia, não?
Barbarella sai
em sua busca e no meio do caminho encontra com vários tipos estranhos. Alguns
dispostos a ajudar, como o anjo Pygar, e outros no maior estilo tradicional de
vilão, como a Grande Tirana, governante do perdido planeta em que Barbarella é
levada em sua busca por Duran Duran. Um planeta que segue regras e costumes
estranhos e malignos, sendo regido pelo chamado mathmos. O mathmos é uma
substância líquida composta de energia vital que se alimenta de pensamentos
negativos. Em termos terráqueos, o mathmos representaria a materialização do
que conhecemos como “mal” – que viagem.
O enredo
plenamente fantasioso de Barbarella
deixa brecha para que o filme transcorra metaforicamente sobre muitos pontos
culturais dos anos 60. O primeiro deles diz respeito à própria protagonista.
Afinal, a simples escolha de uma mulher para liderar uma ficção científica que
denota muita coragem, liderança e determinação de sua protagonista é uma forma
muito direta de mostrar todo o poder da onda feminista vigente na época,
sobretudo pela escalação de Jane Fonda como protagonista. Jane, como muitos
sabem, foi e ainda é uma grande defensora dos diretos humanos, atuando
avidamente em prol da igualdade entre os sexos, as raças, as diferentes crenças
religiosas e as diferentes opções sexuais (uma grande mulher).
Outro aspecto
patente é o da sexualidade. É um filme muito sexualizado. A figura de
Barbarella com seus figurinos ousados e muito rebeldes para a época tornam este
um filme propositalmente erotizado. A forma de retratar o sexo e de falar sobre
o tema já se mostra diferente. Nada de tabu, uma proposta a maior liberdade
sexual e uma participação ativa das mulheres neste aspecto, visto que o cinema
clássico as mostrava muito passivas neste sentido. Não só o sexo é preconizado
em Barbarella, como também o amor. O
amor pelo próximo, pela vida, pelo corpo e pela paz de espírito. De uma forma
divertida, é como se tivessem transportado a filosofia de Woodstock (inclui
algumas insinuações a uso de drogas) para a nave cor-de-rosa com paredes
internas revestidas de pele em que a heroína viaja pelas galáxias.
O fato de ela
ser uma viajante espacial também pode ser diretamente interligado ao contexto
histórico da época. Em tempos de corrida espacial, o homem voltava seus olhos
para o espaço. Uma nova fronteira havia sido determinada e um novo foco para o
cinema estava sendo traçado.
Isso é Barbarella. Não é um filme fantástico,
mas é uma obra consideravelmente curiosa que abre espaço para uma boa
contextualização de uma época muito particular de efervescência no mundo. Pop,
divertido, sensual, ousado, moderno e corajoso. Além de tudo isso, ainda conta
com uma Jane Fonda no auge de sua beleza e abre o caminho para uma sequência
invejável de grandes trabalhos da atriz, que incluem filmes sérios como A noite dos desesperados, Klute – o passado condena e Amargo regresso. Cinéfilos, podem ver
sem medo. Barbarella psicodélica sabe deixar sua marca.
Nota: 7/10
Lucas Moura
Lucas Moura
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