Meryl Streep é
a atriz mais consagrada do cinema atual. Carreira vasta, sem pausas e com uma
quantidade considerável de clássicos modernos e papéis memoráveis. No início de
sua carreira, Meryl já emplacava um sucesso atrás do outro. Após a vitória no
Oscar como atriz coadjuvante por Kramer
vs. Kramer em 1979, seu primeiro grande destaque expressivo, ela entrou nos
anos 80 com a missão clara de se tornar a atriz mais requisitada da década,
momento o qual em que se tornou aquela que conseguia sempre os melhores papéis.
Não necessariamente os melhores filmes, mas sempre os melhores papéis. No
início dessa jornada, Meryl conseguiu chegar ao topo para uma atriz americana,
consagrando-se com um Oscar de melhor atriz pelo filme que a tornou
oficialmente um ícone: A escolha de Sofia
(Sophie’s choice, 1982).
O filme em si
não tem grande diferencial. Resumidamente, é a história de um jovem escritor
sulista, Stingo, que chega ao Brooklyn com a intenção de amadurecer como pessoa
e como artista, podendo, desta forma, desenvolver melhor seu trabalho ainda
fresco. Lá, vivendo numa casa cuja cor alegre disfarça muito bem a obscuridade
da vida de seus moradores, ele torna-se amigo íntimo de dois de seus vizinhos.
O instável casal Nathan (Kevin Kline) e Sophia (Meryl Streep). O filme se
desenrola em torno desta relação entre os três amigos, que se torna,
invariavelmente, um triângulo amoroso deturpado. A relação amorosa de conflitos
entre Nathan e Sophia é totalmente complexa e fundamentada em instabilidades
emocionais diversas que são bem elucidadas e trabalhadas ao longo do filme.
Apesar de Nathan ser uma personagem demasiadamente complexa, o filme gira em
torno, quase que exclusivamente, de Sophia e seu passado.
Sophia é
polonesa. Uma sobrevivente de Auschwitz. Desde o começo, fica nítido a qualquer
olhar mais observador que toda sua figura alegre e vívida na verdade é um
grande disfarce para esconder fantasmas de seu passado. Este passado é o foco
do filme e tudo converge para sua construção e elucidação. Dessa forma, os conflitos
internos do trio são intercalados, em momentos de diálogos (na verdade
monólogos) encabeçados por Meryl. As experiências vividas por Sophia no campo
de concentração são, realmente as mais terríveis possíveis. Digamos
inimaginavelmente terríveis. Por mais que seja esperado algo sério devido o
teor questão, a grande revelação do por que do título é inevitavelmente
chocante. Um dos momentos mais tristes de filmes de um modo geral.
Apesar de ter
toda sua base centrada no nazismo, A
escolha de Sofia não é lembrado corretamente por este aspecto. Na verdade,
filmes sobre o sofrimento das vítimas do nazismo existem em massa. Não que seja
ruim ressaltar sempre os horrores de tal atrocidade, mas para que o filme se
desenvolva melhor e se transforme em algo mais notável, tem que ter algum
diferencial. O diferencial é Meryl. Dar todo o destaque e mérito pra ela foi
toque de mestre do diretor Alan J. Pakula. A atriz encara uma das mais
complexas, intensas e difíceis personagens do cinema americano. Dá pra sentir
no seu modo de falar, na sua face, na sua postura que aquela mulher é
extremamente ressentida e carrega um peso enorme sobre algo que, por grande
parte do filme, não fazemos a menor idéia do que é. O que mantém o espectador
ligado em A escolha de Sofia está longe
de ser o nazismo em si ou muito menos o triângulo amoroso confuso. É Meryl.
Meryl o tempo todo. Ela sintetiza, neste filme, a perfeição em atuar. Sua
vitória ao Oscar de melhor atriz é algo totalmente inquestionável e Sophia
provavelmente é a personagem mais completa de sua carreira. Mais que Kramer vs. Kramer, O diabo veste Prada, Dúvida,
O franco-atirador, As pontes de Madison ou Um tiro no escuro (só pra citar alguns
exemplos), aqui ela cria algo que mais que fenomenal.
Ah, na minha
lista pessoal de melhores vencedores do Oscar de melhor atriz, também incluo
Meryl Streep por A escolha de Sofia. Não sei se a considero a melhor, mas está
no meu topo junto a: Elizabeth Taylor por Quem tem medo de Virgina Woolf?,
Charlize Theron por Monster, Marion Cotillard por Piaf – um hino ao amor e Jane
Fonda por Klute.
Nota: 7,5/ 10
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