“Até onde posso me lembrar, sempre quis ser um gângster”.
Com essas palavras de Henry Hill (Ray Liotta), começamos a acompanhar sua vida,
inicialmente em um subúrbio de Nova York em que boa parte dos moradores é
descendente de italianos e trabalha basicamente para se alimentar. As exceções são os gângsteres, quase todos descendentes de imigrantes italianos e irlandeses. Os gângsteres não precisavam cumprir carga horária, não recebiam salário mínimo, não precisavam entrar em fila, estacionavam onde queriam... eram caras privilegiados. E não foi difícil para Henry tê-los como heróis e fixar a ideia de que seria bem melhor ser um gângster do que um trabalhador comum. É na primeira oportunidade, que surgiu com Paulie (Paul Sorvino), capo da máfia local, que Henry entra para o crime inicialmente como mensageiro mas evoluindo para roubo de carga. Não demora para que ele passe a receber mais que o pai e saia de casa, entrando de vez no mundo da máfia.
Ao entrar de vez na gangue de Paulie, Henry conhece Jimmy (Robert De Niro) e Tommy (Joe Pesci), que se tornaram seus melhores amigos. Jimmy era mais velho e um respeitado assaltante de cargas; Tommy era praticamente da mesma idade que Henry e conhecido por seu temperamento explosivo. Juntos, os três eram os bons companheiros. Uma amizade tão forte que mais parecia fraternidade; eles eram mais próximos uns dos outros que do resto da quadrilha, que se assemelhava a uma grande família, com constantes reuniões em que todos levavam mulheres e filhos, e faziam tudo juntos. Henry se casa com Karen (Lorraine Bracco), uma jovem judia de classe média, que se vê diante da obrigação de se encaixar no mundo do marido e dos amigos dele; e aos poucos se acostuma com as mulheres dos colegas de Henry, todas sem educação, grosseiras e meio cafonas - e com uns traços de Maria Bonita de Lampião. Desconsiderando alguns desconfortos, essa era a vida perfeita. E mesmo em caso de prisão, o procedimento era ficar de boca fechada, aguardar na prisão (que graças a muito suborno se mostrava muito confortável) e sair em liberdade condicional. Uma vida boa demais, levando em conta que era baseada no crime, e como era de se esperar, um dia a casa cai.
Lembro que na primeira vez que vi Os Bons Companheiros (GoodFellas, 1990), não gostei muito. Achei cansativo e fiquei boiando em algumas partes. Foi depois de ver Cassino (1995), também de Scorsese e também com De Niro e Pesci no elenco, que pensei um bocado em Goodfellas, entendi e resolvi revê-lo - aí caiu a ficha de como o danado é bom. Diferente da máfia romantizada por Coppola na Trilogia O Poderoso Chefão, aqui os gângsteres não são cavalheiros e não têm pudor nenhum em matar, roubar ou agredir. É Scorsese voltando à violência que presenciara em sua infância no Brooklyn, retratada anteriormente em Caminhos perigosos (1973), filme que marca o início da parceria com De Niro. A maior representação dessa violência é Tommy, baixinho esquentado que a cada três palavras que fala, uma é fuck (palavra repetida 246 vezes no filme), bate, atira e esfaqueia com um prazer imenso e sabe Deus por que, não tolera ser chamado de engraçado - "Am I funny? Funny how? Funny like a clown?" O trabalho de Joe Pesci lhe rendeu o Oscar de melhor ator coadjuvante e é bem mais destacado que as personagens de Liotta e De Niro, apesar do primeiro ser o protagonista e do outro ser o excelente ator que é.
Falando em Oscar, GoodFellas é lembrado pela segunda pior derrota de Scorsese nos prêmios de filme e direção, em que Dança com lobos, filme de estreia de Kevin Costner, faturou os prêmios. O pior foi a derrota na direção; pra mim, o que Scorsese fez aqui é quase tão bom quanto em Touro indomável: a edição, posição das câmeras, trilha sonora, escolha de elenco. Direção brilhante que fez um dos melhores filmes da década e que sem um pingo de moralismo passou a mensagem do preço pago por aqueles que tentam burlar a lei. E apesar de toda a violência, o filme consegue ser muitas vezes engraçado (funny how, motherfucker?), mostrando que até valentões que só sabem resolver as coisas na porrada têm senso de humor; basta lembrar da cena em que os três bons companheiros viajam numa estrada carregando um corpo no porta malas, param na casa da mãe de Tommy (interpretada pela mãe do próprio Scorsese) e depois veem que a vítima ainda estava viva. No meio de tanto sangue, não tem como não rir. Ah, o pai de Scorsese também faz participação especial, como um velho mafioso preso.
Nota: 10/ 10
Leia também:
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Touro Indomável
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Luís F. Passos
Falando em Oscar, GoodFellas é lembrado pela segunda pior derrota de Scorsese nos prêmios de filme e direção, em que Dança com lobos, filme de estreia de Kevin Costner, faturou os prêmios. O pior foi a derrota na direção; pra mim, o que Scorsese fez aqui é quase tão bom quanto em Touro indomável: a edição, posição das câmeras, trilha sonora, escolha de elenco. Direção brilhante que fez um dos melhores filmes da década e que sem um pingo de moralismo passou a mensagem do preço pago por aqueles que tentam burlar a lei. E apesar de toda a violência, o filme consegue ser muitas vezes engraçado (funny how, motherfucker?), mostrando que até valentões que só sabem resolver as coisas na porrada têm senso de humor; basta lembrar da cena em que os três bons companheiros viajam numa estrada carregando um corpo no porta malas, param na casa da mãe de Tommy (interpretada pela mãe do próprio Scorsese) e depois veem que a vítima ainda estava viva. No meio de tanto sangue, não tem como não rir. Ah, o pai de Scorsese também faz participação especial, como um velho mafioso preso.
Nota: 10/ 10
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