terça-feira, 1 de junho de 2021

Livros para junho

 Saudações aos navegantes, meninos e meninas e menines. Depois de meses, voltamos, mesmo que não seja com uma frequência constante e certa, mas estamos aqui para um sinal de vida, recomendações de livros bons e o desejo de que você, seja quem for que esteja lendo, esteja bem. Se estiver no Brasil, sabemos que estar bem é um termo muito forte e difícil de ser totalmente sincero. Mas espero que esteja bem, que goste das recomendações, e fique à vontade para me recomendar algo também. Se cuide e até logo mais.


1. Ninguém escreve ao coronel (Gabriel García Márquez, 1969)
Um dos primeiros livros do nosso vencedor de Nobel preferido é relativamente curto, mas inesquecível. A novela que acompanha um coronel reformado e decadente, que vive com sua velha e asmática esposa e um galo de brigas magrelo deixado por seu filho falecido é capaz de despertar vários sentimentos no leitor: pena, indignação, mas também arranca umas boas risadas. O magro coronel vive à espera de correspondências do exército com a resposta ao seu pedido de pensão por sua carreira militar, sob olhares compadecidos dos vizinhos e conhecidos. O livro é narrado de modo bastante realista - ainda não era o realismo fantástico tão bem desenvolvido por Gabo - mostrando pobreza e a história repleta de guerras e revoluções da Colômbia, que poderia ser de vários outros países latinos. A estória é deliciosa, fluida e com um final espetacular com uma palavra inesperada. Leia e descubra.
Nota: 10

2. 
O Poderoso Chefão (Mario Puzo, 1969)
O  grande romance da máfia. A grande estória da máfia. Livro que inspirou um dos melhores e mais queridos filmes de todos os tempos, O Poderoso Chefão acompanha a Família Corleone, a mais poderosa das famílias sicilianas que dominam a máfia de Nova York. Ambientada no fim da década de 40, pós 2ª Guerra Mundial, mostra a transformação dos negócios da família com a velhice de Don Vito, a presença de seus filhos nos negócios e a constante tensão com as outras famílias e a polícia - sim, praticamente igual ao primeiro filme da trilogia. Para quem assistiu aos filmes, o livro contém basicamente todo o primeiro filme e uma parte do segundo. A fidelidade dos filmes ao livro é imensa, afinal o autor Mario Puzo foi coautor dos roteiros dos filmes. E o romance é bom. Deus do céu, que livro bom!
Nota: 10

3. Contos vol. 1 (Ernest Hemingway, publicados originalmente entre 1927 e 1961)
Há pouco que eu possa falar sobre essa reunião de contos de Hemingway - desnecessário dizer o excelente contista que ele era. Esse primeiro volume (de três lançados no Brasil pela editora Bertrand) inicia com contos protagonizados por Nick Adams, célebre personagem autobiográfico de Hemingway, mas percorre diversos cenários recorrentes na obra do autor: Estados Unidos, Europa, Oriente Médio e África, desfilando por temas também recorrentes: caça, pesca, bebedeira, amores intensos. É impossível dissociar a escrita de Hemingway de sua vida pessoal, logo esses contos são relatos fieis da época, da juventude do escritor, de parte de seu exílio junto à brilhante geração perdida dos anos 1920.
Nota: 9,5/ 10

4. O Primo Basílio (Eça de Queiroz, 1878)
O motivo que me levou a ler uma das principais obras de Eça de Queiroz foi deveras aleatório: o encanto pelo trecho do livro que é citado por Arnaldo Antunes no meio da música "Amor, I love you" de Marisa Monte. Mas eu estou dizendo isso só porque eu gosto de um rolê aletório. Vamos ao enredo: o livro é centrado na figura de Luísa, a jovem esposa do engenheiro e funcionário público Jorge. O típico casal de classe média, respeitado na pobre vizinhança e por amigos distintos e leais, é bem visto aos olhos da sociedade. Porém, como estamos falando de um romance realista, tem que ter algo de podre no reino da Dinamarca (de Portugal, no caso): o motor que propulsiona a estória é a chegada de Basílio, o charmoso primo de Luísa, que chega do Brasil muitos anos depois de se despedir da prima, com quem tivera um breve romance. Basílio volta a Lisboa justamente quando Jorge está numa longa viagem ao interior, e aproveita a ausência do marido da prima para seduzir Luísa, que vai descobrindo em si uma nova pessoa: seu interior, antes preenchido pelo pacato casamento, é ocupado pela abrasante paixão proibida que sente por Basílio. A aventura inconsequente se mostra cara demais quando Juliana, a amargurada empregada de Luísa, descobre a traição da patroa e passa a chantageá-la. Ao longo desta inesquecível estória de adultério, Eça de Queiroz constrói um sólido e ácido retrato da sociedade lisboeta do fim do século XIX.
Nota: 10

Luís F. Passos