sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Filmes pro final de semana - 25/09 - Especial Almodóvar


1. Os amantes passageiros (Los amantes pasajeros, 2013)
Os amantes passageiros é uma história passada nas alturas, num voo que sai de Madri para o México, mas que por problemas no trem de pouso precisa ficar sobrevoando a Espanha enquanto não se descobre uma solução. A tripulação dá soníferos a todos os passageiros da classe econômica, mas os da primeira classe ficam acordados e se transformam em personagens de uma louca comédia: a cafetina de luxo que guarda segredos de homens poderosos, a mulher com poderes sobrenaturais que se apaixona por uma ereção (!!!), um pai que há muito tempo não vê a filha que fugiu de casa, o chefe dos comissários de bordo que é amante do comandante casado. Uma história novelesca e impagável que se afasta um pouco dos dramalhões envolvendo gays e aborda a temática de um modo muito mais leve e divertido. Prova do talento e versatilidade de Almodóvar.
Nota: 8,0/ 10

2. A pele que habito
 (La piel que habito, 2011)
Fúria. Loucura. Paixão. Elementos novelescos e claro, onipresentes da obra de Pedro Almodóvar. Este filme de 2011 ganhou imensa popularidade por trazer esses três elementos com mais intensidade que o normal a ponto de chocar o espectador; muitos o classificam como terror – mas a intenção aqui não é apavorar o espectador, e sim impressionar, e muito. Antônio Banderas interpreta um cirurgião plástico muito competente, um cientista inovador cujo único, mas grande defeito é o desprezo à ética. Um de seus mais promissores e polêmicos trabalhos é o desenvolvimento de uma pele artificial cuja aparência é a da pele humana, mas é mais resistente. E para cobaia, ele usa alguém que fez coisas que o atingiram fortemente naquilo que ele considerava mais precioso. O que? Assista para descobrir. Garanto que é um prazer imenso descobrir os segredos que Almodóvar tem a revelar pouco a pouco e que deixou boquiabertas plateias de todo o mundo.
Nota: 9,0/ 10

3. 
Volver (2006) 
Voltando a trabalhar com fortes personagens femininas, Almodóvar dirige a história das irmãs Raimunda (Penélope Cruz) e  Sole (Lola Dueñas), que perderam os pais num trágico incêndio. O maior destaque da história vai para Raimunda, que logo no início do filme se vê diante da morte do marido pela sua própria filha, que o matara para se defender de abuso sexual. Mãe protetora, Raimunda decide esconder o cadáver para proteger sua filha. Na mesma noite, Sole viaja para o enterro de sua tia Paula, uma idosa debilitada que quando viva jurava para as duas irmãs que era a falecida mãe delas, Irene, quem cuidava dela na velhice - e as irmãs achavam que a tia estava ficando caduca. Mas acontece o impensável: Sole encontra sua falecida mãe mais viva do que nunca no porta-malas de seu carro. Estamos diante do sobrenatural? É a indagação que Almodóvar conduz pelo filme, com sua habilidade única de revelar aos poucos os mistérios de suas obras. Além das marcas do diretor espanhol, Volver tem como principal mérito as atuações de suas protagonistas, vencedoras do prêmio de atuação feminina em Cannes (foram cinco vencedoras empatadas), e talvez a melhor atuação da carreira de Penélope Cruz.
Nota: 8,5/ 10

4. Fale com ela
 (Hable con ella, 2002)
Esse é um dos meus dez filmes favoritos; já o vi várias vezes e sempre me emociono. A história é simples: o repórter Marco (Darío Grandinetti) se envolve com a promissora toureira Lydia (Flores), que ao sofrer um grave acidente entra em estado de coma profundo. Na clínica em que Lydia é internada Marco conhece o enfermeiro Benigno (Javier Cámara), que é apaixonado por sua paciente Alicia. Os dois amigos se veem na mesma situação, buscando o amor de mulheres permanentemente inconscientes - o "fale com ela" do título é um conselho que Benigno dá ao repórter para que este tente diminuir sua dor. Almodóvar utiliza poesia e sutileza para contar essas tristes histórias que se encontram e são tão semelhantes, se afastando um pouco de seu estilo em que personagens femininas e homossexuais se destacam, dando lugar a dois protagonistas masculinos e heterossexuais, e trocando a tradicional turbulência pela delicadeza da dança (inclusive as touradas são suavizadas e comparadas ao balé) e músicas bonitas e tristes, como Cucurrucucu paloma, interpretada por Caetano Veloso.
Nota: 10

5. Tudo sobre minha mãe (Todo sobre mi madre, 1999)
Este longa de 1999 é centrado em Manuela (Cecilia Roth), enfermeira que perde seu único filho num acidente depois de assistir à peça Uma rua chamada pecado. Ela então vai à Barcelona em busca do pai do garoto para dar a notícia, mas não o encontra; quem ela reencontra é a travesti Agrado (Antonia San Juan), sua amiga de muitos anos atrás, e através de quem conhece a freira Rosa (Penélope Cruz), que descobre estar grávida e soropositiva. Manuela se vê mantendo Rosa sob seus cuidados e responsabilidade ao mesmo tempo em que se aproxima do elenco de Uma rua chamada pecado, cuja protagonista Huma (Marisa Paredes) vive Blanche DuBois dentro e fora dos palcos. Com referências ao cinema clássico, Almodóvar mais uma vez constrói perfis femininos através da ótica de um homem crescido entre mulheres, especialmente a figura materna simbolizada por Manuela. O resultado é um filme maravilhoso, vencedor do Prêmio de direção de Cannes e do Oscar de melhor filme estrangeiro.
Nota: 10


Luís F. Passos

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Filmes pro final de semana - 04/09


1. Bravura Indômita
 (True grit, 2010)
Primeiro filme totalmente de cowboys dos Irmãos Coen, Bravura indômita é a segunda adaptação para o cinema do romance homônimo, sendo a primeira de 1969 com John Wayne, que ganhou um Oscar por sua atuação. No longa, Mattie Ross (Hallee Steinfeld) é a filha de um homem morto covardemente por um de seus ajudantes, Tom Chaney (Josh Brolin) e deseja fazer justiça, por mais difícil que seja sua missão. Para isso ela contrata Rooster Cogburn(Jeff Bridges), um caçador de recompensas velho, beberrão e mal humorado. A contragosto de Cogburn, Mattie o acompanha na busca do bandido, apesar de ter apenas 14 anos; a eles se junta LaBoeuf (Matt Damon), um patrulheiro texano que também tem bons motivos para perseguir Chaney. Não surpreendentemente, o trio vai criando afeto aos poucos e acabam se dando bem, unidos na árdua tarefa. Também não surpreendentemente, este é um filmaço. Por ser a segunda versão de um filme tão bem sucedido como foi o de 1969 e ter à frente os talentosos Coen, criou-se uma expectativa imensa e ninguém saiu decepcionado. O elenco é ótimo, o modo como é mostrada a dura realidade do velho Oeste é incrível e o desfecho (que aliás é diferente do filme de 69) é digno de aplausos.
Nota: 9,0/ 10

2. Amor sem escalas
 (Up in the air, 2009)
Ryan (George Clooney) é um profissional de uma empresa que é contratada por outras empresas para demitir seus empregados. Todos os dias ele fica de frente a dezenas de pessoas que nunca viu na vida e diz "seus serviços não são mais necessários". E de um trabalho para outro, Ryan viaja de avião, seu maior prazer. A cada ano ele passa quase trezentos dias fora de casa - aliás, onde é realmente sua casa? Para ele, seu lar são os aeroportos, as salas de espera, as confortáveis poltronas executivas da American Airlines. Tudo na vida de Ryan é emprego, voo, e a meta de acumular dez milhões de milhas aéreas. Para mudar isso, surge o casamento de sua irmã caçula, uma nova colega de trabalho que tem ideias que podem mudar radicalmente seu estilo de vida e uma misteriosa mulher que parece ser sua versão feminina. Uma ótima reflexão sobre a vida que cada um quer levar e sobre a crise econômica de 2008/09.
Nota: 10

3. Beleza Americana
 (American Beauty, 1999)
Um verdadeiro tapa na cara da classe média americana. Lester Burnhan (Kevin Spacey), o protagonista, é um pai de família cansado e entediado na monótona vida de típico trabalhador, com um emprego medíocre e muitas frustrações na vida profissional e pessoal. É casado com a famigerada Carolyn (Annette Bening), uma corretora de imóveis ambiciosa que se esforça para manter as aparências de família feliz, apesar do casamento desgastado, e sufoca a filha adolescente Jane (Thora Birch) com exigências, na tentativa de transformá-la numa garota prodígio. A história pega impulso com o surgimento de Angela (Mena Suvari), colega de Jane, por quem Lester se apaixona no auge de sua crise de meia-idade. A partir daí, a relação da família Burnhan com Angela, com os vizinhos Fitts e consigo mesma se torna uma sátira sobre beleza e satisfação pessoal, apunhalando sem piedade o desgastado sonho americano. O filme é cínico, dinâmico, provocante e envolvente. Merecidamente vencedor de cinco Oscar, incluindo melhor filme, diretor e ator (Spacey).
Nota: 10

4. A Época da Inocência
 (The Age of Innocence, 1993)
Maiores desafios mostram maiores talentos. No cinema não é diferente; filmes complexos ou que precisam de maior cuidado, quando bem feitos, revelam o talento de seu diretor. A Época da Inocência é um exemplo, no caso mais um exemplo, da competência de Martin Scorsese. Fazer um filme de época sem que tudo pareça um baile de fantasias é tarefa árdua, e Scorsese não desapontou. A trama ambientada na aristocracia novaiorquina do século 19 acompanha o jovem casal Newland Archer (Daniel Day-Lewis) e May Welland (Winona Ryder), apaixonados e de casamento marcado. O surgimento da condessa Ellen Olenska (Michelle Pfeiffer), recentemente divorciada de um nobre europeu balança os sentimentos de Newland, que fica dividido entre a noiva angelical e a condessa sedutora. O fato de ser um amor impossível só aumenta o desejo do jovem. As angústias de Newland e Ellen são mostradas através do domínio de câmera que é velho conhecido dos fãs de Scorsese, que também retrata os costumes, vícios e esqueletos no armário de uma sociedade moralista que também tem seu teto de vidro.
Nota: 9,0/ 10

5. Psicose (Psycho, 1960)
Quando Marion Craine (Janet Leigh) rouba uma fortuna de seu patrão e foge em direção à Califórnia, não poderia imaginar o peso de seus atos ao seu futuro - ou o efeito de tal ação ao cinema mundial. Mesmo com um orçamento limitado e diversas adversidades, Alfred Hitchcock conseguiu fazer de Psicose seu mais bem sucedido filme, chocando plateias onde era exibido ao mostrar uma violência praticamente inédita e os lobos em peles de cordeiro que estão em todo lugar. A parada de Marion num motel de beira de estrada, seu breve contato com o dono do lugar, Norman Bates e seu repentino e sangrento assassinato inauguraram uma nova era no terror, mostrando o homem tão cruel quanto qualquer fera sobrenatural.
Nota: 10
 
Luís F. Passos