sábado, 27 de dezembro de 2014

Filmes pro final de semana - 26/12

 2014 foi um ano complicado pra mim em termos de filmes. Acho que dos últimos quatro anos, foi aquele em que vi menos títulos. Cinema? Fui pouco, e boa parte das vezes que eu fui, vi filmes antigos. O próprio blog parou por um tempo. Enfim, pra trazer o blog de volta à ativa, selecionei alguns dos filmes mais recentes que vi em 2014 pra indicar como opções pro último fim de semana do ano:
1. Magia ao Luar (Magic in the Moonlight, 2014)
Vendo os filmes que Woody Allen lançou de 2011 pra cá, a gente vê que ele tá revezando entre um filmaço e um filme bom, mas não tão bom quanto podia ser. Magia ao Luar se enquadra na segunda categoria. Colin Firth interpreta Stanley, que em vestes orientais é o famoso mágico Wei Ling Soo. Stanley é chamado por um amigo de longa data para desmascarar uma bela jovem (Emma Stone) que supostamente tem poderes paranormais e que está desfrutando da generosidade de uma abastada família no sul da França. Stanley é mais um alter ego de Woody: pessimista, ranzinza, cético, hipocondríaco e muito cheio de si. Mas qual não é a surpresa dela ao ver que nem ele, experiente em identificar charlatões, consegue provar que a moça é uma fraude. A relação entre as personagens de Firth e Stone conduzem o filme através dos típicos temas tratados por Woody, e é também uma relação interessante: o mágico vive ofendendo a falsa médium de tudo quanto é jeito, mas ela não se abala - afinal, alguém que passa a vida enganando os outros sabe o valor de palavras verdadeiras.
Nota: 8,0/ 10
2. Hoje eu quero voltar sozinho (2014)
Inspirado no curta-metragem Eu não quero voltar sozinho (2010), do mesmo diretor, o filme é centrado em Leonardo, jovem cego que convive com o bullying e a distância dos colegas de classe, contando com a amizade de apenas uma delas, Giovana. A chegada de um novo aluno, Gabriel, é o ponto de partida pra um processo de mudança, em que Leonardo toma consciência de sua sexualidade e passa a desejar a superação de barreiras que lhe são impostas devido a sua deficiência visual. O resultado é um filme muito bacana e sensível, reconhecido até no Festival de Berlim.
Nota: 8,0/ 10
3. O Lobo de Wal Street (The Woolf of Wall Street, 2013)
Mais uma parceria DiCaprio-Scorsese, dessa vez no frenético ritmo do mercado financeiro de Nova York. Baseado na história real de um agente financeiro que escandalizou os Estados Unidos nos anos 90, o filme acompanha a ascensão meteórica de Jordan Belfort, que começou a trabalhar com negócios que eram mais imorais do que ilegais, e à medida em que via o dinheiro aparecer, entrou de vez na ilegalidade, ao mesmo tempo em que aumentou seu amor por álcool, drogas, aventuras sexuais e outras formas de esbanjar dinheiro. A euforia provocada pelo poder financeiro é passada através de um eufórico Leonardo DiCaprio, em sua melhor forma na pele de Jordan, além de um time excelente de coadjuvantes e do controle hábil da direção de Scorsese, remetendo a ícones de sua carreira como Os Bons Companheiros e Cassino.
Nota: 10
4. Nebraska (2013)
A leve comédia familiar dirigida por Alexander Payne, diretor de Os Descendentes, acompanha a saga do velho e senil Woody Grant (Bruce Dern) em busca do suposto prêmio de 1 milhão de dólares que ganhou, na verdade uma propaganda que chegou pelo correio. Para receber sua fortuna, Woody deve ir até Lincoln, Nebraska, mas como ninguém quer levá-lo, ele decide ir a pé. Seu filho David (Will Forte) é o único que percebe que o pai não vai desistir por nada e resolve levá-lo de carro. No caminho, muita estrada, parentes há muito não vistos e outros de olho no prêmio de Woody. E acima de tudo, a relação entre um pai meio lunático e seu filho que viu a vida sufocar parte de seus sonhos. É a competência de Payne dedicada a um tema que ele provou que domina.
Nota: 9,0/ 10
5. A caça (Jagten, 2012)
Lucas (Mads Mikkelsen) é um professor de jardim de infância que ama seu trabalho, é muito querido por colegas e pais de alunos, e adorado pelas crianças. Ele é muito feliz no seu emprego e na pequena cidade onde vive, apesar do pouco prestígio e retorno financeiro da profissão - fatores que pesaram para o fim de seu casamento, anos atrás. A felicidade da vida de Lucas passa a se esvair quando uma aluna e filha de um de seus melhores amigos, devido a uma série de mal entendidos, o acusa de abuso sexual. Num piscar de olhos, arma-se um circo e o professor de personalidade tão doce é visto como um monstro por toda a cidade, sendo vítima de todo o tipo de agressão por pessoas com as quais cresceu mas que em nenhum momento duvidaram de sua culpa. Um detalhe: o filme não oferece ao espectador nenhuma dúvida da inocência de Lucas, o que aumenta o magnetismo da obra. Um dos melhores filmes que vi em 2014.
Nota: 10

Luís F. Passos

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Filmes pro final de semana - 17/10

1. Clube de Compras Dallas (Dallas Buyers Club, 2013)
Um dos destaques do Oscar desse ano, Clube de Compras Dallas é uma mistura de drama e comédia de humor negro que se passa na metade dos anos 80, quando a AIDS ainda era uma novidade e seu efetivo tratamento um sonho distante. Ron Woodroof (Matthew McConaughey) é um eletricista metido a cowboy e viciado em álcool, cocaína e sexo que vê seu mundo desmoronar ao ser diagnosticado com o vírus HIV. Não conseguindo entrar um programa de testes de uma droga, vai ao México e conhece um médico que combinava diversas vitaminas e proteínas para tratar os soropositivos. De volta aos Estados Unidos, ele começa uma inusitada parceria com o travesti Rayon (Jared Leto) para ajudar os pacientes que não tinham acesso ao tratamento, vendendo drogas ainda não aprovadas pelo FDA e sendo perseguidos pelo governo. A proposta de tratar de um tema pouco corriqueiro é abrilhantada pelas atuações impecáveis de McConaughey e Leto, vencedores do Oscar de melhor ator e coadjuvante, respectivamente.
Nota: 9,0/ 10
2. (500) dias com ela ((500) days of Summer, 2009)
Não, essa não é uma história de amor. A comédia romântica que foge do besteirol americano e conquistou milhões de fãs logo de cara mostra que o relacionamento de Tom (Joseph Gordon-Levitt) e Summer (Zooey Deschanel) não deu certo. Eles se conhecem no emprego, uma empresa de cartões, em que Tom cria cartões (mesmo sendo formado em arquitetura) e Summer, recém chegada na cidade, é secretária. Ele se apaixona logo por ela, mas é meio difícil saber o que se passa na cabeça dela. O filme vai e volta no tempo, viajando pelos 500 dias em que Summer ficou no pensamento de Tom; os bons momentos, as brigas, as muitas vezes em que ele ficou bêbado sofrendo por ela, as situações engraçadíssimas e o que ele levou da relação com a louquinha de olhos verdes. É pra se divertir - ou sofrer - muito.
Nota: 9,5/ 10
3. Maria Antonieta (Marie Antoinette, 2006)
Quando Sofia Coppola lançou Maria Antonieta no Festival de Cannes dividiu opiniões; enquanto uns se levantaram para aplaudir, outros vaiaram o filme. Mas a opinião do público é quase unânime: genial. Deixando de lado o contexto político que antecedeu a Revolução Francesa, o filme foca a vida pessoal da polêmica rainha, desde o acordo firmado por sua família (os Habsburgo, soberanos da Áustria) com a França que arrumou seu casamento com Luís, príncipe herdeiro. Os medos diante do casamento, a distância de seu marido, a demora em engravidar e a vida dentro do ninho de cobras que era a Corte em Versalhes atormentam a jovem princesa, que aos poucos vai criando uma vida em paralelo às obrigações reais: dias inteiros dedicados à escolha de vestidos, chapéus e sapatos, a paixão por doces finos, passeios no campo e pequenas festas regadas a muito vinho e champanhe. Em poucas palavras: é As patricinhas de Beverly Hills do século XVIII. Elogiado pela fotografia que realça os cenários deslumbrantes, pelo figurino vencedor do Oscar e pela trilha sonora composta por rock, Maria Antonieta é mais um grande filme da nova geração dos Coppola.
Nota: 8,5/ 10
4. O iluminado (The shining, 1980)
Se pegarmos a brilhante carreira de Jack Nicholson e a perfeita carreira de Stanley Kubrick veremos que há um ponto de interseção:  O iluminado, filme de terror baseado no livro homônimo de Stephen King. Na trama Nicholson vive Jack Torrance, professor e escritor que passa por um momento difícil e aceita o emprego de zelador no Hotel Overlook, um refúgio nas Montanhas Rochosas do Colorado que passa o inverno fechado devido ao difícil acesso. Jack leva consigo a mulher Wendy (Shelley Duval mais feia que o cão chupando limão) e o pequeno filho Danny (Danny Lloyd), que aparenta ter poderes psíquicos. No gigantesco hotel, os três ficam sozinhos - será mesmo? Kubrick leva por todo o filme a dúvida do que é loucura e do que é sobrenatural sobre os estranhos acontecimentos que pairam a família, especialmente o pai e o filho. A partir de um roteiro simples, o diretor faz um de seus melhores trabalhos através do jogo de cores, da sensação de estar sempre percorrendo labirintos e da tensão constante que deixa o espectador arrepiado com cenas como a famosa do triciclo no corredor ou faz pular da cadeira com coisas simples como a palavra terça-feira sobre o fundo negro. Uma obra-prima.
Nota: 10 
5. Cabaret (1972)
Pra um público que viu o festival de alegria que é Catando na chuva na década de 50 e a fofura bonitinha demais que é Minha linda dama nos anos 60, imagine o choque ao chegar em 72 e ver Cabaret, que sai de cenários elegantes e vai para o subúrbio da Berlim dos anos 30, onde um país arrasado pela Guerra e pela Depressão era campo fértil para a disseminação das ideias totalitaristas e racistas de Hitler. Nesse rebuliço, Brian Roberts (Michael York), jovem americano, chega em Berlim para dar aulas de inglês, e logo conhece Sally Bowles (Liza Minelli), estrela do Kit Kat Club, a casa de shows mais animada da cidade. Sally é uma dançarina que sonha em ser uma grande atriz - típico, não? Mas a história do diretor Bob Fosse consegue ser surpreendentemente original, com seus ótimos números musicais que floreiam amores incompreendidos e ambição; é como diz uma das músicas: "money makes the world go round!". Cabaret também se destaca por dividir os holofotes do Oscar de seu ano com O Poderoso Chefão, faturando os prêmios de direção, atriz, ator coadjuvante (Joey Grey, mestre de cerimônias do Kit Kat e figura essencial no filme), entre outros. 
Nota: 10
Luís F. Passos

sábado, 27 de setembro de 2014

Filmes pro final de semana - 26/09

1. Ninfomaníaca parte 1 (Nymphomaniac part 1, 2013)
Preciso nem dizer quão polêmico foi o filme, né? Um filme de Lars von Trier que foca a compulsão sexual de uma mulher deu muito o que falar. A ninfomaníaca a quem o título se refere é Joe (Charlotte Gainsbourg), que é encontrada ferida e inconsciente num beco pelo gentil e culto Seligman (Stellan Skarsgard); ele a leva para sua casa e ela começa a narrar sobre sua turbulenta vida. Desde cedo Joe descobrira o prazer do sexo, o que, segundo ela, fizera dela uma péssima pessoa, indigna de misericórdia e causadora de muito mal. A sempre competente direção de Trier e seu talento como observador das perturbações do comportamento humano são os guias ideais para conhecer a sofrida mente de Joe.  Um grande filme, mas honestamente, achei superestimado.
Nota: 8,0/ 10

2. Há Tanto Tempo que Te Amo (Il y a longtemps que je t'aime, 2008)
Um dos melhores filmes franceses que já vi - e digo isso mesmo tendo Godard, Truffaut e Renoir na lista. Quando Juliette (Kristin Scott Thomas) sai da prisão depois de quinze anos, vai morar com a irmã mais nova, Léa, e sua família. O que de tão grave ela fez para ficar tantos anos na cadeia não é logo revelado, mas é de conhecimento do marido de Léa, o que o deixa preocupado já que o casal tem duas filhas pequenas. Mas a relação de Juliette com as crianças e a personalidade que aos poucos ela deixa parecer fazem o espectador estranhar que uma pessoa tão gentil tenha cometido um grave crime. Pouco a pouco as coisas são reveladas, e se mostram chocantes. E muito mais chocantes são as justificativas de tais coisas - aquela característica do cinema francês de soltar o bomba no fim do filme. O que digo além disso é: Kristin Scott Thomas define talento.
Nota: 10
3. O Grande Lebowski (The Big Lebowski, 1998)
Jeff Lebowski (Jeff Bridges), mais conhecido como The Dude (o Cara), é um beberrão folgado cuja maior paixão é o boliche. A vida do Dude dá uma sacudida quando traficantes o confundem com um milionário que tem o mesmo nome que ele, pois a mulher do ricaço era viciada. É quando o rico Lebowski, chamado de Big, chama seu xará pobre que as coisas ficam feias pro jogador de boliche: o plano era o Dude negociar com os criminosos o regaste da mulher do Big Lebowski, mas graças à ajuda dos amigos idiotas do Dude, nada dá certo. São os Irmãos Coen mais uma vez trabalhando com figuras fracassadas e tirando situações hilárias e violentas. As mirabolantes tentativas do Dude de sair da enrascada misturam competições de boliche, veteranos neuróticos do Vietnã e até mesmo prêmios do cinema pornô. Impossível não rolar de rir.
Nota: 8,5/ 10
4. Depois de horas (After Hours, 1984)
 A comédia de Scorsese acompanha a louca e impossível sucessão de acontecimentos numa noite na vida de Paul Hackett (Griffin Dune), que trabalha num escritório em Manhattan e é insatisfeito com a sua solidão. Numa noite, enquanto lê num restaurante, Paul conhece uma moça que tinha muito em comum com ele. Papo vai, papo vem, e ela diz que está morando na casa de uma amiga no Soho, tradicional reduto de artistas, e dá o telefone da casa da tal amiga, que é escultora. Mais tarde Paul liga para o número e a moça diz pra ele ir vê-la... e aí começam as desventuras. Ver seu dinheiro voar pela janela do táxi, se sujar todo com a cola que a artista usa nas esculturas e ser confundido com um ladrão de casas são só alguns dos infortúnios que acontecem ao protagonista. Sob a direção ágil e sempre habilidosa de Martin Scorsese, a história de Paul ganha o tom certo de drama e humor.
Nota: 8,5/ 10
5. O dorminhoco (Sleeper, 1973)
Nesse que é um dos principais filmes de Woody Allen na sua primeira fase de trabalho, com longas de comédia escrachada, o diretor interpreta Miles Monroe, um músico que também é proprietário de um restaurante de comida natural. Internado para uma simples cirurgia, Miles acorda duzentos anos depois, numa sociedade autoritária e artificial aos moldes de Admirável Mundo Novo. Fugindo do governo, que quer fazer uma lavagem em seu cérebro, Miles conhece Luna (Diane Keaton), que é tão superficial e artificial quanto qualquer outra pessoa dessa sociedade futurística. Angústias filosóficas sobre o futuro e romances completam o conteúdo da comédia pastelão que já nessa época era carregada da acidez característica de Woody Allen.
Nota: 7,5/ 10

Luís F. Passos

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Filmes pro final de semana - 05/09

1. Na Estrada (On the Road, 2012)
Baseado em um dos livros mais inspiradores do século XX, Na estrada acompanha o aspirante a escritor Sal Paradise (Sam Riley) e a sua vida depois de conhecer o vibrante e meio doido Dean Moriarty (Garett Hedlund), um poço de energia e carisma que se torna seu melhor amigo. Juntos e ao lado de outros amigos que compartilham a vontade de experimentar e conhecer o mundo, os dois vão e voltam pelas estradas americanas, muitas vezes de uma costa a outra, presenciando (e contribuindo com) o nascimento na contra cultura no fim da década de 40. Destaque para a presença de Kristen Stewart, que faz Marylou, a namorada de Dean, e que mesmo fumando maconha ou no meio de cenas de sexo continua com a cara de lerda; e Kirsten Dunst, que interpreta a esposa que Dean mantém em algum canto e como sempre é puro talento. Talvez por ser originado de um livro tão especial para quem o leu, dificilmente Na estrada será chamado de perfeito, mas eu reconheço sua alta qualidade.
Nota: 9,0/ 10
2. Shame (2011)
Um filme polêmico, bastante controverso e incompreendido, mas inegavelmente dotado de uma profundidade emocional elogiável. Shame tem como protagonista Brandon (Michael Fassebender), um executivo solitário que mora em Nova York, mantém um alto padrão de vida e demonstra elegância e sobriedade, mas que debaixo dessa capa austera esconde um forte vício em sexo. Em busca da satisfação, Brandon busca prostitutas, parceiras casuais ou mesmo a masturbação - e apesar da exposição corporal, ele é totalmente recluso. Para perturbar seu mundo fechado, sua irmã Sissy (Carey Mulligan) aparece na cidade e vai morar com ele. É notória a diferença entre os dois: enquanto ele é introspectivo, ela busca a exposição, e o filme mantém o mistério do que os levou à tal confusão e complexidade. Através da sutil direção de Steve McQueen, é mostrada uma jornada pelo submundo emocional de Nova York sobre uma sociedade isolada e incapaz de estabelecer relações interpessoais.
Nota: 9,0/ 10
3. O escafandro e a borboleta (Le scaphandre et le pappillon, 2007)
Uma nova definição de filme lindo. Sensibilidade é a palavra chave da história de Dominique Bauby (Mathieu Amaric), que depois de sofrer um derrame é vitimado pela raríssima síndrome do encarceramento, em que todo o seu corpo fica paralisado, exceto os olhos - sendo que todas as faculddes mentais ficaram preservadas. Para completar, seu olho direito precisa ser ocluído para evitar um ferimento na córnea, e ele fica dependente apenas do esquerdo. Com a ajuda de uma fonoaudióloga, Dominique aprende a se comunicar através de um sistema lento, mas eficiente, a partir do piscar de seu olho. Através da narração de Dominique, vemos como foi sua vida, os diversos erros que ele cometeu com seus entes queridos, a rua relação com seu pai e seus filhos, a amante que nunca o visitou depois da doença e a sua obstinação em compor um livro que se tornaria best-seller. Baseado em fatos reais.
Nota: 10
4. Tiros na Broadway (Bullets over Broadway, 1994)
Tem filmes de Woody feitos pra gargalhar mesmo: aqui temos um bom exemplo. David Shayne (John Cusack) é um jovem e promissor escritor que como todo jovem escritor sonha em ter uma peça exibida na Broadway. Talento ele tinha, o problema era o financiamento. Com a ajuda de alguns amigos, ele chega a um financiador nada convencional: um mafioso da pesada, que em troca da ajuda exige que David aceite sua amante Olive (Jennifer Tilly) no elenco - sendo que ela não tem talento algum. Pra completar, ele tem que aturar o segurança de Olive, um criminoso que vive dando palpites no roteiro e na direção da peça, e até mesmo a estrela Helen Sinclair (Dianne Wiest), veterana dos palcos e protagonista, vive complicando a cabeça do pobre David. O sempre ótimo roteiro de Woody e as ótimas atuações - destaque, claro, pra Dianne Wiest, que venceu seu segundo Oscar de atriz coadjuvante (e o primeiro também foi por filme de Woody, Hannah e suas irmãs).
Nota: 9,5/ 10
5. A estrada da vida (La Strada, 1954)
Cada vez mais gosto do cinema italiano (e reconheço que deveria ver mais), especialmente de Fellini. Em seu quarto filme (e primeiro de projeção internacional) o diretor se afasta do neorrealismo tão frequente desde o pós-guerra e conta, num tom fabulista, a história da miserável Gelsomina (Giuletta Masina, esposa de Fellini), que é comprada pelo artista circense Zampanò (Anthony Quinn). Zampanò faz um truque banal quebrando correntes, e Gelsomina passa a ser sua assistente, atuando como palhaça, quase uma caricatura de Chaplin. A relação dos dois é marcada pela brutalidade do artista e pela simplicidade das emoções de ambos, quase primitivas. Amor e ciúme guiam o enredo que explora a dualidade de suas personagens: a teatralidade que esconde vidas interiores inexploradas.
Nota: 10

Luís F. Passos

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Filmes pro final de semana - 22/08

1. Namorados para sempre (Blue Valentine, 2010)
Malditos tradutores. Malditos. Transformar o título de um sério e triste drama num título de filme adaptação de Nicholas Spark é o fim. Isso porque Namorados para sempre não é, nem de longe, uma história de amor em que todos serão felizes para sempre e blablablá. O que temos aqui é o registro do fim de um casamento, mostrando desde o começo do namoro até o início da ruína do relacionamento. Cindy (Michelle Williams) trabalha num hospital, tem um emprego estável e com chances de crescimento, enquanto Dean (Ryan Gosling) está desempregado e faz bicos - um dos motivos do desgaste da relação. Muitas cenas são ambientadas num motel, para onde eles vão no dia dos namorados para tentar salvar o casamento, mas lá se demonstra ao máximo o quanto tudo está perdido; são momentos de muita tensão em que se vê o grande talento de dois jovens atores, alguns dos maiores nomes dessa nova geração.
Nota: 9,5/ 10
2. Anticristo (Antichrist, 2009)
O filme é muito forte, muito tenso. Inicia com um prólogo em preto e branco e câmera lentíssima em que um casal transa e seu filho pequeno sofre um acidente e cai da janela do apartamento ao som de uma ópera que diz "deixe que eu chore minha cruel sorte". E é esse o principal tema do filme: o sofrimento. A personagem de Charlotte (que não tem nome, assim como o marido) entra num processo de culpa e sofrimento sem fim que começa a destruir sua razão, enquanto o marido (Dafoe), que é psicólogo, tenta ajudá-la. Os dois então vão para uma cabana numa floresta convenientemente chamada Éden, e a partir daí Anticristo põe em questão vários temas religiosos, filosóficos e psicanalíticos. E tudo isso junto a cenas chocantes de sexo, masturbação e violência física. Uma experiência tanto incômoda quanto construtiva - Trier é mais uma vez um sádico que sufoca seus espectadores, mas também se volta para dentro de si, ajustando contas com um episódio de seu passado. É pra quem tem nervos fortes, mas também pra quem quer apreciar uma obra que é tão trágica quanto bela.
Nota: 10
3. Brilho eterno de uma mente sem lembranças (Eternal Sunshine of the Spotless Mind, 2004)
Blessed are the forgetful. O amor visto de um ângulo incomum em Hollywood: a desilusão amorosa e o fim de um relacionamento. Como curar um amor fracassado? A melhor alternativa seria simplesmente esquecer tudo. E se fosse possível? Brilho eterno responde a esta pergunta (e levanta tantas outras) ao mostrar o término do namoro de Joel (Jim Carrey) e Clementine (Kate Winslet) e o tratamento a que ela se submete para apagar Joel de sua mente depois de perceber que não era feliz ao seu lado. Amargurado, Joel decide fazer o mesmo tratamento, mas à medida em que vê sua ex-amada sendo apagada de suas lembranças, descobre que é melhor sofrer ao lembrar dos bons momentos ao lado de Clementine do que não ter memória alguma. A trama, que parece meio impossível ao se ler sobre, na verdade se mostra totalmente plausível ao ser vista - graças ao excelente roteiro, vencedor do Oscar, das atuações de Carrey e Winslet e de um time de coadjuvantes que inclui Kirsten Dunst, Elijah Wood e Tom Wilkinson.
Nota: 10
4. Closer - perto demais (Closer, 2004)
And so it is... impressionante a qualidade e a capacidade de impactar de Closer. Dirigido por ninguém menos que Mike Nichols, veterano diretor de A primeira noite de um homem e Quem tem medo de Virginia Woolf?, Closer aborda quatro pessoas em Londres e suas relações de amor, ciúme e ódio entre elas: a fotógrafa Anna (Julia Roberts), por quem o escritor frustrado Dan (Jude Law) se apaixona e cria uma certa obsessão. Indiretamente graças a Dan, Anna conhece o médico Larry (Clive Owen), com quem se casa, mas mais tarde mantém um caso com Dan. Nesse vai e vem, há também a stripper Alice (Natalie Portman), com quem Dan mantinha um relacionamento, e que também vai se aproximar de Larry. Um drama sólido e intenso que vai muito além da questão de relacionamentos e traições; uma grande produção coroada com a música The blower's daughter.
Nota: 9,0/ 10
5. A Malvada (All about Eve, 1950)
Um clássico importante e interessantíssimo, A Malvada é mais um dos títulos que ficaram infelizes depois de traduzidos. Mas esse detalhe não é nada comparado ao roteiro inesquecível e às atuações ainda mais inesquecíveis, começando pelas protagonistas Bette Davis e Anne Baxter. Bette é Margo Channing, atriz veterana da Broadway, ícone entre os colegas e queridinha dos diretores, que vê sua vida mudar com o aparecimento de Eve Harrigton (Baxter), contratada por ela como assessora. Mas a aparentemente inocente Eve de boba não tem nada, se mostrando um poço de inveja e esperteza, fazendo de tudo para se tornar uma atriz do mesmo nível e prestígio de Margo. Os diálogos são ora ácidos, ora sagazes, mas sempre geniais, como o "apertem os cintos, esta será uma noite turbulenta!" proferido por Margo diante da tensão de uma festa de aniversário.
Nota: 9,,5/ 10

Luís F. Passos

domingo, 10 de agosto de 2014

Stanley Kubrick - Imagens de uma vida

Do ano passado pra cá descobri que tenho um carinho especial por documentários, e quase todos que vi nesse meio tempo foram sobre cinema, especialmente sobre diretores. Dentre esses documentários, o que mais gostei foi aquele sobre o diretor que mais gosto, Stanley Kubrick: Imagens de uma vida (A Life in pictures, 2001). O filme aborda toda a vida do cineasta, desde seu nascimento e infância no Bronx, até seu repentino falecimento na Inglaterra, quando o mundo do cinema foi abalado pela trágica notícia de que um ataque cardíaco tirara a vida de um dos maiores nomes do cinema, pouco depois de concluir seu último filme.
Através de depoimentos de familiares e amigos de infância, é construída a imagem do garoto tímido e afetuoso que não se importava com a escola, preferindo ler, jogar xadrez ou usar a primeira câmera, presente do pai quando tinha oito anos de idade. O interesse pela fotografia o levou a fazer pequenos trabalhos durante a adolescência, até que uma foto de um triste jornaleiro pela ocasião da morte do presidente Roosevelt (1945) lhe deu notoriedade e um emprego na revista Look, uma das maiores revistas ilustradas dos Estados Unidos. E ele tinha apenas 16 anos. A partir daí, Kubrick passou a fotografar o cotidiano de Nova York, fazendo ótimas fotos que são admiradas até hoje. Um tema recorrente nas suas fotografias era o boxe, que foi tema de sua primeira experiência no cinema: o curta documentário Day of the Fight, em 1950. Outros dois curtas foram feitos, até que em 1953, com ajuda financeira do pai, Kubrick dirigiu e produziu Medo e desejo, seu primeiro longa. O filme, que falava de uma guerra fictícia numa floresta, serviu de laboratório para o jovem e entusiasmado Stanley.
Detalhes importante da vida do diretor vão sendo contados a partir dos bastidores dos filmes: o primeiro encontro com Christiane, sua esposa, nas gravações de Glória feita de sangue (1957); os desentendimentos com Kirk Douglas durante a produção de Spartacus (1960) e a decisão de ter total controle sobre seus filmes; a rigorosa censura sobre Lolita (1962); os desafios criativos para conceber o inovador 2001: Uma odisseia no espaço (1968); as ameaças sofridas na Inglaterra motivadas pela temática de Laranja Mecânica (1971); as infinitas repetições de cenas durante as gravações de O Iluminado (1980); os muitos anos buscando temas para filmes até começar a trabalhar em De olhos bem fechados (1999) e todos os desafios da produção deste. Além disso, o amor pela família, pelos amigos, pelos animais, o rigor e meticulosidade do trabalho, a obsessão pelo cinema e o esforço constante de se reinventar. As qualidades de um homem tão conhecido por sua genialidade e manias mas lembrado por seus entes queridos como alguém zeloso e dono de um coração enorme.

Nota: 10

Luís F. Passos

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

A história de Adèle H. - a paixão e a loucura de Truffaut

Baseado nos diários de Adèle Hugo, A história de Adèle H. (L’histoire d’Adèle H., 1975), do diretor francês François Truffaut, é uma grande incursão do diretor pelo território da paixão. Não uma paixão em termos convencionais, mas em nível de obsessão. No centro de tudo, a figura extremamente romântica e desequilibrada de Adèle Hugo, numa interpretação inspirada de Isabelle Adjani, personagem não só real como filha do escrito francês Victor Hugo.
O filme narra a trajetória da jovem pelo perigoso território de sua paixão incontrolável e autodestrutiva pelo tenente inglês Pinson, com quem teve um relacionamento amoroso mal sucedido alguns anos antes do momento temporal em que o filme se desenrola. O longa foca no período de busca de Adèle por seu amado. Movida por sentimentos esperançosos de que havia chances concretas dos dois ficarem juntos, Adèle se lança ao mar e literalmente atravessa o oceano em busca de Pinson. Ao chegar onde ele estava, tudo que encontra é rejeição, desprezo e descaso: Pinson não guarda nenhum traço de sentimento por ela. Incapaz de assimilar esta cruel, mas aceitável, realidade e muito menos de se erguer ou superar o relacionamento fracassado, Adèle usa de todas suas armas em busca de uma tentativa de aproximação com Pinson: perseguição, declarações, humilhações de todos os tipos. Em sua trajetória desesperada em busca de amor, Adèle se despe de qualquer elegância, vaidade, dignidade e, por fim, sanidade, numa espiral de loucura crescente pontuada pela excelente narração de sua personagem enquanto transpõe em escrita poética todos os intensos e desesperados sentimentos que compõem o famoso diário no qual esta obra de Truffaut se baseia. São diversos os caminhos tomados por Adèle e, apesar de possuir uma postura legitimamente psicótica, sua fragilidade a torna uma personagem interessante que nos remete àqueles padrões antiquados de romantismo trágico.
A alma de tudo aqui é mesmo a atuação de Isabelle Adjani. Isabelle faz parte da elite do cinema francês e isto definitivamente não é pouca coisa. Sua atuação é de uma força e de uma sensibilidade enormes. Seja nos momentos de lucidez ou de loucura, Isabelle dá um tom de classe a Adèle e sua beleza é magnética. Muito mais que as atitudes da personagem, é no olhar de Isabelle que conseguimos entender, em parte, pelo que Adèle está passando, seja no olhar esperançoso de quem almeja a realização de seus desejos mais íntimos ao vazio nos olhos de quem já teve sua alma destruída pela incapacidade de realização destes, passando por variações extremadas entre obsessão e melancolia. A complexidade da personagem não se limita a sua relação com Pinson, estendendo-se também a seu passado envolvendo a trágica perda da irmã mais velha, Léopoldine (fato que tem efeito negativo marcante sobre a estrutura psicológica de Adèle, visto que ela apresenta, em alguns momentos, um misto de ressentimento pelo fato de a irmã, tanto em vida quanto em morte, ter ocupado mais holofotes que ela, quanto por saudades desta pela sua perda) e sua relação ambígua entre rejeição e valorização de sua identidade como filha de quem é a depender da situação em que se encontra. De qualquer forma, a interpretação de Isabelle Adjani é impossível de ignorar. Não só para nós como também para o próprio François Truffaut, visto que histórias sobre o processo de gravação deste filme dizem que o diretor desenvolveu por sua musa uma relação de amor impossível/obsessivo similar ao que Adèle desenvolve por Pinson. Também reza a lenda cinematográfica que Isabelle Adjani é avessa a ensaios, então muito do que se vê em cena é sua emoção aflorada genuinamente, o que explica sua potência.
Obs: Isabelle Adjani é uma das poucas atrizes a terem sido indicadas ao Oscar de melhor atriz em interpretação em língua não inglesa. Só para constar, apesar de toda a tradição do cinema francês poucas atrizes francesas foram indicadas à premiação, com destaque para a própria Isabelle Adjani indicada duas vezes – tanto por este filme quanto pelo igualmente ótimo Camille Claudel –, Emmanuelle Riva – a atriz mais velha a ser indicada ao prêmio – Catherine Deneuve e, de uma geração mais moderna, Marion Cotillard (a única vencedora). 

Nota: 8,0/ 10

Lucas Moura

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Filmes pro final de semana - 01/08

1. O Grande Gatsby (The Great Gatsby, 2013)
Love is blindness. A nova adaptação do imortal romance de Scott Fitzgerald (há três anteriores, senso a mais conhecida a dos anos 70 dirigida por Coppola) há muito era aguardada, e foi lançada em maio do ano passado em Cannes. Como não era de se estranhar, o diretor Baz Luhrmann usou e abusou da extravagância para contar a história do misterioso e extravagante Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio), a partir da narração de seu vizinho Nick Carraway (Tobey Maguire). Morando em um verdadeiro palácio em Long Island, Gatsby é quase uma lenda viva, um desafio à imaginação de suas centenas de convidados que todas as semanas lotam sua mansão em festas inacreditáveis regadas a rios de bebidas alcoólicas - isso em plena época da Proibição. Mas por trás da ostentação e futilidade, lembranças do passado que envolvem a linda prima de Nick, Daisy (Carrey Mulligan). O filme peca pelo excesso e é mais uma tentativa de chegar à profundidade do livro que não dá certo, mas não deixa de ser uma boa opção.
Nota: 8,5/ 10
2. Drive (2011)
Drive é uma fábula moderna de ação, suspense e romance, guiados por uma direção aguçada e atores muito competentes. O filme centra-se na relação entre um homem misterioso, o qual nem sabemos o nome, interpretado por Ryan Gosling , que se encontra perdidamente apaixonado por sua jovem vizinha de modo a se dispor a protegê-la de todos os perigos que a envolvem, relacionados a seu marido recém saído da prisão e da máfia que os cercam. Tecnicamente falando, Drive é impecável. A fotografia é belíssima e acompanha as grandes mudanças de tom pelas quais o filme passa. Se num primeiro momento tudo é a magia da descoberta do amor, com paisagens bucólicas e ensolaradas ao entardecer, a metade final é negra, escura, sórdida e violenta. A violência é elevada aos limites conforme o conto torna-se cada vez mais perigoso e envolvente. A relação amorosa entre Ryan Gosling e Carey Mulligan é de uma pureza e uma sensibilidade que contrasta a todo o momento com o extremismo da violência onde aqueles personagens se encontram, tendo este antagonismo alcançado o ápice na já clássica cena do elevador. É quase um conto de fadas na verdade, onde um “príncipe encantado” luta a qualquer preço para defender sua “donzela” em perigo. A diferença é que no lugar de uma armadura de metal temos uma jaqueta prateada e em vez de cavalos brancos, carros envenenados dispostos a intensas cenas de perseguições. Méritos também para a trilha sonora.
Nota: 10
3. Não se preocupe, estou bem! (Je vais bien, ne t'en fais pas, 2006)
Filme simples pelo qual até hoje tenho um especial carinho. Quando Lili (Mélanie Laurant) volta de um curto intercâmbio na Espanha, descobre que seu irmão gêmeo, a quem é muito apegada, fugiu de casa. Aparentemente, por causa de uma séria briga com o pai. Preocupada com a falta de notícias e com a saudade apertando, Lili fica sem comer, adoece e acaba internada num hospital. É a súbita chegada de cartões postais do irmão, cada vez de uma cidade diferente, que dá ânimos à garota e a faz retomar a vida aos poucos, com ajuda dos amigos. Um filme sobre família e autoconhecimento que é coroado pela ótima trilha sonora.
Nota: 8,5/ 10
4. A Escolha de Sofia (Sophie's Choice, 1982)
Pobre, pobre Sofia (Meryl Streep). Até hoje me pergunto quais outras personagens em filmes sofreram mais ou tanto quanto a imigrante polonesa que mora no Estados Unidos e facilmente demonstra que há algo de muito perturbador em seu passado - o que exatamente, só é revelado no fim do filme. A mágoa de Sofia aparenta ser imensa e é difícil de ser escondida. O que é sabido é que ela fora prisioneira num campo de concentração nazista, mas seria o trauma vivido o motivo de tamanha tristeza? Coube a Meryl Streep a interpretação que se tornou ícone entre as vencedoras do Oscar de melhor atriz, pra mim um dos mais merecidos da premiação.
Nota: 8,5/ 10
5. Psicose (Psycho, 1960)
Quando Marion Craine (Janet Leigh) rouba uma fortuna de seu patrão e foge em direção à Califórnia, não poderia imaginar o peso de seus atos ao seu futuro - ou o efeito de tal ação ao cinema mundial. Mesmo com um orçamento limitado e diversas adversidades, Alfred Hitchcock conseguiu fazer de Psicose seu mais bem sucedido filme, chocando plateias onde era exibido ao mostrar uma violência praticamente inédita e os lobos em peles de cordeiro que estão em todo lugar. A parada de Marion num motel de beira de estrada, seu breve contato com o dono do lugar, Norman Bates e seu repentino e sangrento assassinato inauguraram uma nova era no terror, mostrando o homem tão cruel quanto qualquer fera sobrenatural.
Nota: 10

quinta-feira, 24 de julho de 2014

A Culpa é das Estrelas - de quem é a culpa?

Recentemente, fui conferir o último grande hit do cinema, o filme que arranca um mar de lágrimas por todas as sessões em que é exibido e que tanto fez sucesso entre o público, independente de idade ou sexo: A culpa é das estrelas. Baseado em livro homônimo, traz um pouco sobre a vida de uma jovem de 17 anos, Hazel Grace (Shaileene Woodley, boa atriz. Gosto dela), que está lentamente morrendo devido a um câncer com metástase para os pulmões e todas as complicações envolvidas neste processo, um sofrimento que lança muitas limitações em sua vida já há alguns anos. As coisas começam a mudar para Hazel quando ela conhece Augustus, que também tem câncer, a pessoa a qual ela não vai apenas se apaixonar, como viver uma história de amor das mais românticas e trágicas possíveis, enquanto os dois, de mãos dadas, enfrentam os medos pelas suas atuais condições de saúde e também entram num caminho de autodescoberta.
Sim, é um filme bastante emotivo e eu até entendo que muita gente se emocione e imagino que o livro apresente de maneira melhor os momentos dramáticos e cômicos, o que deve torná-lo mais interessante. O ponto é que A culpa é das estrelas é um filme muito clichê. É uma história que já foi contada milhares de vezes em milhares de filmes para o mesmo (ou não) público, com alguns disfarces. Se for parar pra pensar, quantos filmes você já viu em que o maior impedimento para que um romance seja “eternizado” seja a morte (de preferência por doença pra ser mais lento) de uma das pessoas no casal? Tenho certeza que muitas. Isso é porque nada na vida é mais forte que a própria morte e o ideal de a morte ser o elemento de separação física (afinal, eles vão se amar para sempre s2) é algo extremamente romantizado. É o “até que a morte os separe” que está muito mais para um ideal romântico que algo concreto. Enfim, digo isso não num sentido de crítica negativa, pois é uma fórmula que funciona no cinema, e nas artes em geral, há séculos. Em termos de cinema em si, temos obras (inclusive clássicas) muito boas, muito interessantes e muito emocionantes mesmo que se centram também neste núcleo. O ponto é que por ser algo tão retratado – tão clichê – é muito importante dar-se ao trabalho de fazer um grande esforço para que seu clichê funcione de maneira tal que seja diferenciado dos outros colegas clichês. Precisa ter um elemento a mais, algo que arrebate o público de maneira diferente sem ter que conquistá-lo usando a mesma ladainha previsível que todo mundo sabe. No caso do cinema, as maneiras para se apropriar de um clichê de maneira satisfatória são as mais diversas. O estilo artístico do filme, alguma inovação técnica, as maravilhas de uma bela fotografia e principalmente as nuances de um bom roteiro são capazes de fazer uma grande diferença. Falo isso porque, apesar de não parecer, eu conheço e gosto de muitos filmes de romance (e comédias românticas também), mas as que realmente me agradam são as que trazem: personagens reais – não idealizações de homens e mulheres adoravelmente perfeitos, altruístas e blabla –, complicações reais (até dá pra ligar isso à vida de Hazel) e, principalmente, situações reais. O gênero de romance peca muito por tentar forçar as pessoas à emoção. É como se gritassem “VAMOS! AGORA! CHOREM!” quando na verdade os sentimentos mais bonitos podem ser expressos das maneiras mais simples, discretas e cruas que muitas poucas vezes podem ser exprimidas em toda sua potência simplista quando os atores são forçados a closes chorosos e declarações de amor extensas e dramáticas.
Falei isso tudo porque é mais ou menos aí que A culpa é das estrelas peca. Somado a isso, o filme também tem algumas sequências que eu, particularmente, julguei desnecessárias. Não gostei de absolutamente nada em toda a parte Amsterdã do filme e achei boa parte de tudo que aconteceu ali desnecessário – inclusive o primeiro beijo do casal. Ok, o primeiro beijo sucedeu um momento de superação e tudo mais, mas me desculpem se eu não consigo ver o lugar onde a família Frank se escondeu dos nazistas como algo romântico. Tipo, de jeito nenhum. Se alguém consegue, ok. Ok? Ok. Em Amsterdã eles também conhecem um escritor que é o ídolo de Hazel e uma pessoa teoricamente importante na trama, pois a história não contada em seu livro, na visão de Hazel, poderia dar uma luz a ela em relação ao que realmente a preocupa com o câncer: como sua família vai lidar com isso? Qual seria o impacto de sua ausência no núcleo familiar? Esse é um ponto que eu particularmente acho muito nobre na trama e na personagem (pontos para Hazel Grace!). Esse escritor, vivido por William Dafoe (!!!), mostra-se uma pessoa amarga, desprezível e humana. 
Hazel é uma personagem bacana, menina forte e tudo mais. Gostei dela. Não gostei foi de Augustus. Nossa, que cara chato. É extremamente caricato numa tentativa irritante de ser o homem mais sensível, mais divertido, mais amável e mais cool do mundo com suas metáforas bobas, suas frases de efeito, seus maneirismos e todo seu altruísmo. Ele é tão perfeito que chega a ser irritante, sem falar em como o ator que escolheram para fazê-lo é sem sal. As outras personagens da trama não são muito relevantes.
Para não dizer que o filme é todo previsível, ele tem uma ou outra reviravolta. Porém, as reviravoltas por si só são fáceis de anteceder. O filme meio que muda um pouco de foco da primeira metade para a segunda, sendo que a primeira é a melhor. A segunda é interminável e irritantemente dramática, sem falar que dá pra pontuar tudo o que vai acontecer. Dá até pra prever a última fala do filme.
Então, é isso. A culpa é das estrelas. Um filme bom para as pessoas mais emotivas (a fórmula do amor SEMPRE funciona), mas que pra curtir mais é melhor desviar um pouco o olhar pra certos probleminhas. Antes que as pessoas me odeiem, vale lembrar que tudo aqui neste texto é opinião MINHA. Desta forma, vi algumas coisas que gostei, vi coisas que detestei. O ponto aqui é, mais uma vez, a necessidade de clamar por atenção dramática. Respondendo à pergunta no subtítulo do post: a culpa não é das estrelas. A culpa é do roteiro (e da direção. E de Augustus).

Nota: 4,0/ 10

Lucas Moura

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Filmes pro final de semana - 18/07



1. Melancolia (Melancholia, 2011)
Transformar o fim do mundo numa obra de arte de beleza singular- foi o que Lars von Trier fez em Melancolia. Dividido em duas partes, o filme acompanha duas irmãs, Justine (Kirsten Dunst) e Claire (Charlotte Gainsbourg), na iminência do choque de um planeta gigante com a Terra. A primeira parte, intitulada Justine, mostra o casamento desta no castelo de seu cunhado, John. A festa luxuosa é o ponto de partida para o desencadeamento da severa depressão que se abate sobre Justine. Já na segunda parte, surge o misterioso planeta Melancholia, que em sua rota gravitacional passaria próximo à Terra, se bem que para muitos ele colidiria. O filme aborda as diferentes reações diante do fim do mundo, a pequenez do homem diante do universo e outros temas amplos de forma brilhante. Um espetáculo de imagens e sentimentos.
Nota: 10
2. Educação (An Education, 2009)
Charmoso e encantador, Educação é um filme sobre a transição entre adolescência e idade adulta, com todas as expectativas e frustrações dessa fase. Jenny (Carey Mulligan) tem 16 anos e mora com a família num subúrbio de Londres. Inteligente e erudita, Jenny sonha com um diploma de Oxford e uma vida agitada e interessante, ao mesmo tempo em que vive no que chama de tédio da adolescência e aguarda ansiosa seus dias de independência. Quando conhece um carismático homem de mais de trinta anos, Jenny se vê envolvida num mundo novo e elegante, frequentando concertos, restaurantes caros, leilões de arte e outros eventos cheios de glamour - deixando Jenny no dilema entre sua educação formal e o aprendizado que tal vida poderia lhe oferecer. Ótimo em diversos aspectos, tem na atuação da até então pouco conhecida Carey Mulligan um show à parte.
Nota: 9,5/ 10
3. Orgulho e Preconceito (Pride and Prejudice, 2005)
Uma das melhores e mais queridas adaptações para o cinema de clássicos literários, Orgulho e preconceito traz a linda Keira Knightley como a jovem Elizabeth Bennet, uma das poucas cabeças sensatas em meio a uma família de cinco irmãs do interior da Inglaterra. Diferente dela e de sua irmã mais velha, Jane, as três mais novas são desmioladas que só pensam em casar, graças à influência de sua mãe. O que muda o destino das irmãs Bennet é a chegada do rico sr. Bingley à cidade, acompanhado de suas irmãs e do antipático sr Darcy (Matthew Mcfadyen). Enquanto a relação de Jane e Bingley promete seguir um belo caminho, a de Elizabeth e Darcy é cheia de discussões. Mas nada que um enredo não possa mudar.

Nota: 9,0/ 10
4. Clube da luta (Fight club, 1999)
A década de 90 não foi uma das melhores do cinema, mas alguns filmes fizeram história e até hoje são referência para profissionais e público da Sétima arte. Um dos maiores exemplos é Clube da luta, ícone da filmografia de David Fincher, que põe em xeque os valores de uma sociedade guiada pelo consumo e por definições vazias do que é sucesso ou felicidade - "trabalhamos em empregos que não gostamos para comprarmos coisas das quais não precisamos", diz Tyler Durden (Brad Pitt) para o narrador anônimo (Edward Norton). O narrador vive uma vida pacífica demais e é a convivência com Tyler, violento e rebelde, que vai mudá-lo, quando os dois iniciam um grupo que se reúne pra trocar porrada. Isso e a relação com Marla (Helena Bonham Carter), que ele conheceu frequentando grupos dos quais nenhum dos dois precisava. A proposta do filme e os segredos que vão sendo revelados são algo arrebatador que tão cedo não será esquecido. E vou encerrar aqui, afinal a primeira regra do Clube da Luta é não falar sobre o Clube da Luta.
Nota: 10
5. O Desprezo (Le Mépris, 1963)
Para o público mais exigente, a dica é um dos melhores filmes de Godard, e de todos os tempos. O desprezo acompanha a ruína de um casamento a partir de um ato repugnante do marido Paul (Michel Picoli) em relação à sua bela esposa Camille (Brigitte Bardot). Paul, que é convidado a escrever o roteiro de um filme de Fritz Lang, faz vista grossa às investidas do chefe, o produtor Jeremy (Jack Palance) sobre sua esposa - e quando ela percebe, passa a desprezá-lo. Enredo interessante, diálogos tensos e imagens deslumbrantes são alguns dos ingredientes que fazem deste um clássico universal.
Nota: 10

Luís F. Passos