Baseado nos diários de Adèle Hugo, A história de Adèle H. (L’histoire d’Adèle H., 1975), do diretor francês François Truffaut, é uma grande incursão do diretor pelo território da paixão. Não uma paixão em termos convencionais, mas em nível de obsessão. No centro de tudo, a figura extremamente romântica e desequilibrada de Adèle Hugo, numa interpretação inspirada de Isabelle Adjani, personagem não só real como filha do escrito francês Victor Hugo.
O filme narra a trajetória da jovem pelo perigoso território de sua paixão incontrolável e autodestrutiva pelo tenente inglês Pinson, com quem teve um relacionamento amoroso mal sucedido alguns anos antes do momento temporal em que o filme se desenrola. O longa foca no período de busca de Adèle por seu amado. Movida por sentimentos esperançosos de que havia chances concretas dos dois ficarem juntos, Adèle se lança ao mar e literalmente atravessa o oceano em busca de Pinson. Ao chegar onde ele estava, tudo que encontra é rejeição, desprezo e descaso: Pinson não guarda nenhum traço de sentimento por ela. Incapaz de assimilar esta cruel, mas aceitável, realidade e muito menos de se erguer ou superar o relacionamento fracassado, Adèle usa de todas suas armas em busca de uma tentativa de aproximação com Pinson: perseguição, declarações, humilhações de todos os tipos. Em sua trajetória desesperada em busca de amor, Adèle se despe de qualquer elegância, vaidade, dignidade e, por fim, sanidade, numa espiral de loucura crescente pontuada pela excelente narração de sua personagem enquanto transpõe em escrita poética todos os intensos e desesperados sentimentos que compõem o famoso diário no qual esta obra de Truffaut se baseia. São diversos os caminhos tomados por Adèle e, apesar de possuir uma postura legitimamente psicótica, sua fragilidade a torna uma personagem interessante que nos remete àqueles padrões antiquados de romantismo trágico.
A alma de tudo aqui é mesmo a atuação de Isabelle Adjani. Isabelle faz parte da elite do cinema francês e isto definitivamente não é pouca coisa. Sua atuação é de uma força e de uma sensibilidade enormes. Seja nos momentos de lucidez ou de loucura, Isabelle dá um tom de classe a Adèle e sua beleza é magnética. Muito mais que as atitudes da personagem, é no olhar de Isabelle que conseguimos entender, em parte, pelo que Adèle está passando, seja no olhar esperançoso de quem almeja a realização de seus desejos mais íntimos ao vazio nos olhos de quem já teve sua alma destruída pela incapacidade de realização destes, passando por variações extremadas entre obsessão e melancolia. A complexidade da personagem não se limita a sua relação com Pinson, estendendo-se também a seu passado envolvendo a trágica perda da irmã mais velha, Léopoldine (fato que tem efeito negativo marcante sobre a estrutura psicológica de Adèle, visto que ela apresenta, em alguns momentos, um misto de ressentimento pelo fato de a irmã, tanto em vida quanto em morte, ter ocupado mais holofotes que ela, quanto por saudades desta pela sua perda) e sua relação ambígua entre rejeição e valorização de sua identidade como filha de quem é a depender da situação em que se encontra. De qualquer forma, a interpretação de Isabelle Adjani é impossível de ignorar. Não só para nós como também para o próprio François Truffaut, visto que histórias sobre o processo de gravação deste filme dizem que o diretor desenvolveu por sua musa uma relação de amor impossível/obsessivo similar ao que Adèle desenvolve por Pinson. Também reza a lenda cinematográfica que Isabelle Adjani é avessa a ensaios, então muito do que se vê em cena é sua emoção aflorada genuinamente, o que explica sua potência.
Obs: Isabelle Adjani é uma das poucas atrizes a terem sido indicadas ao Oscar de melhor atriz em interpretação em língua não inglesa. Só para constar, apesar de toda a tradição do cinema francês poucas atrizes francesas foram indicadas à premiação, com destaque para a própria Isabelle Adjani indicada duas vezes – tanto por este filme quanto pelo igualmente ótimo Camille Claudel –, Emmanuelle Riva – a atriz mais velha a ser indicada ao prêmio – Catherine Deneuve e, de uma geração mais moderna, Marion Cotillard (a única vencedora).
A alma de tudo aqui é mesmo a atuação de Isabelle Adjani. Isabelle faz parte da elite do cinema francês e isto definitivamente não é pouca coisa. Sua atuação é de uma força e de uma sensibilidade enormes. Seja nos momentos de lucidez ou de loucura, Isabelle dá um tom de classe a Adèle e sua beleza é magnética. Muito mais que as atitudes da personagem, é no olhar de Isabelle que conseguimos entender, em parte, pelo que Adèle está passando, seja no olhar esperançoso de quem almeja a realização de seus desejos mais íntimos ao vazio nos olhos de quem já teve sua alma destruída pela incapacidade de realização destes, passando por variações extremadas entre obsessão e melancolia. A complexidade da personagem não se limita a sua relação com Pinson, estendendo-se também a seu passado envolvendo a trágica perda da irmã mais velha, Léopoldine (fato que tem efeito negativo marcante sobre a estrutura psicológica de Adèle, visto que ela apresenta, em alguns momentos, um misto de ressentimento pelo fato de a irmã, tanto em vida quanto em morte, ter ocupado mais holofotes que ela, quanto por saudades desta pela sua perda) e sua relação ambígua entre rejeição e valorização de sua identidade como filha de quem é a depender da situação em que se encontra. De qualquer forma, a interpretação de Isabelle Adjani é impossível de ignorar. Não só para nós como também para o próprio François Truffaut, visto que histórias sobre o processo de gravação deste filme dizem que o diretor desenvolveu por sua musa uma relação de amor impossível/obsessivo similar ao que Adèle desenvolve por Pinson. Também reza a lenda cinematográfica que Isabelle Adjani é avessa a ensaios, então muito do que se vê em cena é sua emoção aflorada genuinamente, o que explica sua potência.
Obs: Isabelle Adjani é uma das poucas atrizes a terem sido indicadas ao Oscar de melhor atriz em interpretação em língua não inglesa. Só para constar, apesar de toda a tradição do cinema francês poucas atrizes francesas foram indicadas à premiação, com destaque para a própria Isabelle Adjani indicada duas vezes – tanto por este filme quanto pelo igualmente ótimo Camille Claudel –, Emmanuelle Riva – a atriz mais velha a ser indicada ao prêmio – Catherine Deneuve e, de uma geração mais moderna, Marion Cotillard (a única vencedora).
Nota: 8,0/ 10
Lucas Moura
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