O ilustre aniversariante de hoje não é apenas um diretor, e sim um titã do cinema mundial. Martin Scorsese chega aos 70 com uma das mais brilhantes carreiras não só de Hollywood como de todo o mundo. Nascido em Nova York, Scorsese quis ser padre, mas ingressou na Escola de Cinema da Universidade de Nova York, onde produzia curta-metragens, e na década de 70 começou a dirigir longas. Também nessa época conheceu Robert DeNiro, de quem se tornou amigo íntimo e com quem fez uma das mais bem sucedidas parcerias do cinema. 1976 foi o ano em que Scorsese ganhou destaque ao deixar os Estados Unidos boquiabertos com seu incrível Taxi driver, tema do post de hoje.
Travis Bickle (DeNiro)é um cara estranho e solitário que busca emprego numa empresa de táxi alegando que precisava de uma ocupação e que poderia trabalhar várias horas por dia, já que sofria de uma séria insônia. Trabalhando principalmente na madrugada, e nos mais variados bairros dos subúrbios novaiorquinos, Travis presencia diariamente a vida no submundo dos negros pobres, traficantes, drogados e prostitutas, grupos que ele julga ser a escória da cidade e que merecem ser exterminados.
É época das eleições presidenciais, e ao passar pelo comitê de campanha do senador Palantine, Travis conhece uma jovem assessora chamada Betsy (Cybill Shepherd), por quem fica obcecado. O taxista se aproxima de Betsy,e inicialmente ela se interessa por ele, mas se afasta depois que Travis a leva a um cinema pornô - primeiro indício de que a solidão vinha afetando Travis e tirando dele noções básicas de socialização.
Quando Travis conhece Iris (Jodie Foster), uma prostituta de apenas 12 anos, é que ele fica totalmente inconformado com a crueldade do mundo e volta-se contra tudo que ele julga ser errado, querendo liberar toda a agressividade que se acumulou nele por conta de seu isolamento. Primeiro raspa quase todo o cabelo, ficando com um moicano sinistro, depois compra armas e começa a fazer exercícios físicos e de pontaria. Travis quase comete um atentado contra Palentine, mas as vítimas de sua ira serão os cafetões e a máfia que opera no subúrbio.
Ao lado de Touro indomável (Raging Bull, 1980), Taxi driver é considerado o melhor filme de Scorsese, e é o único dele presente na lista de 50 melhores filmes já feitos (da Sight and Sound) e também marca o início de derrotas no Oscar, perdendo a estatueta de melhor filme para Rocky. É bom salientar que Scorsese é um dos maiores injustiçados pela Academia, só recebendo os merecidos prêmios de melhor filme e melhor direção por Os Infiltrados (The Departed, 2006). Enfim, Taxi driver é uma obra-prima sobre obsessão (por Betsy, por Palantine e por Iris), solidão, violência, e é um dos mais crus retratos da periferia de Nova York já feitos - em contraponto à Nova York tão romantizada por outros cineastas, como Woody Allen, que em Manhattan (1979) faz um verdadeiro tributo à cidade. O princípio para a solidão de Travis é ter o que não quer, e não ter o que quer - ou seja, ele provoca a própria solidão. O motorista, num primeiro momento, tentou fazer parte da sociedade da qual
ele era afastado, mas pareceu apenas um bisbilhoteiro. Como não deu certo, ele tentou destruí-la, e por isso
tentou matar Palantine. Ao mesmo tempo, ele estava tão obcecado pela
sordidez do lugar que tentou salvar uma prostituta que não queria ser
salva; não por nobreza, mas simplesmente pela obsessão que tem por ela.
Scorsese pega carona |
Esta não foi a primeira produção em que Martin Scorsese e Robert DeNiro trabalharam juntos, mas foi a primeira a ter grande repercussão. DeNiro faz um Travis difícil de ser imaginado com outro ator senão ele, rude, arrogante, transtornado. O final ainda traz uma interessante comparação entre o vilão que Travis aparenta ser durante boa parte do filme (e que quer ser) e o mocinho que acaba se tornando, mesmo sem querer. Destaque também para Jodie Foster, com apenas catorze anos em seu início de carreira, e desde já chamando a atenção para a grande atriz que viria ser.
Obs1: o subtítulo é uma frase do filme, muito conhecida. Caso ainda não tenha assistido, aproveite a recomendação porque é um dos melhores longas da década de 70 - o que não é pouca coisa.
Obs2: em 1981 um cara chamado John Hinckley Jr. tentou matar o presidente Ronald Reagan, alegando que o fizera para impressionar Jodie Foster, por quem era apaixonado. Hinckley inclusive usava um moicano semelhante ao de Travis. Ainda bem que Reagan saiu inteiro - já pensou?
Luís F. Passos
Nenhum comentário:
Postar um comentário