quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Bastardos Inglórios – vamos reinventar a história?

Hoje vou falar daquele que é um dos mais recentes filmes de Quentin Tarantino, e, para mim, seu melhor filme da década de 2000: Bastardos Inglórios (Inglorious Basterds, 2009). Um filme que consegue ser inovador numa época onde o cinema não é muito inovador. Aliás, inovar é o verbo preferido de Tarantino. O cara surge no começo dos anos 90 com um estilo próprio e fez obras-primas do cinema estadunidense, como Cães de aluguel (Reservoir dogs, 1992) e aquele que talvez seja seu filme mais conhecido, Pulp Fiction (1994).
Mas enfim, Bastardos começa numa casa nos arredores de uma cidadezinha de interior da França ocupada pelos nazistas. Nessa casa, o fazendeiro vê a chegada do Coronel Hans Landa (Christoph Waltz), conhecido como o Caçador de judeus, que está na região à procura de judeus que possivelmente estejam escondidos por ali, mas especificamente a família Dreyfus, que está escondida na casa do fazendeiro há meses, mas que, apesar das constantes visitas dos oficiais nazistas, nunca foram encontrados. Estavam escondidos abaixo do piso da casa, como ratos. Os méritos do Coronel Hans, segundo ele próprio, são atribuídos pelo fato de ele pensar como judeu, ou de entender o que o ser humano é capaz de fazer quando perde sua dignidade. Ele os encontra e mata todos, ou melhor, quase todos, porque a filha daquela família que estava ali escondida, Shosana (Mélanie Laurent), consegue fugir correndo pelos campos ao som do “au revoir, Shosana!” gritado por Landa, que na verdade poderia tê-la matado ali mesmo. Se ele o tivesse feito, o desenrolar do filme poderia ser bem diferente. Esses são os primeiros 15 ou 20 minutos do filme, conhecemos dois dos principais personagens e assistimos uma das cenas que considero estar entre as melhores da filmografia do Tarantino, simplesmente incrível.
Corte para a segunda cena, onde conhecemos os Bastardos Inglórios, um grupo de homens judeus que resolve se infiltrar na França com um único objetivo: matar nazistas. Sem qualquer piedade, para que os outros possam temê-los. É um grupo formado por alguns homens de apelidos simpáticos, como o Urso Judeu, famoso por matar nazistas com golpes feitos com um taco de beisebol. Sutil não? São liderados por Aldo, o apache (Brad Pitt). E temalguns costumes interessantes. Depois de matar, escalpelar os nazistas. Aqueles que saem vivos de seus ataques recebem uma lembrancinha na testa para que todos sempre saibam o que eles fizeram, uma suástica feita por Aldo com uma navalha.
Enquanto isso, um grupo militar dos EUA, a OSS, resolve se unir aos Bastardos para dar um grande golpe no nazismo: eles pretendem explodir o cinema em que será exibida a estréia do filme “O orgulho da nação” estrelado e contando a história de um “herói” de guerra nazista, famoso por matar mais de 200 homens sozinho. Para isso, eles contam com a ajuda da atriz alemã Bridget Von Hammesmark (Diane Krueger) que é espiã inglesa. A explosão no cinema encerraria a guerra, pois os homens que lideram o sistema nazista, como Goebbles e o próprio Hitler estarão lá. 
Além disso, Shosana, que é a dona do cinema em que será a exibição, também quer matar todo mundo que está ali, realizar a vingança judia. A estréia nem seria em seu cinema (como ela foi virar a Srta. Emmanuele Mimieux, dona do cinema, não fica tão claro assim) mas o herói do filme se apaixona pela moça, e resolve mudar a estréia para seu cinema.
Para complicar ainda mais a situação, o Coronel Landa desconfia dessa conspiração feita pelos Bastardos e a OSS e pode acabar, ou não, com os planos de pôr fim à guerra.
Vou contar só uma coisinha: o cinema realmente explode, a galera lá dentro realmente morre (aparentemente não escapa ninguém) e a II Guerra Mundial realmente acaba. Não tem muito problema eu dizer o final, o que é realmente interessante nesse filme é saber como isso vai acontecer. E, pode ter certeza, é bem surpreendente.
Bastardos Inglórios é um filme fantástico, um dos meus filmes preferidos pra dizer a verdade. Tecnicamente falando é um filme muito bom, uma edição legal, uma trilha sonora legal e uma fotografia bem legal. Nessa de fotografia, minha cena preferida é a de Shosana se arrumando para a estréia em seu cinema. Da hora em que ela está olhando pela janela, com bandeiras nazistas ao fundo, à hora em que ela desce as escadas. Muito bom mesmo. O roteiro eu não preciso nem dizer o quanto é bom. Tarantino simplesmente reinventou a história. É como se Bastardos fosse um final alternativo para a II Guerra Mundial. Mistura personagens verdadeiros com fictícios. Enfim, o cara tem que ser muito criativo para fazer uma coisa dessas. O elenco também é ótimo. Destaques para Brad Pitt com seu sotaque forte e meio tosco além de um certo sadismo de Aldo, Mélanie Laurent como a sofrida Shosana (você também pode conferir o trabalho dessa atriz francesa no ótimo O concerto), e, é claro, Christoph Waltz pelo Coronel Hans Landa. Landa é extremamente inteligente, cínico, frio, cruel, tem um humor meio sádico, um homem totalmente desagradável. Waltz compôs muito bem o personagem, não poderia ser melhor. Tarantino fez um “bingo!” ao escolhê-lo para o papel. Confesso que não o conhecia antes de Bastardos e que o único trabalho feito por ele que vi após Bastardos foi Água para elefantes (2011), mas o cara é simplesmente demais.
O filme não foi muito bem lembrado no Oscar não. Foi indicado em algumas categorias, como melhor fotografia, melhor ator coadjuvante (Waltz), melhor filme e melhor diretor. Venceu apenas em melhor ator coadjuvante (Waltz) o qual seria no mínimo injusto se não tivesse ganhado! Mas, particularmente, não concordei com a derrota para Guerra ao Terror em melhor roteiro e torcia sinceramente para que ele ganhasse o melhor filme. Mas é como dizem, Bastardos é daqueles filmes que merece mais que um Oscar, merece ser visto. Visto e elogiado.

por Lucas Moura

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