Bessie (Diane Keaton) vive para cuidar de seu pai doente, Marvin, e de sua tia meio sem noção, Ruth. Cuidar deles é tudo o que ela faz há 20 anos. Após fazer exames, Bessie descobre que tem leucemia e na busca por um doador ela entra em contato com sua irmã mais nova, Lee (Meryl Streep) que vive em Ohio e com quem ela mal fala em 20 anos. Lee tem dois filhos, o mais velho e revoltado Hank (Leonardo Di Caprio), que está em um reformatório por incendiar a casa da família e o mais novo, Charlie, totalmente domesticado. Após receber as notícias sobre sua irmã, Lee decide voltar para casa para fazer os exames, apesar da distância que há entre elas. As duas tiveram uma briga séria em virtude da doença do pai. Enquanto Bessie decidiu sacrificar todos os seus sonhos para cuidar do pai doente, Lee decidiu sair de casa e não deixar que aquilo a impedisse de fazer o que queria fazer de sua vida. Isso não deu tão certo, a começar pelo seu ex-marido, admirado por Hank, e que na verdade batia nele quando ele era criança, motivo pelo qual Lee largou o marido e passou a cuidar dos filhos sozinha. Acredita que só agora está, enfim, conseguindo dar um rumo em sua vida, o que, a meu ver, é muito difícil quando não se têm uma casa para morar e um filho preso num reformatório.
Num primeiro momento as coisas parecem que realmente não vão dar muito certo. Lee e Bessie continuam tendo desentendimentos. Afinal, não dá pra fazer as pazes de uma briga que já dura décadas de uma hora para outra. Hank também não alivia a situação. Porém, aos poucos, a relação da família vai se fortalecendo. Bessie aos poucos começa a conquistar a confiança do sobrinho revoltado e as irmãs começam a se entender. Paralelamente a isso, têm-se a piora da doença de Bessie, acompanhada pela notícia triste de que nem a irmã nem os sobrinhos são compatíveis para realizar o transplante. Vão ter que recorrer ao tratamento por quimioterapia, para tentar prolongar sua vida. Sendo assim, ela não pode mais cuidar do pai e da tia e é chegado um momento de decisão para Lee: largar os três doentes em algum lugar para que passem os últimos momentos de sua vida em hospitais e asilos ou abdicar do que ela acredita ser “viver a sua vida” para dar a atenção e afeto necessários para sua família naquele momento.
As filhas de Marvin (Marvin’s room, 1996) é um filme emocionante, uma história triste e bonita ao mesmo tempo por envolver uma família totalmente desestruturada que no momento de maior necessidade une-se novamente. O filme é cheio de cenas muito bonitas. Entre elas destaco todas, isso mesmo, todas as cenas em que Diane Keaton e Meryl Streep contracenam juntas. Têm-se aí duas das maiores atrizes estadunidenses em atuações de alto nível. Dentre todas essas cenas, a melhor é a das duas conversando e se conhecendo melhor de noite no quarto, em que Lee, que está para se formar em cosmetologia, como ela mesma chama, resolve ajudar a irmã dando um novo visual a sua peruca, pois o cabelo já havia caído com o tratamento. Além dessa, destaco também Bessie e Hank se divertindo com o carro numa praia, momento que marca uma melhora na relação dos dois e a cena final que é uma das mais bonitas que vi recentemente. Não vamos esquecer, logicamente, da divertida tia Ruth que dá uma leveza ao tom dramático do filme na medida e no momento certo. A tia Ruth é uma excelente coadjuvante, muito engraçada. Sofre de uma suposta doença na coluna que lhe causa dores fortes quando é abraçada. Para evitá-la, liga um aparelhinho que fica na sua cintura e que dá impulsos nervosos que aliviam a dor. Esse aparelhinho, estranhamente, quando ligado levanta a porta da garagem. Além disso, ela é totalmente viciada numa novela brega com médicos que passa na televisão cuja protagonista se chama Coral. Ruth fala dessa novela o tempo todo, chega a se arrumar como se fosse para uma festa apenas para assistir a cena do casamento do casal protagonista, e fala tanto no programa que toda a família vê-se entendida da trama confusa e ridícula da novela. Muito divertido. O filme ainda conta com a presença de Robert De Niro como o Dr. Wally, médico de Bessie, que, junto a seu irmão Bob, secretário da clínica, também garantem momentos divertidos na trama.
Um filme excelente com atuações melhores ainda. A parceria Diane Keaton – Meryl Streep deveria ser repetida mais vezes, não porque são, coincidentemente, minhas atrizes preferidas, mas sim porque de fato são ótimas e tem uma sintonia muito boa em cena.
por Lucas Moura
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