Como o título já deixa bem claro, a adaptação americana do drama
dinamarquês homônimo centra-se numa conturbada relação familiar entre dois
irmãos, completamente opostos, bem como na dinâmica instável de uma família marcada
por uma tragédia.
Em Entre irmãos (Brothers, 2009) Tobey Maguire vive Sam, um capitão
do exército estadunidense recrutado para servir por seu glorioso país no
combate em território afegão nos anos 2000. Quando o helicóptero em que estava
é derrubado pela força inimiga, Sam é capturado por guerrilheiros afegãos e,
junto com um colega soldado, é preso e passa por meses de tortura em seu
cativeiro. Tudo o que viveu naquele tempo confinado no meio do deserto, privado
de água, comida e dignidade, somado ao medo extremo, às doses diárias de agressão
física e terror psicológico leva sua mente a um estado extremo de confusão.
Tudo o que fez e tudo que passou no cativeiro vão ter reflexos permanentes em
sua vida ao voltar para casa. Ou poderíamos chamar essa vida de apenas uma
existência pós-guerra?
O fato é que, sim, Sam é resgatado. Falo isso não apenas pelo prazer
de dar um spoiler, mas sim porque este não é o ponto mais importante da trama.
Na verdade, é o gatilho para o que o filme realmente reserva de intenso: a
volta para casa. Como Sam passou meses dado como morto, sua família seguiu em
frente, da melhor maneira possível. O grande responsável por essa tentativa de
restauração de equilíbrio é o irmão recentemente saído da prisão, Tommy (Jake
Gylenhaal), que acaba “ocupando” o espaço deixado por Sam em prol de melhorar
os ânimos das sobrinhas e da cunhada, Grace (Natalie Portman). Claro que rola
um clima entre os dois. Na verdade, todo esse lado do filme é bem coisa de
filme meia boca mesmo, sabe. Absolutamente nada separa este seguimento de Entre
irmãos de um drama de Sessão da tarde. É bem batido. A relação dele com a
cunhada: clichê. A relação de Tommy com o pai: clichê. O fato de o irmão morto
parecer muito melhor que o irmão problemático, porém, vivo com direito a
“preferia estar morto no lugar dele mimimi” (droga, destino!): clichê.
Então, mais uma vez, o ponto
de potência em Entre irmãos é justamente quando a história de Sam como
prisioneiro no Afeganistão – que é meio tendenciosa, diga-se de passagem –
encontra com Tommy e Grace pós-luto. O choque deste encontro dá margem à
instabilidade mental de Sam e o homem até então perfeito, amigável e carinhoso
acaba se apresentando como um animal, irracional e incontrolável. Todos os
méritos para Tobey Maguire que traz o que é, até este momento, seu melhor
trabalho como ator.
A potência dos últimos minutos de Entre irmãos é tanta que isso
acaba equilibrando as falhas que podem ser observadas ao longo do filme. Ele
abusa da visão dos árabes como monstros violentos sem escrúpulos, o que, para
mim, é desconfortável. Por outro lado, numa tentativa de dar uma interpretação
melhor, o filme pode ser contemplado mais como a desconstrução da figura do
herói de guerra e, sobretudo, um drama sobre o efeito nocivo da guerra sobre a
alma e a mente do homem comum. Esse ponto acaba sustentando melhor o filme –
e nos faz relevar racismo, o romance Sessão da Tarde e o drama familiar
previsível de quase toda a projeção.
Obs1: Porque os
EUA tem tanta preguiça de ler legenda? Qual a razão de adaptar em 2009
um filme de 2003, que, pelo que todos dizem, é bem melhor que seu remake?
Ridículo.
Obs2: Entrando
numa onda drama familiares clichês, há alguns mais funcionais, oh. Gosto muito de Gente
como a gente (Ordinary people, 1980).
Obs3: Carey
Mulligan faz um pequeno papel neste filme e é de uma potência incrível. Como
sempre.
Nota: 7/10
Leia também:
Lucas Moura
Nenhum comentário:
Postar um comentário