segunda-feira, 4 de julho de 2016

Spring Breakers - bad girls do it well

Spring Break. Ou recesso de primavera, como poderíamos chamar numa tradução mais literal. Período em que jovens universitários dos EUA tiram um pequeno intervalo em seus estudos e viajam para curtir e aproveitar da melhor maneira possível. Um período marcado por festas e diversão. Um momento para respirar longe dos compromissos e da tediosa rotina da vidinha normal. Parece um paraíso.

Motivadas por essa visão paradisíaca dos dias longe do cotidiano, quatro jovens universitárias, ávidas por novas experiências e por curtir a vida sem restrições, decidem embarcar, rumo à Flórida, para aqueles que seriam os melhores dias de sua vida. Ao longo do caminho, porém, os excessos acabam pesando e mergulhando as quatro num mundo muito mais violento e sério do que elas poderiam imaginar.

Mistura entre o Cult e a MTV orquestrada por Harmony Korine, Spring Breakers (2012) é, estranhamente, bom. O estranho é porque não se espera, antes de ver o filme, que aquilo ali tem alguma qualidade, mas de um modo inesperado o filme é capaz sim de surpreender o espectador, e ainda nos traz uma experiência cinematográfica única, a sua maneira. O interessante aqui é a forma como as protagonistas lidam com o Spring Break em si.  Motivadas pelo desejo intenso de quebrar a monotonia de suas vidas, elas se agarram com muita força à ideia de que tudo aquilo que elas vão viver é a realização de um sonho. E assim é. Sendo um sonho, obviamente, tudo é permitido. Então, o que acontece ao longo de Spring Breakers é a total quebra de limites de qualquer valor social ou moral que se pode levar numa vida normal, digamos assim. Como tudo não passa de um sonho, de um mundo paralelo, vale a pena cometer infrações, assaltos, abusar de drogas e bebidas, serem presas, acabar como amantes de um traficante (James Franco, excelente) e ainda se envolver com uma violenta rixa entre ele e um traficante rival. Tudo é possível. Tudo vale a pena para prolongar os sonhos, para que o Spring Break dure para sempre. O interessante é como elas encaram aquilo tudo como se fosse normal ou no mínimo aceitável. Por mais que estejam drogadas e/ou bêbadas o tempo todo, isso não justifica a completa falta de índole das personagens que são responsáveis pelo tom totalmente amoral de Spring Breakers. Não existe lição de moral neste filme, as personagens não aprendem nada com seus erros ou com a experiência negativa que vivem. Tudo o que importa aqui é: bebida, sexo, drogas e violência. Tudo ao extremo. Claro que essa caracterização não se refere às quatro personagens. Uma delas, Faith (Selena Gomez) é a primeira a desistir daquilo tudo e é a primeira a ir embora quando as coisas começam a entrar em um caminho bem mais obscuro. Na primeira vez que vi Spring Breakers não dei muita atenção à personagem, mas tendo visto uma segunda vezesta se tornou a minha preferida. Isso porque Faith, como o nome sugere, vive num meio bastante religioso e correto, o que é interessante porque coloca a personagem sempre num ponto de vista da famosa culpa cristã, que a persegue até que ela desista de tudo. Afinal, mesmo não concordando com o que as amigas fizeram para conseguir ir para Flórida, Faith resolve ir. É uma cúmplice, no fim das contas. Mas uma moça de respeito de igreja deveria se prestar a esse tipo de coisa? O desconforto entre o que quer e o que foi educada a aceitar ficam evidentes várias vezes ao longo da trama. Também é a única personagemcom um pouco de responsabilidade na cabeça. As demais, sem salvação. É impressionante a banalidade com a qual as personagens encaram as coisas. Detalhe: elas não são vítimas de ninguém hora alguma, e são muito bem responsáveis pelos seus atos.


O tom do filme é frenético e o desenrolar da história é entrecortado por festas, DJs, praias e jovens bêbados gritando, pulando, beijando, fazendo sexo em público, drogando-se, enfim, mais uma vez, tudo é possível. Esse tom de excesso, pelo menos para mim, causou um impacto positivo, de modo que tanto absurdo me deixou curioso para acompanhar a trama até o final. O filme ainda conta com uma trilha sonora e fotografia excelentes. A parte técnica, aliás, me chamou muita atenção. A edição é a responsável pelo tom frenético do filme, que contrasta muitas vezes com momentos de estranha tranquilidade. Spring Breakers, aliás, abusa dos absurdos inclusive neste sentido. Num momento estamos vendo uma cena extremamente violenta sendo que 30 segundos antes temos um ar propositalmente bucólico ao pôr do sol, com um piano tocando Britney Spears enquanto elas dançam ao som da canção com armas na mão e máscaras no rosto, prontas para o ataque. É exatamente esse o estilo de filme que Spring Breakers se propõe a ser. A fotografia é muito interessante, visualmente muito bonita. Das cores sempre muito fortes com ótimo uso de contrastes, no belo pôr do sol da Flórida quando tudo parece mágico, ao contraste de biquínis com tom de neon numa noite de explosão de violência.

Nota: 8/10

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