Spring Break. Ou recesso de primavera, como poderíamos chamar numa
tradução mais literal. Período em que jovens universitários dos EUA tiram um
pequeno intervalo em seus estudos e viajam para curtir e aproveitar da melhor
maneira possível. Um período marcado por festas e diversão. Um momento para
respirar longe dos compromissos e da tediosa rotina da vidinha normal. Parece
um paraíso.
Motivadas por essa visão paradisíaca dos dias longe do cotidiano,
quatro jovens universitárias, ávidas por novas experiências e por curtir a vida
sem restrições, decidem embarcar, rumo à Flórida, para aqueles que seriam os
melhores dias de sua vida. Ao longo do caminho, porém, os excessos acabam
pesando e mergulhando as quatro num mundo muito mais violento e sério do que
elas poderiam imaginar.
Mistura entre o Cult e a MTV orquestrada por Harmony Korine, Spring Breakers (2012) é, estranhamente,
bom. O estranho é porque não se espera, antes de ver o filme, que aquilo ali
tem alguma qualidade, mas de um modo inesperado o filme é capaz sim de
surpreender o espectador, e ainda nos traz uma experiência cinematográfica
única, a sua maneira. O interessante aqui é a forma como as protagonistas lidam
com o Spring Break em si. Motivadas pelo
desejo intenso de quebrar a monotonia de suas vidas, elas se agarram com muita
força à ideia de que tudo aquilo que elas vão viver é a
realização de um sonho. E assim é. Sendo um sonho, obviamente, tudo é
permitido. Então, o que acontece ao longo de Spring Breakers é a total quebra de limites de qualquer valor
social ou moral que se pode levar numa vida normal, digamos assim. Como tudo
não passa de um sonho, de um mundo paralelo, vale a pena cometer infrações,
assaltos, abusar de drogas e bebidas, serem presas, acabar como amantes de um
traficante (James Franco, excelente) e ainda se envolver com uma violenta rixa
entre ele e um traficante rival. Tudo é possível. Tudo vale a pena para
prolongar os sonhos, para que o Spring Break dure para sempre. O interessante é
como elas encaram aquilo tudo como se fosse normal ou no mínimo aceitável. Por
mais que estejam drogadas e/ou bêbadas o tempo todo, isso não justifica a
completa falta de índole das personagens que são responsáveis pelo tom
totalmente amoral de Spring Breakers.
Não existe lição de moral neste filme, as personagens não aprendem nada com
seus erros ou com a experiência negativa que vivem. Tudo o que importa aqui é:
bebida, sexo, drogas e violência. Tudo ao extremo. Claro que essa
caracterização não se refere às quatro personagens. Uma delas, Faith (Selena Gomez)
é a primeira a desistir daquilo tudo e é a primeira a ir embora quando as
coisas começam a entrar em um caminho bem mais obscuro. Na primeira vez que vi Spring Breakers não dei muita atenção à
personagem, mas tendo visto uma segunda vezesta se tornou a minha preferida.
Isso porque Faith, como o nome sugere, vive num meio bastante religioso e
correto, o que é interessante porque coloca a personagem sempre num ponto de
vista da famosa culpa cristã, que a persegue até que ela desista de tudo.
Afinal, mesmo não concordando com o que as amigas fizeram para conseguir ir
para Flórida, Faith resolve ir. É uma cúmplice, no fim das contas. Mas uma moça
de respeito de igreja deveria se prestar a esse tipo de coisa? O desconforto
entre o que quer e o que foi educada a aceitar ficam evidentes várias vezes ao
longo da trama. Também é a única personagemcom um pouco de responsabilidade na
cabeça. As demais, sem salvação. É impressionante a banalidade com a qual as
personagens encaram as coisas. Detalhe: elas não são vítimas de ninguém hora
alguma, e são muito bem responsáveis pelos seus atos.
O tom do filme é frenético e o desenrolar da história é entrecortado
por festas, DJs, praias e jovens bêbados gritando, pulando, beijando, fazendo
sexo em público, drogando-se, enfim, mais uma vez, tudo é possível. Esse tom de
excesso, pelo menos para mim, causou um impacto positivo, de modo que tanto
absurdo me deixou curioso para acompanhar a trama até o final. O filme ainda
conta com uma trilha sonora e fotografia excelentes. A parte técnica, aliás, me
chamou muita atenção. A edição é a responsável pelo tom frenético do filme, que
contrasta muitas vezes com momentos de estranha tranquilidade. Spring Breakers, aliás, abusa dos
absurdos inclusive neste sentido. Num momento estamos vendo uma cena extremamente
violenta sendo que 30 segundos antes temos um ar propositalmente bucólico ao
pôr do sol, com um piano tocando Britney Spears enquanto elas dançam ao som da
canção com armas na mão e máscaras no rosto, prontas para o ataque. É exatamente
esse o estilo de filme que Spring
Breakers se propõe a ser. A fotografia é muito interessante, visualmente
muito bonita. Das cores sempre muito fortes com ótimo uso de contrastes, no
belo pôr do sol da Flórida quando tudo parece mágico, ao contraste de biquínis com
tom de neon numa noite de explosão de violência.
Nota: 8/10
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