sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Filmes pro final de semana - 30/10

1. Que mal eu fiz a Deus? (Qu'est-ce qu-on a fait au Bon Dieu?, 2014)
Pra quem acha que todo filme europeu é cult e difícil, essa comédia é uma ótima chance de derrubar o mito. Aqui temos o casal Claude e Marie Verneuil, brancos, católicos e conservadores, pais de quatro lindas filhas. No início do filme vemos três delas se casando, uma por ano; uma com um judeu, outra com um árabe, a terceira com um chinês. Tudo o que um casal conservador, racista e xenófobo não quer. A "salvação" viria da filha mais nova, Laure, que ao anunciar que estava noiva logo tranquilizou os pais dizendo que seu futuro marido era católico... mas negro e nascido na Costa do Marfim. Ainda por cima, o noivo traz junto uma família tão preconceituosa e superficial quanto a da noiva, o que acrescenta algo ao (fraco) debate sobre racismo.
Nota: 8,0/ 10
2. Dois dias, uma noite (Deux jours, une nuit, 2014)
Destaque no Festival de Cannes do ano passado, esse filme já chama a atenção por sua protagonista, Marion Cotillard, sem dúvida uma das maiores atrizes da atualidade. Marion vive aqui Sandra, trabalhadora de uma pequena empresa que está diante de uma delicada situação. Saindo de uma crise depressiva, Sandra pretende retomar sua vida cotidiana e seu emprego, mas devido a problemas financeiros, a empresa se vê diante da necessidade de corte de funcionários. Seus colegas tiveram de escolher: ou a firma mantinha o quadro completo de funcionários, ou concedia um abono para os que permanecessem. Sandra inicia então uma jornada, porta a porta, para tentar convencer os colegas a desistirem da bonificação anual e mantê-la no emprego. Uma missão difícil, extremamente desconfortável e que aborda a temática da solidariedade versus interesses pessoais. Filme bastante humano que dá um show em sua proposta.
Nota: 10
3. Renoir (2012)
A bela Côte d'Azur, no sul da França, é palco para a arte de Pierre-Auguste Renoir, um dos maiores nomes do Impressionismo e das artes em geral entre o fim do século XIX e início do XX. Vemos a rotina de um Renoir já velho, atormentado pelas dores e limitações físicas impostas por uma artrite reumatoide avançada, mas que continua a executar sua arte com a perfeição de sempre. É a chegada da jovem modelo Andrée e o consequente envolvimento da moça com a família que dá início à ação do filme. Mais do que alguém que faz poses, ela se torna inspiração para o artista, que vê na juventude de Andrée alívio para a saudade da falecida esposa e preocupação com os filhos que estão na guerra. A chegada dos filhos de Renoir, em especial o mais velho, Jean (que viria a se tornar um dos maiores cineastas da história), que também se encanta com Andrée, vai ser motivo de atrito: mágoas de família e discussões a respeito do futuro dos jovens Renoir.
Nota: 8,0/ 10
4. Há tanto tempo que te amo (Il y a longtemps que je t'aime, 2008)
 Cara, como eu gosto desse filme. Eu, todos nós do blog e todo mundo que assiste. Quando Juliette (Kristin Scott Thomas) sai da prisão depois de quinze anos, vai morar com a irmã mais nova, Léa, e sua família. O que de tão grave ela fez para ficar tantos anos na cadeia não é logo revelado, mas é de conhecimento do marido de Léa, o que o deixa preocupado já que o casal tem duas filhas pequenas. Mas a relação de Juliette com as crianças e a personalidade que aos poucos ela deixa parecer fazem o espectador estranhar que uma pessoa tão gentil tenha cometido um grave crime. Pouco a pouco as coisas são reveladas, e se mostram chocantes. E muito mais chocantes são as justificativas de tais coisas - aquela característica do cinema francês de soltar o bomba no fim do filme. O que digo além disso é: Kristin Scott Thomas define talento.
Nota: 10
5. Lila diz (Lila dit ça, 2004)
A beleza e sensualidade de uma jovem loira, associadas à atenção que ela faz questão de chamar para si, fazem o espectador pensar num primeiro momento que está diante de uma nova Lolita. Mas não é o caso. Ao longo do filme é aumentada a complexidade a respeito de Lila e de suas intenções para com Chimo, um jovem descendente de árabes com 19 anos e maturidade de 14. No bairro pobre em que eles vivem em Marselha é criado um micro cosmo, em que todos os vizinhos veem com maus olhos a menina que seduz com incrível naturalidade, equilibrada numa tênue linha entre inocência e perigo. Chimo se vê aturdido diante do primeiro amor, perturbado pela incapacidade de se impor perante Lila e contra seus amigos delinquentes, enquanto que ela permanece em meio a uma tristeza muito motivada pela presença da tia sem caráter que a cria. Ao vermos tais pequenos mas intensos dramas, fica a certeza de um filme excelente.
Nota: 9,0/ 10

Luís F. Passos

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Filmes pro final de semana - 02/10

1. Clube de Compras Dallas (Dallas Buyers Club, 2013)
Destaques do Oscar do ano passado, Clube de Compras Dallas é uma mistura de drama e comédia de humor negro que se passa na metade dos anos 80, quando a AIDS ainda era uma novidade e seu efetivo tratamento um sonho distante. Ron Woodroof (Matthew McConaughey) é um eletricista metido a cowboy e viciado em álcool, cocaína e sexo que vê seu mundo desmoronar ao ser diagnosticado com o vírus HIV. Não conseguindo entrar um programa de testes de uma droga, vai ao México e conhece um médico que combinava diversas vitaminas e proteínas para tratar os soropositivos. De volta aos Estados Unidos, ele começa uma inusitada parceria com o travesti Rayon (Jared Leto) para ajudar os pacientes que não tinham acesso ao tratamento, vendendo drogas ainda não aprovadas pelo FDA e sendo perseguidos pelo governo. A proposta de tratar de um tema pouco corriqueiro é abrilhantada pelas atuações impecáveis de McConaughey e Leto, vencedores do Oscar de melhor ator e coadjuvante, respectivamente.
Nota: 9,0/ 10
2. Maria Antonieta (Marie Antoinette, 2006)
Quando Sofia Coppola lançou Maria Antonieta no Festival de Cannes dividiu opiniões; enquanto uns se levantaram para aplaudir, outros vaiaram o filme. Mas a opinião do público é quase unânime: genial. Deixando de lado o contexto político que antecedeu a Revolução Francesa, o filme foca a vida pessoal da polêmica rainha, desde o acordo firmado por sua família (os Habsburgo, soberanos da Áustria) com a França que arrumou seu casamento com Luís, príncipe herdeiro. Os medos diante do casamento, a distância de seu marido, a demora em engravidar e a vida dentro do ninho de cobras que era a Corte em Versalhes atormentam a jovem princesa, que aos poucos vai criando uma vida em paralelo às obrigações reais: dias inteiros dedicados à escolha de vestidos, chapéus e sapatos, a paixão por doces finos, passeios no campo e pequenas festas regadas a muito vinho e champanhe. Em poucas palavras: é As patricinhas de Beverly Hills do século XVIII. Elogiado pela fotografia que realça os cenários deslumbrantes, pelo figurino vencedor do Oscar e pela trilha sonora composta por rock, Maria Antonieta é mais um grande filme da nova geração dos Coppola.
Nota: 8,5/ 10
3. Orgulho e Preconceito (Pride and Prejudice, 2005)
Uma das melhores e mais queridas adaptações para o cinema de clássicos literários, Orgulho e preconceito traz a linda Keira Knightley como a jovem Elizabeth Bennet, uma das poucas cabeças sensatas em meio a uma família de cinco irmãs do interior da Inglaterra. Diferente dela e de sua irmã mais velha, Jane, as três mais novas são desmioladas que só pensam em casar, graças à influência de sua mãe. O que muda o destino das irmãs Bennet é a chegada do rico sr. Bingley à cidade, acompanhado de suas irmãs e do antipático sr Darcy (Matthew Mcfadyen). Enquanto a relação de Jane e Bingley promete seguir um belo caminho, a de Elizabeth e Darcy é cheia de discussões. Mas nada que um enredo não possa mudar. 
Nota: 9,0/ 10
4. De olhos bem fechados (Eyes wild shut, 1999)
Um médico bem sucedido cujo nome era conhecido pela alta sociedade nova-iorquina (Tom Cruise), casado com uma bela mulher (Nicole Kidman) e pai de uma adorável criança acreditava ter uma vida perfeita. Gostava de ter tudo sob seu controle e acabava menosprezando sua esposa dentro da relação, até o dia em que ela confessa que fantasiou com um oficial da marinha que passou por ela em um hotel. Perturbado pela revelação da esposa, ele parte em busca de aventuras sexuais, sem imaginar a dimensão das consequências de seus atos. Uma aventura que divide o espectador entre o que é real e o que onírico, mas com um final sólido e esperançoso. Um filme que é um dos melhores trabalhos de direção de Kubrick e que quanto mais eu penso sobre, mais fascinado fico. De gravações demoradas e intenso trabalho de edição e pós-produção, De olhos bem fechados foi o último filme do diretor, que faleceu alguns dias depois de mostrar o resultado final aos executivos da Warner, há exatos 15 anos.
Nota: 10
5. Tiros na Broadway (Bullets over Broadway, 1994)
Tem filmes de Woody feitos pra gargalhar mesmo: aqui temos um bom exemplo. David Shayne (John Cusack) é um jovem e promissor escritor que como todo jovem escritor sonha em ter uma peça exibida na Broadway. Talento ele tinha, o problema era o financiamento. Com a ajuda de alguns amigos, ele chega a um financiador nada convencional: um mafioso da pesada, que em troca da ajuda exige que David aceite sua amante Olive (Jennifer Tilly) no elenco - sendo que ela não tem talento algum. Pra completar, ele tem que aturar o segurança de Olive, um criminoso que vive dando palpites no roteiro e na direção da peça, e até mesmo a estrela Helen Sinclair (Dianne Wiest), veterana dos palcos e protagonista, vive complicando a cabeça do pobre David. Mais um exemplo do sempre ótimo roteiro de Woody e das ótimas atuações típicas de sua filmografia - destaque, claro, pra Dianne Wiest, que venceu seu segundo Oscar de atriz coadjuvante (e o primeiro também foi por filme de Woody, Hannah e suas irmãs).
Nota: 9,5/ 10

Luís F. Passos