quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Julie e Julia - bon appétit!

Hoje nosso blog completa quatro meses, e por isso eu, Luís, farei o post de cinema da semana, especialíssimo, com um de meus filmes preferidos, Julie e Julia (Julie and Julia, 2009). O filme conta as trajetórias (reais) de duas mulheres, uma nos anos 1950 e outra nos 2000, inicialmente paralelas, mas que ao longo do filme vão se fundindo. Um filme muito, muito bonito e que consegue ser grandioso na sua simplicidade. São inevitáveis trocadilhos como "um filme delicioso": a comida é o plano de fundo do filme, e serve de elo de ligação entre as protagonistas.

Em 1948, depois de contribuir para a Inteligência americana na Segunda Guerra Mundial, o diplomata Paul Child (Stanley Tucci) e sua esposa Julia (Meryl Streep) chegaram em Paris, onde Paul ocuparia um posto diplomático. Logo de início Julia fica maravilhada com a cozinha francesa, e depois de se arriscar em alguns passatempos como bridge, ela entra na famosa escola de culinária Cordon Bleu, se destacando como uma das melhores alunas da turma. Em uma festa, Julia conhece Louisette Berthole (Helen Carey) e Simone Beck -Simca- (Linda Emond), duas amigas que estavam escrevendo um livro de culinária. Depois de ser aprovada no Cordon Bleu, apesar da implicância da diretora, Madame Brassart, Julia se une a Louisette e Simca para dar aulas para americanas, formando a chamada escola informal L'école de les trois gourmandes, sempre apoiada por Paul. Essas são algumas marcas do casal: compreensão, apoio, amor incondicional.
Já em 2002, Julie Powell (Amy Adams), funcionária pública no Departamento de assistência às vítimas do 11 de setembro, se vê perdida no tempo. Prestes a completar trinta anos, percebe que nunca fez nada de especial, e estava levando uma vida normal demais. Depois de ser enganada por uma antiga colega de faculdade e aparecer na capa de uma vista como fazendo parte de uma "geração perdida", Julie decide fazer um blog, e seu marido Eric (Chris Messina) sugere que ela faça sobre culinária. Surge então a ideia de preparar todas as receitas de Dominando a arte da cozinha francesa, escrito pela americana Julia Child e por duas francesas, com o prazo de um ano. O livro, lançado na década de 60, era uma espécie de "bíblia" culinária para as donas de casa norte americanas e fez de Julia uma espécie de guru gastronômica na terra do Tio Sam.
O livro de Louisette e Simca, que era voltado às americanas que moravam na França, foi rejeitado pela editora e precisava de alguém que o traduzisse para o inglês. As duas decidem convidar Julia a se tornar co-autora, e quando a americana passa a colaborar, o livro ganha mais carisma e acessibilidade. Julia recorria bastante aos conselhos da amiga americana Avis De Voto (Deborah Rush), com quem se correspondia; Avis se tornou peça chave na publicação do livro. Nesse meio tempo, sua irmã Dorothy (Jane Lynch) vai visitá-la, e conhece um amigo de Paul, por quem se apaixona; o casamento é feito pouco tempo depois em Paris. Na ocasião são apresentados os pais de Julia, com atenção para o pai, republicano e admirador do senador McCurthy, que liderou uma caça aos comunistas nos EUA.
Alguns meses depois Dorothy manda uma carta onde diz estar grávida; nesse momento é revelada a grande (e talvez única) decepção de Julie e Paul: não terem filhos. Nessa mesma época a política anti-comunista atinge Paul: ele estava sendo investigado como suspeito de ter ideias esquerdistas, já que servira na China. Mesmo inocentado, Paul é transferido para o sul da França, e depois para outros países europeus, o que fez a conclusão do livro de Julia ser adiada.
Quanto a Julie... seu projeto de fazer as muitas receitas do livro ia dando certo, mas estava desgastando o casal (segundo Erick, "comida demais e sexo de menos"). Julie, que era um pouco egocêntrica, foi se tornando mimada e achava que tudo que importava no mundo era seu blog, chegando a deixar o marido de lado. Seu estresse chega ao extremo quando ela perde uma chance de se tornar conhecida na imprensa, e numa briga com Erick, ele sai de casa. É aí que o projeto se abala, pois Julie fica sem chão.
Depois disso, o filme (para ambas as protagonistas) segue rumos bem interessantes. Dessa vez não conto o final da história, primeiro porque indico (muito, muito) o filme e segundo porque no nosso Cinema de quinta não costumamos fazer isso.O que digo é: o filme é levado de tal forma que o espectador percebe que a comida não é o foco principal, é apenas o elo de ligação entre Julie e Julia, separadas por 50 anos. O verdadeiro tema principal é amor, já que temos dois casais tão felizes, quase perfeitos. Julia e Paul se conheceram quando ela tinha mais de quarenta anos, e nunca mais se separaram; tinham cumplicidade e sabiam apoiar um ao outro quando precisavam. Já Julie e Erick, não parecem ser tão perfeitos assim (Julie chega a dizer que "Julia nunca brigou com o marido"), mas provam ser ideais um para o outro.
Julie e Julia tinham personalidades bem distintas: Julia era forte, decidida, enquanto Julie desistia facilmente e surtava com frequência. O que elas têm em comum é o amor por cozinhar e o talento isso, e os casamentos. ambos bastante felizes.
O enredo é muito bom, mas não é do tipo que vai concorrer a grandes prêmios, o que não pode ser dito do elenco, que é de primeira. A começar por Meryl Streep (minha atriz preferida e considerada por muitos a melhor da atualidade), que como Julia concorreu ao Oscar (2010) pela 16ª vez, perdendo para Sandra Bullock, que concorreu por Um sonho possível (The bind Side, 2010). Julia não é considerada uma personagem muito difícil, mas a atuação de Meryl foi ótima (pra variar), chegando a ganhar o Globo de Ouro de Melhor atriz de Comédia ou Musical (2010). Amy Adams também fez um bom trabalho como a estressada e insegura Julie, se mostrando bastante versátil, já que suas personagens geralmente são muito conturbadas, e Julie é uma pacífica dona de casa. Stanley Tucci, como Paul, também foi muito elogiado; foi escolhido para o papel pela diretora, Nora Ephron, e pela própria Meryl, que ao conhecer a personagem disse que Stanley era o ator certo para interpretá-la. Chris Messina, Linda Emond e Deborah Rush são outros que mandaram bem na telona.
Julie e Erck Powell
Saindo do filme e indo pra vida real: Julia Child e Julie Powell são pessoas que existiram de verdade (existem, no caso de Julie). Julia publicou Mastering the art of French Cook em 1961, e nesses cinquenta anos o livro já teve mais de cinquenta edições. Depois da publicação do livro os americanos mudaram seu jeito de comer, valorizando refeições em família, deixando de lado (quando possível, claro) o fast food. Julia passou a apresentar um programa de TV e se tornou o ícone da culinária americana. Quanto a Julie, seu blog se tornou conhecido nacionalmente, e a partir dele foi feito o livro Julie & Julia, que serviu de base para o filme. Julia faleceu em 2004 com 91 anos; Julie vive em Queens, Nova York e tem 38 anos.

Um comentário:

  1. Voltarei depois para ler o post todo :D
    Sendo um dos seus filmes prediletos deve valer a pena ver!

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