Agora a coisa ficou séria. Poucas vezes falei sobre um livro tão importante aqui no blog, e que também é um de meus livros preferidos. Conheci a história a alguns anos, quando vi o filme na escola, e procurei o livro dada a sua importância no vestibular. Mas bem mais que conteúdo de provas de vestibular, Memórias Póstumas de Brás Cubas é um livro muito divertido e de imenso valor literário.
"Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas". É assim que começa a narração em primeira pessoa feita por Brás Cubas, milionário que depois da morte resolveu escrever suas memórias - sendo, portanto, um defunto-autor, e não um autor defunto. Isento de qualquer compromisso com a sociedade discriminatória e preconceituosa da qual fez parte por toda a vida, Brás Cubas conta sua história sem nenhum pudor.
Filho mais velho de um casal muito rico, Brás Cubas cresceu cheio de mimos e com pouco incentivo a desenvolver talentos. Logo na sua juventude temos um dos mais notáveis acontecimentos do enredo, seu romance com Marcela, mulher de muita beleza e nenhum caráter. O defunto chega a dizer "Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis". O namoro tem fim quando o pai de Brás o manda a Portugal para estudar. Ele volta com diploma de bacharel, mas este é esquecido na gaveta.
Ao longo dos anos Brás Cubas vai se tornando um homem solitário. Os pais morrem, a única irmã se casa e vai morar com o marido, e Brás continua sendo um ilustre solteirão. Duas outras mulheres aparecem para mexer com seu coração: Eugênia (era linda, mas coxa) e mais importante, Virgília. Membro de uma família de importantes políticos, Virgília era uma linda moça por quem Brás se encanta, mas ela é dada em casamento a Lobo Neves, que tinha um belo futuro na política. Anos depois Brás e Virgília se reencontram e se tornam amantes; o caso tem fim quando Lobo Neves é transferido para a província do Pará.
Capa desenhada por Candido Portinari, com o verme citado por Brás Cubas |
A infidelidade, que é recorrente na obra machadiana, é mostrada aqui com o triângulo Brás-Virgília-Lobo Neves. Virgília também é motivo para aumentar a frustração e a amargura de Brás Cubas.
E a ironia, presença obrigatória nos livros realistas de Machado de Assis, aqui é notável a quase todo instante, acompanhada do humor ácido do defunto narrador. Na adaptação para o cinema esse humor foi muito bem aproveitado pelo ator Reginaldo Faria, que interpretou Brás e conseguiu arrancar boas risadas de quem viu o filme.
Inteligente, astuto, inovador. Assim é Memórias Póstumas de Brás Cubas, um de meus clássicos favoritos.
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