Na literatura americana, o escritor Stephen King posiciona-se como maior nome do gênero do terror, e filmes baseados em adaptações de seus livros tornaram-se ícones cinematográficos e grandes elementos de cultura pop, além de serem, os principais destes, representantes deste seleto e excepcional grupo de clássicos do terror que realmente tem grande importância na evolução cinematográfica. O iluminado e Louca obsessão, por exemplo, são grandes adaptações cinematográficas de livros de Stephen King que já fazem parte da história do cinema e são marcantes entre os cinéfilos. Hoje, no entanto, eu estou aqui para falar da primeira adaptação cinematográfica de um conto de Stephen King (seu primeiro, aliás), Carrie, a estranha (Carrie, 1976) um dos filmes mais importantes e reverenciados do cinema da década de 70, criando um estilo de terror pop e voltado para um público adolescente.
Filme de Brian De Palma, Carrie, a estranha nos traz a trajetória da jovem Carrie White (Sissy Spacek), uma menina apática que sofre muito nas mãos das colegas de escola por ser diferente, calada e sem qualquer tipo de presença ou atrativos físicos (o que hoje em dia chamaríamos de bullying, mas que na época não devia ter um termo muito definido). De qualquer forma, a vida escolar de Carrie é um inferno total. Dentro de casa, sua realidade é mais difícil ainda. Ela tem que lidar com uma mãe, Margaret (Piper Laurie), fanática religiosa que atribui qualquer coisa ao pecado da carne, vive numa casa cercada por objetos de cunho religioso que, em vez de trazerem paz de espírito, dão um ar macabro de penitência e sofrimento ao lugar. Ao cometer algum tipo de “pecado”, a jovem é trancada dentro de um armário minúsculo, abarrotado de crucifixos e figuras religiosas e forçada a rezar, rezar, rezar pela remissão de pecados não cometidos. Perante tanta aflição, pressão e sofrimento físico e psicológico, os temores e sentimentos conturbados da pobre Carrie são externados na forma de poderes telecinéticos (capacidade de mover objetos com o poder da mente).
Nos primeiros minutos do filme, temos as garotas da escola no vestiário da escola. Uma cena que tem um tom propositalmente erótico com todas elas nuas e sorridentes, envolvidas pela fumaça dos banhos quentes. Esse é um momento crucial. Durante seu banho, Carrie tem sua primeira menstruação (tardia), que é percebida como a menina não como um evento fisiológico, mas como uma hemorragia. O momento anterior de sensualidade é bruscamente rompido por gritos desesperados da menina que acredita estar morrendo (ela não sabia o que era menstruação porque a repressão sexual imposta por sua mãe é tão intensa que exclui qualquer tipo de manifestação sexual da filha – Margaret, ao descobrir o ocorrido, aponta a filha como pecadora e o sangue como uma forma de castigo divino por ela ter tido pensamentos impuros e um prenúncio a uma futura “perseguição” por garotos). Como as outras garotas reagem? Da pior maneira possível. Inicia-se um show de humilhação (primeiro de muitos) com agressões verbais, risos e absorventes atirados contra Carrie.
O espetáculo no chuveiro é vital para todos os acontecimentos posteriores. Primeiro que a menstruação aparece simbolicamente como o início do descontrole dos poderes telecinéticos, visto sua associação a uma iniciação na vida sexual tão inibida pela presença materna; segundo que uma das garotas envolvidas na brincadeira, Sue Snell (Amy Irving), sentindo-se culpada e arrependida pelo que tinha feito, resolve pedir para que seu namorado, Tommy Ross, leve Carrie ao baile de formatura; terceiro, a punição dada às garotas envolvidas na brincadeira de mau gosto faz com que uma das mais ousadas e populares dentre elas, Chris, comece a odiar Carrie e arquitetar um plano de vingança. Com a ajuda de seu namorado bad boy (John Travolta, ainda desconhecido), decide se vingar com um grande ato final de humilhação. Durante o baile de formatura, vão fazer com que Carrie seja eleita rainha do baile e quando ela subir ao palco para receber sua coroa, levará um banho de sangue de porco, numa cena memorável e eternizada no cinema, que já rendeu várias referências ao filme ao longo dos anos. É após isso, inclusive, que os poderes de Carrie se descontrolam de vez, garantindo o desenrolar trágico para as personagens e inesquecível para nós, espectadores (cinéfilos ou não).
Vários motivos levam Carrie, a estranha a ser considerado um dos melhores filmes de terror de todos os tempos. Brian de Palma construiu um conto muito bem elaborado, muito bem amarrado, muito bem adaptado do livro de Stephen King (apesar de os dois manterem diferenças enormes) com uma reprodução adequada à realidade cruelmente superficial das escolas americanas para construir um verdadeiro pesadelo juvenil, combinado ainda com a figura de uma mãe opressora, agressiva e descontrolada. Sissy Spacek nos traz um de seus melhores trabalhos no filme que a tornou uma das estrelas mais populares dos anos 70 e 80. Sissy constrói uma personagem muito complexa, mesmo falando tão pouco. Na parte inicial, aparece como a Carrie assustada e fraca que aos poucos vai se tornando mais forte conforme seus poderes evoluem, até a grande mudança final para assassina fria de olhar fixo, tudo acompanhado pela excelente trilha sonora que guia o tom das sequências. Tanto na cena do vestiário quanto na cena do baile, a atuação de Sissy é inesquecível. Na primeira, o desespero. Na segunda, o mórbido controle em meio ao caos. Suas expressões faciais, seus gestos, as diferentes formas como a personagem fala conforme as situações e até mesmo os momentos mais ternos de uma Carrie que nem imagina que suas esperanças vão ser totalmente destruídas enquanto nós, espectadores, sabemos de tudo o que vai acontecer. Mesmo sabendo que coisas horríveis acontecerão, é impossível não deixar de defendê-la. Por mais que Carrie se transforme numa assassina, Sissy, Stephen King e Brian de Palma criam uma personagem com a qual é impossível não criar empatia imediata. Quase um sentimento de compaixão mesmo, o que é muito difícil de ter num filme de terror, onde as personagens são descartáveis.
A outra grande atuação do filme fica por conta da mãe fanática brilhantemente interpretada pela ótima Piper Laurie que é muito mais assustadora que a própria filha. O que fala, como fala, como age, é tudo o mais estranho e desconfortável o possível. As cenas entre Sissy e Piper são todas excepcionais, uma das melhores parcerias que vi em filmes com duas gigantes do cinema em pontos altos de suas carreiras (as duas foram indicadas ao Oscar de atriz e atriz coadjuvante, respectivamente).
Vários motivos levam Carrie, a estranha a ser considerado um dos melhores filmes de terror de todos os tempos. Brian de Palma construiu um conto muito bem elaborado, muito bem amarrado, muito bem adaptado do livro de Stephen King (apesar de os dois manterem diferenças enormes) com uma reprodução adequada à realidade cruelmente superficial das escolas americanas para construir um verdadeiro pesadelo juvenil, combinado ainda com a figura de uma mãe opressora, agressiva e descontrolada. Sissy Spacek nos traz um de seus melhores trabalhos no filme que a tornou uma das estrelas mais populares dos anos 70 e 80. Sissy constrói uma personagem muito complexa, mesmo falando tão pouco. Na parte inicial, aparece como a Carrie assustada e fraca que aos poucos vai se tornando mais forte conforme seus poderes evoluem, até a grande mudança final para assassina fria de olhar fixo, tudo acompanhado pela excelente trilha sonora que guia o tom das sequências. Tanto na cena do vestiário quanto na cena do baile, a atuação de Sissy é inesquecível. Na primeira, o desespero. Na segunda, o mórbido controle em meio ao caos. Suas expressões faciais, seus gestos, as diferentes formas como a personagem fala conforme as situações e até mesmo os momentos mais ternos de uma Carrie que nem imagina que suas esperanças vão ser totalmente destruídas enquanto nós, espectadores, sabemos de tudo o que vai acontecer. Mesmo sabendo que coisas horríveis acontecerão, é impossível não deixar de defendê-la. Por mais que Carrie se transforme numa assassina, Sissy, Stephen King e Brian de Palma criam uma personagem com a qual é impossível não criar empatia imediata. Quase um sentimento de compaixão mesmo, o que é muito difícil de ter num filme de terror, onde as personagens são descartáveis.
A outra grande atuação do filme fica por conta da mãe fanática brilhantemente interpretada pela ótima Piper Laurie que é muito mais assustadora que a própria filha. O que fala, como fala, como age, é tudo o mais estranho e desconfortável o possível. As cenas entre Sissy e Piper são todas excepcionais, uma das melhores parcerias que vi em filmes com duas gigantes do cinema em pontos altos de suas carreiras (as duas foram indicadas ao Oscar de atriz e atriz coadjuvante, respectivamente).
Nota: 8/10
Lucas Moura
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