quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O destino mudou sua vida - em defesa das cinebiografias

O destino mudou sua vida (Coal minner’s daughter, 1980) conta a história da cantora de música country Loretta Lynn.
"Na minha vida tudo acontece muito rápido”, com toda certeza. Menina pobre de uma vila de mineradores casa com Doolittle Lynn (Tommy Lee Jones, galego) aos 14 anos de idade e, após certas desavenças do casal, vão morar em outro estado. Lá, tem seus filhos e vivem suas vidinhas simples. Tudo muda quando Doo resolve comprar um violão para Loretta no aniversário de casamento (em vez do anel de noivado que ainda não tinha vindo e que ainda demoraria a vir), sendo que ela nem sabia tocar. Motivo: Doo acreditava que sua mulher era uma grande cantora. A partir daí, os dois passam a viver buscando uma oportunidade de Loretta crescer através de seu talento. É minha parte preferida do filme, os dois fazendo todos aqueles improvisos para tirar fotos de divulgação e indo de gravadora em gravadora, de rádio em rádio pelo país procurando uma oportunidade. Oportunidade conquistada a partir do sucesso de sua primeira música na rádio, sua chegada calorosa a Nashville, capital estadunidense da música country, e de sua amizade e parceria com Patsy Duke. Depois da morte de Patsy, Loretta passa a ser a cantora n°1, mas a fama exagerada também tem seus pontos negativos.
Antes simples e ridiculamente inocente e tímida, Loretta agora vive de luxo e egocentrismo. Não cuida mais dos filhos (mal sabe diferenciar as gêmeas, suas filhas mais novas), não dá muita atenção aos fãs e até mesmo sua longa e forte relação com Doo está enfraquecida. O relacionamento dos dois é o ponto vital do filme, e é através dele que Loretta dá a volta por cima na sequência final.
Sissy Spacek - a ótima atriz de Carrie (1976) e Entre quatro paredes (2001), que infelizmente não faz mais tantos trabalhos, é perfeita no papel de Loretta Lynn. Acho que Sissy tem facilidade com papéis de mocinhas inocentes, no começo Loretta até me lembrava um pouco a irritantemente passiva protagonista de Terra de ninguém, também vivida por ela. A transição de garotinha de 14 anos a celebridade passando por dona de casa e mãe é feita muito bem. Vencedora do Oscar de melhor atriz no ano de 1981. Tommy Lee Jones faz o papel do esperto Doolittle Lynn, sem ficar muito atrás de Sissy. A pior parte relacionada ao seu personagem é seu nome tosco.
O destino mudou sua vida é um filme no estilo clássico de cinebiografia de artista da música, acompanhando toda a trajetória da cantora, passando pelos problemas de sua vida profissional e pessoal. Isso às vezes é ruim para o filme. Às vezes, querer que o espectador acompanhe tudo que acontece na vida da pessoa compromete e muito o ritmo do filme. Certas cinebiografias fazem questão de não nos poupar de nenhum dos muitos sofrimentos da vida dos pobres coitados, e o filme acaba se tornando lento e ás vezes meio cansativo. Piaf (2008) e Johnny e June (2005) são bons exemplos disso aí que estou falando, apesar de gostar muito dos dois. Mas em O destino mudou sua vida isso não é um problema. As coisas realmente acontecem muito rápidas na vida de Loretta e bem assim é o ritmo do filme. Rápido, mas não em exagero. Um ritmo bom de acompanhar. As fases da artista são muito bem distribuídas ao longo do filme, nada de longos planos de sofrimento.
Cinebiografia simples, sem muitas tragédias, divertida quando é preciso, sóbria quando é preciso e boa de assistir. Recomendo.
Obs: esses tradutores brasileiros bebem? O destino mudou sua vida não tem absolutamente nada a ver com Coal minner’s daughter, que numa tradução ao pé da letra seria A filha do mineiro, título que tem tudo a ver com o filme, inclusive com uma das canções finais de Loretta, bonita por sinal.

por Lucas Moura

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