Christian (Ewan McGregor) é um jovem aspirante a escritor londrino que viaja para a vila de Monmarte, nos arredores de Paris, a fim de fazer parte da revolução boêmia que pairava na virada do século XIX para o século XX. Lá chegando, ele conhece Toulouse Lautrec e seu grupo de amigos pobres e boêmios e acaba se envolvendo no trabalho deles: a peça teatral da revolução boêmia, intitulada Espetacular espetacular! Após mostrar seu talento como compositor, em referência clara a A noviça rebelde (The sound of music, 1965), Christian passa a ser o diretor e escritor do show boêmio.
Para conseguir o dinheiro para realizar a peça, Toulouse, Christian e os outros vão buscar em Harold Zidler o financiamento necessário. Zidler é o chefe e mestre de cerimônias do maior cabaré do mundo, o Moulin Rouge, onde as pessoas saem de suas vidinhas sem graça e entram no lugar onde o que reina é a diversão. Uhu!
O problema é: como fazer Zidler aceitar Christian como o novo diretor/escritor de Espetacular espetacular? Toulouse tem a brilhante idéia, então, de fazê-lo se encontrar com Satine (Nicole Kidman) e convencê-la de que realmente é muito talentoso.
Satine é a estrela maior do Moulin Rouge. Apelidada de “sparkling diamond”, é a atração principal do cabaré. Isso fica bem óbvio na sua cena de apresentação. A noite estava um caos, a música alta e agitada, as pessoas cantando e gritando e dançando, a edição rápida faz cortes de todos os tipos na cena, um verdadeiro caos e aí tudo de repente para. As luzes se apagam, apenas uma chuva de papel cintilante picado e aí surge Satine, a estrela, atraindo todas as atenções para si. A partir daquele momento, Christian se apaixona pela cortesã. O problema é que naquela noite não foi só ele que se encantou por Satine, havia o duque.
O Duque é o investidor de Zidler, de quem Zidler tenta conseguir a grana necessária para sua maior ambição: transformar o cabaré Moulin Rouge no teatro Moulin Rouge. Sendo assim, o Duque é, também, o investidor da peça dos boêmios. É claro que o Duque não poria seu dinheiro à toa em um espetáculo “hippie” qualquer cujo lema é “freedom, beauty, truth and love”. Tudo tem seu preço. E o preço é Satine.
Voltando, a confusão começa a ficar mais confusa quando Toulouse consegue fazer com que Christian vá ao encontro de Satine no Elefante, espécie de suíte particular da cortesã. O problema é que a moça acredita que ele é o Duque de quem Zidler havia lhe falado e tenta de todas as maneiras conquistá-lo. Quando descobre que o rapaz é só um pobre escritor, as coisas já estão ainda mais complicadas, pois eles já estão se apaixonando. Amor à primeira canção. Como se não estivesse bizarro o bastante, o verdadeiro Duque aparece enquanto Christian está lá com Satine e os dois, junto aos boêmios e Zidler tem que improvisar na hora o que seria a história de Espetacular espetacular que acaba sendo a de uma cortesã hindu que se vê entre um rico marajá que teoricamente lhe dará a vida confortável que tanto almejou e o amor do pobre tocador de cítara. Muito metafórico.
Satine e Christian se apaixonam, mas tem que se relacionar escondidos pois a moça está prometida ao Duque que, se contrariado, pode acabar com todos e com o Moulin Rouge. Para piorar, ele ainda se torna cada vez mais ciumento e possessivo e mesmo com todos os esforços e as mentiras criativas de muitos para que o relacionamento de Satine e Christian não seja descoberto por ele, esse momento é chegado e sua obsessão é levada ao extremo (numa das melhores cenas do filme, aliás).
O pior é que o mala do Duque não é a única coisa entre o casalzinho. Existem forças mais fortes entre o romance dos dois.
Moulin Rouge (2001) é um dos meus musicais preferidos. Fato. Já vi muitas e muitas vezes e certos momentos ainda me divertem como se fosse a primeira vez que estou vendo o filme (falo da cena de Satine e Christian no Elefante). Está entre os meus favoritos junto a Cabaret (1972), All that jazz (1979) e Sweeney Todd – o barbeiro demoníaco de Rua Fleet (2007). É um musical sobre o amor e sobre como ele é importante em nossas vidas.
O filme passa muito bem por vários estilos. No começo é leve, divertido e aos poucos vai ficando cada vez mais tenso, alcançando tensão máxima na cena do jantar na torre. Daí em diante se torna mais melancólico, até o final trágico.
Tecnicamente falando é um filme muito inovador. A direção de arte e os figurinos são muito interessantes formando cenários perfeitos e cheios de elementos. A edição é bem rápida, toda recortada, os fatos vão passando com muita velocidade num ritmo acelerado, mas não em todos os momentos, apenas nos momentos certos. O filme se faz lento ou veloz quando preciso. A trilha sonora é brilhante. Aqui não se tem exatamente uma trilha sonora original no que se diz respeito a todas as músicas serem novinhas, feitas para o longa, mas tem toda sua originalidade na criatividade. Criatividade, pois muitas das músicas do filme são, na verdade, compostas por partes de grandes sucessos da música existentes. Músicas de The Police, U2 e Madonna são muito bem usadas no filme. A trilha sonora é boa demais!
Além disso tudo de bom, ainda tem as atuações. Jim Broadbent, Ewan McGregor e os demais estão de parabéns, mas Nicole Kidman rouba totalmente a cena. Fato. Satine é uma personagem mais complexa do que parece. Ela se apresenta cantando “cause we are living in a material world, and I’m a material girl”. Dá para ter uma noção dos valores que a moça leva em consideração. E aí, após se apaixonar por Christian, há essa inversão de valores, onde o sentimental passa a ter muito mais peso do que o material, razão pela qual o desprezo ao Duque, o qual tanto lhe interessava conquistar no começo da trama. Seu maior desejo é o de se tornar uma grande atriz, algo que infelizmente não chega a se realizar e que só teria alguma chancezinha de acontecer através do insuportável do Duque. Nicole Kidman acha o tom certo para Satine. Divertida, sensual, melancólica, Satine é muitas em uma só, e para todas elas Nicole acerta em cheio. Não imagino nenhuma atriz que faria seu trabalho melhor. Confesso que Nicole é uma das minhas atrizes preferidas.
Não sou grande fã do diretor Baz Luhrmann. Para mim, a única coisa que ele acertou em cheio na sua carreira foi Moulin Rouge, tendo seus outros filmes várias imperfeições. Gosto de Romeu e Julieta (1996), mas acho que toda aquela mistura entre visual meio moderno com linguagem clássica e aquele visual ficou um pouco estranho. Austrália (2009) parece dois filmes em um só, sendo o primeiro bem mais interessante que o segundo. De divertido, fica quase entediante.
Moulin Rouge só foi premiado no Oscar por direção de arte e figurino, tendo Nicole Kidman amargado uma derrota nada a ver para Halle Berry (ahn?) por A última ceia (Monster’s Ball, 2001) e perdendo melhor filme para Uma mente brilhante (A beautiful mind, 2001). Nada contra o filme de Ron Howard, mas, em minha opinião, é um filme que não conseguiu se posicionar no seu gênero como Moulin Rouge fez, não mesmo.
O filme pode não ser perfeito, mas o considero uma obra-prima dos musicais e o melhor deste gênero destes 10 anos de século XXI. É um filme de exageros. O visual é exagerado em cor e conteúdo, a edição é exagerada, a trilha sonora é exagerada, a fotografia é exagerada, as atuações, por vezes, são exageradas (principalmente com relação a Zidler) mas o exagero aqui dá muito certo.
por Lucas Moura
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