quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças - would you erase me?

Um dos fatores que leva um filme a se tornar popular é a abrangência de seu tema, e nesse quesito poucas coisas se destacam mais que o amor. Isso é, se houver algo mais abrangente que o amor. E falando de amor, consequentemente a gente acaba falando em desilusão. Quem nunca sofreu uma, é porque nunca amou. E é abordando desilusões amorosas que Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (Eternal Sunshine of the Spotless Mind, 2004) se tornou um dos mais cultuados filmes da década passada.
Surpreendendo meio mundo por fazer um filme dramático, Jim Carrey vive Joel, um sujeito tímido e reservado que conhece uma garota muito diferente dele chamada Clementine (Kate Winslet), impulsiva e brincalhona. Os dois começam a namorar e se apegam um ao outro rapidamente, até o dia em que Joel descobre que Clementine fizera um tratamento para removê-lo de sua mente. Conturbado e incapaz de aceitar que o amor dela se acabara, Joel decide se submeter ao mesmo tratamento para esquecê-la. Mas em meio ao processo, quando revivia cada momento com a namorada, ele descobre que tão doloroso quanto lembrar dela e da mágoa consequente, também é apagar da mente todos os bons momentos vividos com ela. Joel então tenta desesperadamente esconder Clementine em lembranças de sua infância e adolescência que ele reprimira, quase todos momentos constrangedores. À medida em que percorre o labirinto de sua mente, só aumenta a certeza de que junto da amada ou não, ele precisa que ela exista.
O roteiro complexo de se explicar mas que é fácil de entender ao assistir é mérito de Charlie Kaufman, roteirista de filmes como Quero ser John Malkovich e especialista em passear pelas confusas cabeças de seus protagonistas. A qualidade do roteiro (associado à ótima direção, claro) nos fazem ignorar o absurdo da ideia de deletar pensamentos e focarmos em Joel e nas redescobertas que ele faz de si mesmo em cada situação do passado que tenta esconder Clementine. Ou seja, nada de ficção científica. Brilho eterno é um filme sobre o amor, romântico, surpreendente, divertido e com um apelo psicanalítico que exalta o valor do sentimento (independente de ser alegria ou tristeza) sobre uma vida vazia a base de pílulas. É necessário amor, ódio, ressentimento, saudade e arrependimento. É necessário tudo, menos esquecer. Por mais tentadora que seja a ideia de se livrar da decepção e das mágoas, é preciso guardar as lembranças, pelo menos por aquilo que foi bom. E já dizia o açougueiro da esquina, o que não mata fortalece.

Obs:
1. Brilho eterno faturou o Oscar de melhor roteiro original, muito merecidamente, e para muitos, deveria levar também o de melhor filme, prêmio para o qual ele nem foi indicado.
2. Outro trunfo do filme é o elenco: seis nomes de muito peso. Jim Carrey e Kate Winslet fazem um trabalho incrível, ambos fora das áreas que costumam atuar - mas quem percebe? Ficaram perfeitos e muito bem entrosados. Além deles, estrelam o filme Kirsten Dunst, Elijah Wood, Tom Wilkinson e Mark Rufallo.
3. Texto pequeno pra um filme tão bom, eu sei. Mas quis evitar spoiler, e também acho que cada pessoa que assista ao filme pode tirar algumas conclusões sobre ele. As que descrevi acima são as mais gerais, às que todo mundo chega. Quem quiser compartilhar conosco suas opiniões, sinta-se a vontade para comentar.

Nota: 10

Luís F. Passos

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