Em 1925 o duque de York, Albert, filho do rei George V, recebeu do pai a missão de discursar para todo o Reino e Império Britânico através do rádio. Acontece que o príncipe era gago, e sua tentativa de discursar foi um fracasso. Sua esposa, Elizabeth, assim como outros membros da família real e da corte vinham há muito tempo buscando um tratamento que pudesse ajudar Albert, já que como filho do rei, havia a necessidade de fazer pronunciamentos.
Passados alguns anos, Elizabeth procura um certo Lionel Logue, mas é logo advertida de que seus métodos eram controversos e pouco ortodoxos. Ela percebe que Logue é um cara que não se deixa impressionar facilmente e que exige igualdade com o paciente, exigindo que aqueles que buscam tratamento é que devem ir até ele, e não o contrário. Mesmo sabendo que seu futuro paciente é o segundo na sucessão ao trono, Logue faz questão que o príncipe vá até seu consultório.
O primeiro contato entre Albert e Lionel é tenso. O terapeuta ignorava todas as convenções e formalidades para se dirigir ao príncipe, e este o achou um desaforado, mas aceitou o tratamento, mesmo relutante. Até porque as técnicas de Logue eram, no mínimo, estranhas, desde exercícios para fortalecer a musculatura do tórax até dançar, gritar e xingar pela sala. Surpreendentemente, a gagueira vai sendo superada aos poucos. Mas em 1936, quando George V falece, muito velho, e o irmão mais velho de Albert, David, assume o trono como Eduardo VIII, Logue percebe que a infância traumática de Albert era a responsável por seu problema, e o príncipe encerra o tratamento por não admitir que o terapeuta falasse de sua família.
Eduardo VIII foi um rei que não tinha olhos para as necessidades de seu país, mas os tinha para sua amante, a americana Wallis Simpson, mulher divorciada duas vezes. Já que a monarquia não permitia seu casamento com Wallis, o rei abdica em favor de seu irmão mais novo. Albert assume o trono como George VI, mas estava inseguro com nunca, o que fez piorar sua gagueira. É aí que ele faz as pazes com Logue e recomeça o tratamento, conseguindo uma melhora satisfatória. Nos anos seguintes, a tensão na Europa vai aumentando, uma nova guerra está prestes a surgir e o novo rei se vê diante de seu maior desafio: ser a voz de uma nação em guerra.
O discurso do rei (The king's speech, 2010), é um belo filme baseado em histórias reais. O rei George VI, pai da rainha Elizabeth II, realmente era gago e se tratou com Lionel Logue, que veio a ser seu amigo íntimo. Claro que tudo isso exigia bastante discrição. O roteiro foi escrito por um ex-gago que se identificou com a história do rei e decidiu escrever sobre o monarca. A história foi barrada por anos (culpa da rainha-mãe, a Elizabeth esposa de George) e voltou a ser escrita anos atrás.
O filme é bom? Muito. A começar pelo elenco, liderado por Colin Firth, cuja brilhante atuação como o rei gago lhe rendeu o Oscar de melhor ator do ano passado. Geoffrey Hush e Helena Bonhan Carter, respectivamente como Logue e Elizabeth, receberam indicações de melhores ator e atriz coadjuvantes. Mas a grandeza não vai muito além dos atores. A história é bonita, o filme é bem feito, mas ele não tem força suficiente pra deixar marcas e ser lembrado por anos. Digo isso porque faturou o Oscar de melhor filme num ano em que tínhamos Cisne negro, 127 horas e A origem no páreo, que pra mim eram mais merecedores de levar a estatueta, especialmente Cisne, que sem dúvida foi o melhor filme de 2011. O Oscar levado pelo diretor também é questionável, já que os diretores de Cisne negro e A rede social eram favoritos nessa disputa. Não que essas coisas diminuam O discurso do rei, mas francamente, acho que ele não entrará para a galeria dos imortais do cinema.
Obs: o outro Oscar levado pelo filme foi o de melhor roteiro original.
Luís F. Passos
Obs: o outro Oscar levado pelo filme foi o de melhor roteiro original.
Luís F. Passos
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