segunda-feira, 25 de junho de 2012

O Espelho dos Nomes - ou “Alice no País das Maravilhas” brasileiro


Há dez anos, a versão mais jovem do autor que vos escreve encarava o livro que se tornaria um marco em sua vida. Um livro colorido, letras grandes, com algumas páginas ilustradas (em tons de roxo ou abóbora), desenhos meigos e esclarecedores, aquele cheirinho de novo, pouco menos de duzentas páginas; assim foi o meu primeiro amor.
Ao encontrar esse livro me deparei com uma relíquia na minha coleção. Toda aquela nostalgia da infância, aquele saudosismo empoeirado, veio à tona. Fui notando como O Espelho dos Nomes, de alguma forma, influenciou em minha trajetória. Pois é, não foi um simples livro de literatura infanto-juvenil. Na verdade, esse livro se trata de algo maior como hoje eu posso perceber.
Minha intenção é fazer com que a nova geração de pais também perceba o valor da literatura infantil na formação das suas crianças. E por que não da literatura infanto- juvenil brasileira?
Inúmeros são os pais que estão desesperados nesse momento com o ócio dos filhos em frente à televisão absorvendo uma programação inútil ou que não conseguem encontram maneiras de arrancar seus pequenos do computador. Enquanto a conta de luz está subindo as notas na escola continuam descendo. Talvez uma ou outra mãe ainda consiga lembrar o último livro que seu filho leu: um tal de Harry Potter, ou talvez um Crepúsculo. Porém pouco deve saber sobre o que se trata...
Infelizmente, títulos de fantasia ainda são ignorados por profissionais da educação até que se tornem bastante rentáveis. Legiões de crianças e adolescentes acabam sendo afetados por isso. É duro dizer, mas é pouco comum gerar o interesse da literatura indo de cara com Machado de Assis. Por que não ir com Marcos Bagno antes?
Se não sabem de quem estou falando, é uma pena. O escritor é mineiro (da cidade de Cataguases), peregrinou pelas principais capitais do Brasil, se formou em Letras e tirou título de doutor pela USP, trabalha como tradutor, escreve tanto ficção quanto artigos, atua em pesquisas na área de linguística e hoje luta contra a discriminação social por meio da linguagem. Um homem com essa bagagem quando se dedica consegue escrever obras primas!
E escreveu...
O Espelho dos Nomes (São Paulo, 2002) é um “Alice no País das Maravilhas” com um diferencial enorme: foi escrito em nossa língua! Ou seja, as poesias (que rimam) e os quebra-cabeças (que fazem sentido) acabam aproximando o leitor da leitura. A aventura do personagem principal Abel (ou Gabriel, Isabel, Miguel, Natanael... um nome para cada capítulo!), acompanhado de um pequenino livro crescente chamado Tomenota, em diferentes missões através de oito espelhos, desvendando os mistérios em cada uma dessas dimensões.
Até agora parece um roteiro bobo e simplório? Bem, dê uma chance ao livro e terá uma aula de português diferente de qualquer outra. Os eventos da narrativa brincam com as possibilidades da nossa língua, questionam as regras desta, mostram as dificuldades dos alunos ao aprendê-la, etc. Isso tudo em um mundo de fantasias aonde os sapos falam saponês, patos fazem prova de grasnática, irmãs Viceversa dizem a mesma coisa sem nunca usar a mesma ordem e Grã-Má-Tica e Matê-Má-Tica são falsos monstros que aterrorizam as pessoas.
Há vários pontos que destacam O Espelho dos Nomes dos outros livros infantis: conta com comentários intrometidos do autor (entre parênteses) conversando com seu leitor, ora explicando, ora apenas entretendo; às vezes, o texto tem sua linearidade desviada com propósito ligado ao acontecimento; une outras formas textuais como teatro e poesia; há contos e enigmas por toda a parte, agradando tanto as meninas quanto aos meninos.
Eu recomendo esse livro não somente aos jovens iniciando a leitura. Recomendo também àqueles já adornados pela idade, sejam homens feitos ou senhoras, pois acredito no potencial ilustrativo deste. E se quiserem saber logo, o final é plausível...
Enfim, não há desculpa se você acabou de ler O Guia do Mochileiro das Galáxias, Alice no País das Maravilhas, Crepúsculo, Harry Potter ou Senhor dos Anéis e agora acha que não há mais nada para ser lido! Sempre haverá um título com uma nova história e um grande potencial para mudar a sua história também. 
O alerta acima serve aos pais da mesma forma. Não há boa literatura apenas em um gênero. Valorizem a fantasia, essa que costuma ser a porta de entrada para o universo textual... Tomenota!
Enfim, peço dez culpas se ofendi.
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Um texto de Guilherme (que não gosta muito de seu nome).

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