De tanto falar de Melancolia (2011) aqui no blog acabei falando algumas vezes da polêmica criada por Lars von Trier em Cannes em seu lançamento, na consequente expulsão do diretor do festival e na talvez consequente vitória de A Árvore da Vida, que faturou a Palma de Ouro. Mas hoje vou tentar ao máximo evitar esse assunto, já que sou muito suspeito pra falar dele pois Melancolia ainda é meu filme favorito, e me prender ao filme de Terrence Malick.
A Árvore da Vida muito resumidamente traz Jack (Sean Penn), um homem de meia-idade que provavelmente é empresário provavelmente lembrando sua infância no seio de uma família conservadora liderada por um pai rígido (Bradd Pitt), que demonstrava o imenso amor que tinha pela esposa e pelos três filhos de um jeito que ele achava certíssimo - opinião completamente diferente da de Jack, que era o mais velho. A ideia de "o homem da casa", ao lado de comportamento estritamente católico, visto por todos como exemplo de pai de família, traz consigo a figura autoritária e quase despótica, que é a mais forte e traumática lembrança da infância do primogênito.
Luís F. Passos
Mallick traz aqui imagens lindas, numa fotografia de tirar o fôlego, acompanhando o crescimento de Jack e seus irmãos. Mas aí vem o início do problema. As imagens são uma coisa soberba, mas falta elos entre cenas - se é que se pode chamar de cenas. É quase uma bagunça. Mas bagunçado mesmo parece o corte aos 17 minutos de filme, quando é mostrado (supostamente) o big bang, surgimento da Terra, asteroides caindo às centenas no planeta, o esfriamento deste e consequente surgimento das primeiras moléculas, células e depois primeiros seres pluricelulares, os primeiros animais terrestres, dinossauros... enfim, o que me levanta a dúvida se tô vendo um filme ou documentário da BBC que a Globo ama exibir. Acontece que há a proposta de se incluir muitos temas no filme, mas todos são tratados com excessiva superficialidade, exceto talvez a relação entre Jack e o pai. Porque boa parte das duas horas do longa são árvores a partir de câmeras que giram, a leveza de tecidos esvoaçando ao vento, a mãe (Jessica Chastain) e seus filhos rodopiando na grama (que parece ser uma fixação constante na obra do diretor) e outras coisas que o deixam etéreo e tiram a paciência de boa parte dos que o viram. Claro, muitos o adoraram, viram nele reflexões sobre a vida, infância, a condição humana dentro do universo... mas francamente, é difícil ver assim logo de cara. Isso porque A Árvore da Vida (The Tree of Life, 2011) não tem consistência suficiente para tanto. Pra mim ele é demasiadamente pretensioso, muito vago e não chega a lugar nenhum, porque nem mesmo o Jack adulto vivido por Sean Penn é consistente; apenas a tristeza e o cansaço são aparentes em seu rosto.
Mas nem tudo é deficiente no filme. Além da fotografia extraordinária, Bradd Pitt faz um ótimo trabalho, dentro das limitações da personagem, e Jessica Chastain foi lançada depois desse filme - estrelando, um ano depois, A hora mais escura, pelo qual foi indicada a melhor atriz no Oscar.
E respondendo à pergunta do subtítulo: o filme é prepotente. Mais parece alguém tentando abraçar o mundo com as pernas e falar de tudo... sem chegar a nada.
Nota: 6,0/ 10
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