Sem dúvida alguma, Martin Scorsese é um de meus diretores favoritos. Seus filmes realistas a ponto de serem crus, envolventes e muito bem feitos são verdadeiras obras de arte cinematográficas, e remetem a sua infância em Nova York, um bairro de descendentes de italianos de religião católica e um tanto violento- daí os filmes violentos, alguns deles relacionados com máfia ítalo-americana. Mais do que isso, Scorsese é um cara realmente apaixonado pelo cinema. Não é só sua profissão, é sua vida. Devido a uma série de problemas de saúde na infância, ele não podia brincar na rua com outras crianças, e sua distração era ir ao cinema com um irmão mais velho. Distração essa que virou paixão, e que ele carregou por toda a vida.
Enfim, ano passado comprei um filme que trazia um comercial em que Scorsese e Clint Eastwood falam da restauração de filmes antigos e da gravação destes em bluray, com qualidade de som e imagem até mesmo superior aos originais. Eastwood falou da recuperação de O Leopardo, inesquecivel drama italiano, e Scorsese falou de Os sapatinhos vermelhos, um de seus filmes favoritos. Apareceram trechos do filme, em que se vê uma mulher de flamejantes cabelos ruivos e sapatilhas vermelhas igualmente destacadas, uma imagem muito bonita. O diretor fala da primeira vez que assistiu ao filme, quando criança, no cinema, e de como se encantou com ele. Tamanho carinho por parte de uma figura como Scorsese despertou minha curiosidade para Os sapatinhos vermelhos, e lá fui eu procurar o tal.
O filme gira em torno da companhia de balé Lermontov; seu frio e profissional diretor Boris Lermontov (Anton Walbrook), o recém contratato regente Julian Craster (Marius Goring) e a recém contratada bailarina Victoria Page (Moira Shearer). Craster é um jovem muito talentoso que conhece Lermontov através de seu professor que é amigo do diretor; este quer usar a inspiração do músico para fazer modificações em músicas conhecidas e assim melhorá-las. A primeira missão que ele dá a Julian é modificar o balé "Os sapatinhos vermelhos", baseado num conto de Hans Christian Andersen, que conta a história de uma menina que calça sapatos vermelhos encantados com as quais dançava muito bem; mas eles eram incansáveis e fizeram a menina dançar até morrer por exaustão. A escolhida para interpretar a menina seria Boronskaja, primeira-bailarina da companhia, mas esta se casa, deixando Victoria como sua provável sucessora; e Lermontov a escolhe para o papel. Aos poucos ela conquista o respeito e a amizade do diretor e do coreógrafo, Ljubov, que apesar de ser muito exigente, ajuda a moça a melhorar sua peformance. Quem também se aproxima de Victoria é Julian, que se apaixona por ela, despertando os ciúmes e a ira de Lermontov. É aí que surge o receio de que a tragédia do balé se repita na vida real.
Apesar de não ter a sorte de ter assistido a Os sapatinhos vermelhos (The red shoes, 1948) no cinema como Scorsese, vi versão restaurada em bluray, e deu pra sentir toda a magia que o filme consegue transmitir. Só assistindo pra saber quão belo é o filme. Tudo, cenário, figurino, elenco, maquiagem. E o filme de maneira geral é excelente. Ótimo roteiro, uma história envolvente que conquista fãs há sessenta e cinco anos, inclusive meninas aspirantes a bailarinas, que viram a personagem de Moira como exemplo, apesar da complexidade psicológica proposta pelos diretores Michael Powell e Emeric Pressburger.
O destaque do elenco vai para Walbrook, numa atuação impressionante, fazendo de Lermontov uma figura de aspecto maligno e manipuladora, e que apesar disso permanece solitário em sua devoção ao balé. Balé este que conduz o espectador por uma viagem; seja pela história dos Sapatinhos vermelhos na sequência de mais de vinte minutos em que Moira mostra muito talento, seja pela trajetória de devoção e auto-destruição de Victoria, que contribuiu para a inspiração de Cisne negro (2010), apesar de ser bem mais leve que o último. Mas em um dos primeiros diálogos entre a bailarina e o diretor, percebemos até que ponto ela leva sua ambição:
Nota: 9,5/10
Leia também:
Cisne negro
Luís F. Passos
O filme gira em torno da companhia de balé Lermontov; seu frio e profissional diretor Boris Lermontov (Anton Walbrook), o recém contratato regente Julian Craster (Marius Goring) e a recém contratada bailarina Victoria Page (Moira Shearer). Craster é um jovem muito talentoso que conhece Lermontov através de seu professor que é amigo do diretor; este quer usar a inspiração do músico para fazer modificações em músicas conhecidas e assim melhorá-las. A primeira missão que ele dá a Julian é modificar o balé "Os sapatinhos vermelhos", baseado num conto de Hans Christian Andersen, que conta a história de uma menina que calça sapatos vermelhos encantados com as quais dançava muito bem; mas eles eram incansáveis e fizeram a menina dançar até morrer por exaustão. A escolhida para interpretar a menina seria Boronskaja, primeira-bailarina da companhia, mas esta se casa, deixando Victoria como sua provável sucessora; e Lermontov a escolhe para o papel. Aos poucos ela conquista o respeito e a amizade do diretor e do coreógrafo, Ljubov, que apesar de ser muito exigente, ajuda a moça a melhorar sua peformance. Quem também se aproxima de Victoria é Julian, que se apaixona por ela, despertando os ciúmes e a ira de Lermontov. É aí que surge o receio de que a tragédia do balé se repita na vida real.
Apesar de não ter a sorte de ter assistido a Os sapatinhos vermelhos (The red shoes, 1948) no cinema como Scorsese, vi versão restaurada em bluray, e deu pra sentir toda a magia que o filme consegue transmitir. Só assistindo pra saber quão belo é o filme. Tudo, cenário, figurino, elenco, maquiagem. E o filme de maneira geral é excelente. Ótimo roteiro, uma história envolvente que conquista fãs há sessenta e cinco anos, inclusive meninas aspirantes a bailarinas, que viram a personagem de Moira como exemplo, apesar da complexidade psicológica proposta pelos diretores Michael Powell e Emeric Pressburger.
O destaque do elenco vai para Walbrook, numa atuação impressionante, fazendo de Lermontov uma figura de aspecto maligno e manipuladora, e que apesar disso permanece solitário em sua devoção ao balé. Balé este que conduz o espectador por uma viagem; seja pela história dos Sapatinhos vermelhos na sequência de mais de vinte minutos em que Moira mostra muito talento, seja pela trajetória de devoção e auto-destruição de Victoria, que contribuiu para a inspiração de Cisne negro (2010), apesar de ser bem mais leve que o último. Mas em um dos primeiros diálogos entre a bailarina e o diretor, percebemos até que ponto ela leva sua ambição:
(Boris) - Por que você quer dançar?Eu recomendo, pra quem puder, ver a versão restaurada, que existe disponível pra download nos torrents da vida. A imagem é muito mais nítida e podemos ver as cores brilhantes, especialmente o vermelho dos sapatinhos e dos cabelos da protagonista, que parecem flamejar enquanto ela dança - melhor que nas versões desgastadas, em que o vermelho mais parecia marrom.
(Victoria) - Por que você quer viver?
- Eu não sei exatamente o porquê... mas eu preciso.
- Essa é a minha resposta também.
Nota: 9,5/10
Leia também:
Cisne negro
Luís F. Passos
Nenhum comentário:
Postar um comentário