segunda-feira, 6 de maio de 2013

Tropa de Elite 2 - "o Sistema é f*, parceiro"

Nove anos depois de garantir o sono do papa ao expulsar traficantes de várias favelas da zona Oeste do Rio de Janeiro, o agora tenente-coronel Nascimento (Wagner Moura) é um homem mais maduro, ainda mais eficaz, com menos cabelo e mais solitário. Nascimento, à época dos acontecimentos do filme anterior, não confiou na capacidade de seu substituto, André Mathias (André Ramiro), de liderar sozinho sua equipe, e estendeu sua permanência no BOPE; o problema é que quanto mais ele permanecia, mais seu casamento ruía, a ponto de chegar ao fim. Nascimento então passa a se dedicar integralmente à Polícia Militar, sobe sua patente, e ao chegar ao posto de tenente-coronel, recebe o comando de todo o batalhão.
O filme começa com uma rebelião em Bangu 1, presídio que abriga os mais perigosos traficantes do estado, onde Beirada (Seu Jorge) inicia uma rebelião para matar seus rivais, e acaba fazendo reféns. O BOPE é chamado, e a antiga equipe de Nascimento, agora comandada por Mathias, que se tornou capitão, é a responsável pela operação, tendo o próprio Nascimento como supervisor. A operação tinha tudo para ser rápida e bem sucedida, não fosse a decisão do governador de enviar o professor universitário Diogo Fraga (Irandhir Santos) para fazer as negociações. Fraga era um velho inimigo de Nascimento - professor de esquerda e defensor dos direitos humanos, Fraga vivia dando palestras contra a polícia e o sistema prisional. As negociações pareciam dar certo, mas numa precipitação de Mathias, Beirada é morto e seu sangue suja a camisa dos direitos humanos vestida por Fraga, e o diabo da imagem percorre o mundo. A operação, que havia sido um sucesso, se tornou um circo político, e alguém tinha de pagar por ela. Nascimento foi afastado do BOPE, mas como para o povo bandido bom é bandido morto, sua saída do batalhão vira uma promoção - ele vai para a Secretaria de Segurança, assumir a sub-secretaria de Inteligência. Quem sai por baixo mesmo é Mathias, que perde a farda preta e vai parar no batalhão do coronel Fábio (Milhem Cortaz), corrupto até o dedo do pé, mas que gostava dele, já que Mathias lhe salvara a vida anteriormente.
Na cúpula da Segurança Pública, Nascimento dá início a um grande plano de combate ao tráfico de drogas, aumentando em quatro vezes o efetivo do BOPE e equipando o batalhão com melhores armas, veículos e helicóptero. Sua ideia era desmantelar o tráfico e acabar com o arrego, dinheiro pago pelos traficantes aos policiais corruptos para fazerem vistas grossas ao crime, além de acabar com outras formas de corrupção e assim dar fim ao Sistema. Acontece que "nada melhor que uma crise econômica pra aguçar a criatividade" - o Sistema, na figura do major Rocha (Sandro Rocha), percebe que na favela não tem só bandido, e o fornecimento de serviços como internet, tv a cabo, água mineral, gás e até empréstimos aumentariam em até dez vezes o faturamento dos corruptos, o que Nascimento chama de CPMF, Comissão dos Policiais Militares Filhos-da-puta. E quatro anos depois, em 2010, Nascimento e toda a população do Rio ainda acham que seu plano havia dado certo, mas na verdade a máquina de guerra do BOPE estava ajudando o Sistema, expulsando traficantes de favelas, que depois eram ocupadas pelas milícias.
Tropa de Eite 2 - o inimigo agora é outro (2010) é um filme pra contestar a ideia de que toda continuação é inferior ao original - deixe isso pros filmes de ação. O primeiro Tropa é muito bom, por razões que comentei aqui ano passado, mas o 2 o supera em quase todos os aspectos. O roteiro é mais maduro, muito mais politizado, desce dos morros e mostra a face mais organizada e invulnerável do crime, nos quartéis e palácios do poder público. A milícia se mostra pior que o tráfico por ser tão intransigente quanto e por parecer inatingível, já que tem meios mais eficientes de subjugar e silenciar suas vítimas e por contar com a proteção de gente grande - as favelas dominadas se tornavam base eleitoral do governo; inclusive, faziam parte do esquema, um deputado estadual e apresentador de programa policial sensacionalista (André Mattos) e o ex-secretário de segurança e candidato a deputado federal (Adriano Garib). Nascimento se choca ao ver a verdadeira dimensão do Sistema e perceber que em seus mais de vinte anos na polícia acreditou em uma instituição corrupta, falida estrutura e moralmente que servia a poucos, e não à população.
E por falar em Nascimento, é para Wagner Moura que vão meus mais sinceros elogios. Se Nascimento mudou, se tornando mais maduro e adquirindo um ar cansado, de quem luta sem sucesso há vários anos, foi graças a Wagner Moura, cujo desempenho não fica devendo a nenhum ator de fama internacional. Me atrevo a comparar sua evolução à de Al Pacino, que ao longo da trilogia O Poderoso Chefão é muito versátil para acompanhar as mudanças de sua personagem. Isso porque além de militar e sub-secretário, Nascimento precisa lidar com problemas pessoais, como o fim da amizade com Mathias, sua relação com a ex-mulher e o novo marido dela, e principalmente a difícil convivência com seu filho adolescente, que o vê como um tirano. Sai de cena o capitão que "subia na favela pra deixar corpo no chão" e entra o coronel que tenta destruir o Sistema batendo de frente. As cenas de violência se reduzem, e muito - mas as únicas duas cenas em que Nascimento desce o braço em alguém são algumas das melhores do filme. Podem dizer que é exagero, mas interpretação melhor que a de Wagner Moura, em filme nacional, só vi a de Fernanda Montenegro em Central do Brasil.
A direção de José Padilha também aparece muito mais bem trabalhada. Ele conduz de maneira firme a história, sem permitir outros pontos de vista além do que ele quer propor, ignorando as críticas ao realismo do primeiro filme e evitando os erros típicos de continuações. Padilha, aliás, é mais um brasileiro que chega a Hollywood - está gravando Robocop; aparentemente será só mais um filme de ação, mas vamos lembrar que até Walter Salles e Fernando Meirelles tiveram de fazer filmes meia-boca para chegar no patamar internacional. O que eu não entendo é a ausência de prêmios. O Tropa 1 levou até Leão de Ouro em Berlim, mas o 2, coitado, nada de prestígio internacional. E Oscar... em 2011 Tropa 2 deixou de ser o candidato nacional porque o Ministério da Cultura resolveu colocar Lula, o filho do Brasil no lugar. Pois é. Com essa, eu invoco o primeiro filme pra perguntar: tá de brincadeirinha, 02?
Ah, já ia esquecendo! Os bordões aqui são bem melhores e menos grudentos que o do primeiro.

Nota: 9.5/10

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Luís F. Passos

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