Ainda no início de sua carreira e antes de dirigir/escrever/estrelar o grande sucesso Annie Hall (1977), um dos mais queridos vencedores do Oscar e uma das principais comédias do cinema, Woody Allen, e também sua grande parceira da época, Diane Keaton, já trabalhavam juntos em filmes menores e totalmente vinculados ao gênero da comédia. Mais precisamente, comédia no maior estilo “pastelão”, cheia de piadas padrão, situações embaraçosas e inexplicáveis, com direito a tortas na cara, explosões, armas que não funcionam e tudo mais. O maior destaque dessa fase inicial de suas carreiras é O dorminhoco (Sleeper, 1973), um de seus principais trabalhos, dirigido e escrito por Allen.
No filme, temos o típico judeu neurótico de Nova York, Miles Monroe (Woody Allen), que, durante um procedimento hospitalar relacionado a uma leve úlcera, acaba sendo congelado e preservado em papel alumínio dentro de uma cápsula por um período de 200 anos, e acorda no ano de 2173. Nesse futuro (inspirado nitidamente em produções da época que esboçavam futurismo, como Laranja mecânica e 2001 – uma odisséia no espaço) ele tem que se adaptar a uma realidade totalmente diferente do que estava acostumado em 1973 e acaba se envolvendo diretamente com um grupo de revolucionários que tenta derrubar o governo. Esse governo é super autoritário, assumiu o controle após uma guerra e obviamente funciona como uma comparação direta aos governos totalitários que existiram durante o século XX. Daí, segue-se todo o tipo de situação bizarra envolvendo desde formas primárias de humor, como escorregar em casca de banana, até comentários ácidos sobre o comportamento social americano nos anos 70, a dificuldade em manter relacionamentos amorosos firmes e duradouros, referências a grandes figuras do século XX (desde Stálin a Muhammad Ali), piadas sobre religião (colocando, como sempre, a existência ou não de Deus como um questionamento) e críticas à maquinaria política e ao seu jogo de manipulação. No entanto, o que realmente conta em O dorminhoco é a comédia para rir sem preocupações (o próprio Allen o descreve, assim como outros de seus filmes da mesma época, como “filmes divertidos de primeira fase”).
Miles conta sempre com a ajuda atrapalhada da bela Luna Schlosser (Diane Keaton), bem intencionada, porém tola, uma típica mulher fiel ao governo que acaba se transformando numa perfeita militante no grupo dos revolucionários. Juntos, os dois ditam as regras do filme e dão o tom que o torna diferencial.
De todas as divertidas cenas de O dorminhoco, devo destacar duas que me chamaram muito a atenção: uma sequência hilária em que Allen e Keaton representam, respectivamente, Blanche e Stanley, de Uma rua chamada pecado, numa homenagem bem colocada e totalmente inusitada; a cena final representa praticamente um resumo da proposta de trabalho de Woody Allen, mostrando os pilares nos quais se baseia toda a sua obra. Num diálogo simples e ágil, como sempre, ele expõe religião, amor, política, sexo, vida e morte.
De todas as divertidas cenas de O dorminhoco, devo destacar duas que me chamaram muito a atenção: uma sequência hilária em que Allen e Keaton representam, respectivamente, Blanche e Stanley, de Uma rua chamada pecado, numa homenagem bem colocada e totalmente inusitada; a cena final representa praticamente um resumo da proposta de trabalho de Woody Allen, mostrando os pilares nos quais se baseia toda a sua obra. Num diálogo simples e ágil, como sempre, ele expõe religião, amor, política, sexo, vida e morte.
Nota: 7/ 10
Lucas Moura
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