segunda-feira, 27 de maio de 2013

Repulsa ao Sexo - pesadelos sexuais

Em suas já cinco décadas de carreira, o diretor Roman Polanski reuniu em sua filmografia uma boa quantidade de obras clássicas e diversas, unidas pelo menos em um ponto principal: a altíssima qualidade. Se nos anos 70 ele reinventou o cinema noir com Chinatown, nos anos 60 sua visão era mais voltada a inovações cinematográficas relacionadas a filmes de tensão extrema e palpável, com personagens confinadas em apartamentos pequenos e com a difícil missão de sempre ter que se confrontar consigo mesmo, lutando contra monstros interiores ou se perdendo em devaneios da mente. É assim com O bebê de Rosemay e principalmente com a primeira grande incursão do diretor pelo cinema experimental, Repulsa ao sexo (Repulsion, 1965). 
A história de enredo cruelmente simples, centra-se exclusivamente na figura da jovem Carole (Catherine Deneuve), banal manicure cuja mente aparentemente simplória vive a beira da loucura. Loucura esta intimamente relacionada com comportamento sexual. Por motivos jamais explicados em nenhum momento do longa, qualquer contato sexual desencadeia em Carole delírios psicóticos e mudanças comportamentais, que vão da histeria à catatonia. Esses contatos sexuais não envolvem necessariamente nenhum tipo de toque. O simples ato de ouvir a irmã fazendo sexo com o namorado (que, aliás, é casado) no quarto ao lado já é capaz de levar a moça a um estado de neurose. Um simples beijo e até mesmo uma camisa suja esquecida no banheiro já são elementos mais que suficientes para provocar grande desconforto físico e psicológico. 
Quando sua irmã viaja por alguns dias com o namorado, a mente frágil de Carole torna-se cada vez mais susceptível a seus delírios psicóticos, pois agora um novo elemento foi interligado: a solidão. Confinada e isolada no pequeno apartamento que parece cada vez mais sufocante e sombrio, sua mente vai mergulhando por caminhos mais profundos que levam a manifestações da mais pura violência, atingindo um nível de agressividade que jamais poderia ser previsto.
Polanski mostra em Repulsa ao sexo toda sua capacidade de criar clima, visto a trilha sonora pulsante e estridente sempre acompanhada das feições transtornadas de uma incrível atuação da grande musa Catherine Deneuve e seguidas por silêncios profundos e incômodos, onde as imagens do apartamento cada vez mais bagunçado, sujo e legitimamente podre são capazes de causar, realmente, repulsa. A fotografia consegue aliar closes reveladores do rosto hora agonizante hora apático e perdido da protagonista como também tornar os poucos metros quadrados em que quase toda a história se desenrola em cubículos ou hectares, dependendo apenas do ponto de vista e da situação.
Produção visceral, Repulsa ao sexo é capaz de chocar. Àqueles que não aguentam nem ver Nina Sayers se autodestruindo em Cisne Negro, não recomendo este filme. No entanto, para os mais firmes, preparem-se para uma experiência cinematográfica genuinamente única, pois é um filme extremista (não num sentido físico, mas psicológico). Não espere respostas, esclarecimentos ou muito menos conseqüências. Apenas aproveite este delírio sombrio.

Nota: 10

Lucas Moura

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