sexta-feira, 3 de maio de 2013

Quase Famosos - sobre a vida e o rock

Tem alguns filmes não tão famosos assim ou muito menos de grande importância em termos de história para o cinema, mas que tenho um grande carinho e os coloco sempre nas minhas humildes listas de filmes preferidos. Geralmente estes são filmes muito simples e muito pessoais que tem algum elemento que os tornam especiais para mim. Hoje vou falar sobre um destes: Quase famosos (Almost famous, 2000), o elogiado sucesso de Cameron Crowe do início dos anos 2000 que apesar de não ter sido um dos maiores marcos do cinema moderno é uma das melhores surpresas cinematográficas que tive recentemente.
A história é simples. Trata-se de um garoto de 15 anos chamado William (Patrick Fugit) apaixonado por rock clássico desde que sua irmã mais velha (participação curta de Zooey Deschanel) saiu da casa onde os dois viviam sob a opressiva e super protetora, porém amorosa, presença materna (Frances McDormand) deixando como herança para o irmão uma coleção expressiva de discos das maiores bandas de rock da época. Desde jovem, William passaria a nutrir-se da fonte do mais puro rock clássico, com doses de Led Zeppelin, The Who, The Beatles, The Rolling Stones, Bob Dylan, Black Sabbath e tudo que há de melhor do legado musical dos anos 60.
Sua paixão por rock, aliada a sua habilidade inata como escritor e a aversão ao futuro como advogado escolhido pela sua mãe, leva-o a encarar um grande desafio: acompanhar um grupo de rock mediano, intitulado Stillwater, em sua turnê pelos EUA, com a missão de escrever uma resenha de 4000 palavras para a renomada revista Rolling Stones, que havia descoberto seu trabalho como escritor numa pequena revista de música local. Movido pelo mais puro entusiasmo, William segue a banda por algumas semanas e algumas cidades, entrando em contato com todo o espírito da época e daquelas pessoas que fizeram história.
É aqui o ponto chave de Quase famosos. Durante este período, é possível acompanhar o amadurecimento pessoal de William, que de um fã apaixonado deve mudar seu ponto de vista para tornar-se obrigatoriamente o mais verdadeiro e fiel ao que vê o possível, ignorando a idealização natural criada em torno de seus ídolos. Mesmo assim, o clima de fascínio paira durante grande parte do filme. Fascínio esse que pode facilmente ser transmitido para qualquer espectador amante de rock clássico com todas aquelas referências naturais e divertidas e aquelas homenagens a alguns dos homens mais incríveis da história da música. É tudo muito intenso, muito divertido, muito cool. As personagens são as mais diversas e divertidas possíveis. Quase famosos vem para quebrar todo e qualquer estereótipo criado em torno das lendas do rock ao mostrar uma banda mediana de um período de transição musical (início dos anos 70) em sua jornada ascendente pela fama. Os pequenos segredos sujos, a rivalidade entre os integrantes, a difícil escalada para o sucesso, a comercialização da arte musical, a construção de uma identidade como artistas e o difícil amadurecimento (assim como William, todas as personagens amadurecem em medidas diferentes), com todas as perdas e ganhos envolvidos, estão aqui.
Isso, é claro, pode ser visto em outros filmes. Quase famosos, no entanto, usa também um ponto de vista pouco usual: o das groupies. Para quem não sabe, groupies são aquelas moças que seguiam as bandas pela turnê. Neste caso, não temos exatamente groupies (pois a relação delas com as bandas não é apenas sexo e fama, mas sim uma interação espiritual com a música), mas, como as mesmas gostam de se intitular, ajudantes de banda – entre elas, temos a participação ilustre da segunda mais jovem vencedora do Oscar (não por este filme!), Anna Paquin (atualmente, protagonista da série True Blood). A principal delas – e de longe a personagem mais interessante de Quase famosos – é Penny Lane (Kate Hudson, mais fantástica do que nunca em sua interpretação indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante – perdeu por quê?), a maior amante do rock de todas. Sua devoção vai além da música e ainda esbarra num complicado relacionamento com o controverso e imprevisível guitarrista da banda, Russel (Billy Crudup). Penny (só sabemos seu verdadeiro nome no fim do filme) é a personificação do espírito da época. Uma mistura de liberdade, amor, tristeza e confusão que é simplesmente apaixonante. Apaixona Russel, William e qualquer um que assista ao filme. É obvio para qualquer um que este é o papel da carreira de Kate Hudson. O estranho é ela não ter tido oportunidades tão interessantes quanto nos anos que sucederam Quase famosos.


Nota: 8/ 10

Lucas Moura

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