terça-feira, 26 de julho de 2011

O Guarani

Umas das características do Romantismo brasileiro foi a criação do herói nacional baseado na figura do índio, chamado de bom selvagem. O maior exemplo do bom selvagem está no romance O Guarani, de José de Alencar, publicado em folhetim entre fevereiro e abril de 1857, mais tarde sendo lançado como livro.
A narração se passa no final do século XVI, quando o fidalgo português D. Antônio Mariz, após participar a fundação da cidade do Rio de Janeiro junto a Men de Sá e Estácio de Sá, decide permanecer no Brasil com sua família. D. Antônio construiu uma casa à beira de um penhasco em estilo medieval, onde havia uma sociedade de caráter feudal, comandada por ele. Como dá pra imaginar, a casa fica no meio do nada - só floresta e mais floresta. Numa dessas matas mora um povo indígena hostil, os amoirés. A rivalidade entre a tribo e o fidalgo começaram quando D. Diogo, filho de D. Antônio, mata uma filha do cacique aimoré sem querer, numa caçada, e o chefe aimoré promete vingança lhe causando o mesmo mal - matando Cecília, a filha do fidalgo.
A outra ameaça contra Cecília, mas que ninguém sabia era Loredano, um dos aventureiros sob o comando de D. Antônio, que na verdade era o frei Ângelo di Luca, sem caráter e que assassinara um homem para obter o mapa de minas de prata. Loredano tramava destruir a família do fidalgo e seus vassalos, e raptar Ceci.
Para a frustração dos planos de Loredano, aparece o índio Peri, um guerreiro da nação Goitacá. Logo na sua chegada, Peri salva Ceci de dois amoirés, e afirma a todos que fora enviado para proteger a linda moça branca. D. Antônio fica honrado com a presença de Peri, que passa a morar numa cabana ao lado da casa. A partir daí, Peri se torna responsável pela segurança de Ceci, e sua adoração por ela só aumentava.
As outras personagens importantes da história são D. Lauriana, mulher de D. Antônio; Isabel, filha bastarda do fidalgo mas apresentada por este como sua sobrinha; Aires Gomes, braço direito de D. Antônio; e Álvaro, valente cavalheiro que é apaixonado por Cecília. O sentimento de Álvaro não é correspondido - Ceci apenas o admira. Quem é apaixonada pelo rapaz é Isabel, que sofre por não ter seus sentimentos correspondidos.
Os aimorés começam um pesado ataque, e por serem mais numerosos, a vitória parece fácil. Sabendo que os aimorés são canibais, Peri, desesperado, decide tomar veneno e depois se entregar ao inimigo, planejando matar todos que comerem suas carnes. Ceci implora que ele não faça isso, e ele entra na floresta em busca do antídoto, mas é preso pelos aimorés. Álvaro então vai salvá-lo, mas é morto pelos índios. Ao ver o corpo de seu amado, Isabel suicida-se. Na fortaleza, Loredano decide que é o momento de matar D. Antônio e fugir, mas é descoberto e morto pelos outros. Quando os aimorés se aproximavam da casa, e Peri pede para salvar Ceci, fugindo com ela. D. Antônio concorda, mas Peri tinha que se tornar cristão. Depois de um batismo improvisado, o índio foge com a moça nos braços, enquanto a casa pegava fogo. Começa a chover, e os dois abrigam-se no topo de uma palmeira. Como a água subia rapidamente, Peri (provando mais uma vez ser o ancestral do Superman) arranca a palmeira do solo, fazendo uma espécie de canoa, na qual ele e Ceci flutuam na direção do infinito. É aí que o autor sugere que Peri e Ceci serão os povoadores da terra brasileira.
O livro tem caráter épico, é extenso, e é baseado na lenda do Tamandaré, na qual um índio e sua mulher povoaram o mundo depois dele ser inundado. Além disso, preserva as características românticas: índio como bom selvagem, moças puras, peripécias. O que difere é o amor existente entre Peri e Ceci: não é um amor carnal, pelo menos não durante o enredo. Peri tem adoração extrema pela moça, e ela sente por ele um carinho fraterno e imensa gratidão. Mas fica a sugestão, no final, de que eles iriam se unir para dar origem a um novo povo.
Eu recomendo O guarani, mas ele está longe de ser um de meus preferidos. Tem que ter um pouco de estômago pra aguentar os mimos de Ceci e os "super poderes" de Peri. Em uma passagem, ele entra num poço cheio de cobras, aranhas e lagartos e sai sem um arranhão. Mas no contexto do Romantismo, a gente perdoa, né?

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