segunda-feira, 4 de julho de 2011

Sagarana - parte 2

JG em excursão ao Cerrado
Já falei um bocado sobre Sagarana, mas como seus nove contos são bem distintos, vale a pena falar um pouco sobre cada um.
1. O burrinho pedrês:  conto focado no burrinho Sete-de-ouros, velho mas muito estimado por seu dono, um grande fazendeiro. Guimarães atribui ao burrinho grande sabedoria - a atribuição de sentimentos humanos a animais se repete em outros contos. Na história é narrado o afogamento de um grupo de vaqueiros que transportavam centenas de cabeças de gado. Na volta para casa, muitos estavam bêbados, e ao atravessarem um rio que transbordara, foram arrastados pela correnteza. Os únicos sobreviventes foram Sete-de-ouros e dois vaqueiros que se agarraram a ele.
2. A volta do marido pródigo: conto bastante divertido, que conta a história de um certo Lalino (Eulálio), um malandro que vivia enganando a todos. Quando decidiu botar o pé no mundo, enganou o patrão e "vendeu" a esposa para um espanhol, partindo para o Rio de Janeiro com os bolsos cheios. Meses depois, cansado da farra e sem dinheiro, voltou à sua terra, conseguindo o emprego de cabo eleitoral de um poderoso fazendeiro. Com sua lábia e a proteção do político, conseguiu expulsar os espanhóis da cidade e recuperar sua mulher.
3. Sarapalha: conto sem graça, até o autor achava isso. Narra a vida de dois primos, Argemiro e Ribeiro, num sítio isolado, num lugar devastado pela maleita (malária). Para lhes fazer companhia havia apenas o cão Jiló e a negra surda Conceição. Ribeiro, além da doença, sofre pela mulher que o abandonara. Numa das crises do primo, Argemiro revela que era apaixonado pela mulher dele, e por isso fora morar no sítio. Sentindo-se traído, Ribeiro expulsa Argemiro, que morre na estrada durante um ataque da malária.
4. Duelo: ao descobrir que sua mulher Silivana o traía, o pescador Turibio Todo decidiu matar o amante, o soldado Cassiano Gomes. Mas em vez do policial, Turíbio matou o irmão dele, Levindo, e fugiu pelo sertão. Jurando vingança, Cassiano partiu em busca do assassino, mas nunca o encontrou. Doente, Cassiano busca descanso em um povoado, onde dá dinheiro para salvar a vida de uma pobre criança do local, e conta sua história a pai do menino, Timpim. Cassiano morre, e ao final do conto Timpim conhece Turíbio e o mata, vingando Cassiano.
5. Minha gente: história em que um jovem médico que vai passar uns tempos na casa do tio, Emílio, se apaixona pela prima, Maria Irma, que resiste às suas investidas. O narrador fica com o tio, que estava envolvido em política, até as eleições, onde ele sai vitorioso. Ele vai embora, mas depois volta, tentando novamente conquistar o amor da prima, que o apresenta a amiga Amanda, e eles se casam três meses depois. Aí é revelada a intenção de Maria Irma: ela casou o primo para ficar com o ex-noivo de Amanda, Ramiro, por quem sempre fora apaixonada.
6. São Marcos: o médico José, mesmo supersticioso, não acredita em feitiçaria, e por isso zomba do feiticeiro João Mangolô. Num dia em que José andava pelo mato, admirando a flora sertaneja, Mangolô se vinga cegando o médico através de magia. Irado, José profere a "reza de São Marcos", e mesmo sem enxergar, corre decidido numa direção: a da casa do velho bruxo. Quando chega lá, começa a esganá-lo, e nesse momento sua visão é devolvida.
7. Corpo fechado: é outro conto que destaca o misticismo. Mané Fulô, contador de causos, estava num bar conversando com certo doutor, quando um dos valentões da cidade, Targino, diz que no dia seguinte dormiria com sua noiva, Maria das Dores. Os parentes e amigos de Fulô pedem ajuda ao feiticeiro Toniquinho, que promete "fechar o corpo" de Fulô (imunizá-lo contra qualquer mal) em troca da mula Beija-Flor. Por gostar muito da mula, o rapaz se nega, mas acaba aceitando. No outro dia, Targino não conseguiu fazer-lhe mal algum, e Mané o matou com uma pequena faca. Mané Fulô entrega a mula a Toniquinho, mas nos finais de semana pega o animal emprestado, devido ao enorme carinho que sente por ele.
8. Conversa de bois: outra vez Guimarães atribui qualidades humanas a animais. No conto, de caráter fabulista, o carreiro Agenor Soronho está num carro puxado por oito bois e guiado pelo menino Tiãozinho. O carro transportava o corpo do pai do menino para a cidade vizinha, morto na véspera. Para piorar a tristeza de Tiãozinho, Agenor era amante de sua mãe, e prometia maltratá-lo agora que o garoto estava órfão. Apiedados de Tiãozinho, os bois decidem matar o carreiro, derrubando-o do carro e degolando-o, para evitar o sofrimento do menino.
9. A hora e a vez de Augusto Matraga: um dos contos mais populares, já foi adaptado para o cinema duas vezes. Augusto Matraga era o rico valentão da cidade, mas sua vida virou ao avesso quando sua mulher e sua filha fugiram e seus capangas o traíram, dando uma surra nele e o deixando como morto num precipício. Matraga sobrevive por um milagre e se recupera com a ajuda de um casal de velhos que o acolhe. Depois da visita de um padre, decidiu sair em busca da salvação de sua alma, e parte com os velhos. Num povoado distante, encontra um sítio abandonado, onde passa a trabalhar de sol a sol, na esperança de esquecer seu passado. É perto do sítio que Augusto conhece o bando de jagunços de Seu Joãozinho Bem-Bem, que se torna seu amigo e o convida a entrar no bando, proposta que é recusada. Matraga reencontra o jagunço tempos depois, quando este ia destruir um povoado. Matraga intercede pelo lugarejo, e como Joãozinho Bem-Bem insiste na violência, os dois brigam e acabam matando um ao outro. Augusto Matraga abençoa a filha e morre feliz por ter sua hora e sua vez.

Nenhum comentário:

Postar um comentário