quinta-feira, 5 de março de 2020

Livros para Março

1. Essa gente (Chico Buarque, 2019)
O mais novo livro de Chico Buarque talvez seja o melhor dele - pelo menos é o melhor entre os que eu li. Escrito intercalando a forma de diário com a forma epistolar, Essa gente é centrado em Manuel Duarte, escritor decadente que em seus dias áureos foi um dos mais vendidos autores do Brasil. Falido, em crise constante com suas duas ex-mulheres e pai de um adolescente com quem não consegue manter uma conversa trivial, Duarte é mais um fracassado da obra literária de Chico. Através das andanças de Duarte por bairros nobres, praias e favelas da zona sul carioca, vemos a sociedade sangrar por feridas históricas muitas vezes defendidas orgulhosamente por pessoas ditas diferenciadas - claras referências ao atual contexto social e político de nosso país. Atual, mas vigente há séculos. O romance não poupa aspereza e tem seu toque de enigma. É sensacional. É cru, é intenso, é pulsante, mesmo sendo apresentado com o distanciamento emocional com que Duarte vê e trata da decadência de valores humanos. É Chico Buarque em sua melhor forma.
Nota: 10
2. Memorial de Aires (Machado de Assis, 1908)
Depois de inaugurar o Realismo no Brasil e lançar quatro livros imortais nessas características, Machado de Assis muda o estilo ao escrever seu último romance, o emocionante Memorial de Aires, em que fica visível o caráter pessoal. O livro mostra um casal de idosos, Aguiar e Carmo, que apesar de muito felizes, não têm filhos. Mas Tristão, afilhado deles, e Fidélia, uma jovem viúva, são tratados pelo casal Aguiar como se fossem filhos deles.
A história é narrada pelo conselheiro José Aires, diplomata aposentado, amigo dos Aguiar e que acompanha o surgimento do amor entre Tristão e Fidélia. No final do livro, a tristeza e solidão sentida pelo casal Aguiar é reflexo do sofrimento do autor, que anos antes havia perdido sua esposa Carolina, o grande amor de sua vida.
Nota: 10
3. O corcunda de Notre Dame (Victor Hugo, 1831)
Um dos melhores e mais conhecidos romances do grande escritor francês se passa no fim da idade média. Numa época em que o poder da Igreja Católica era absoluto, soldados sonhavam com glória e a maior parte da população lutava contra a fome e a miséria, acompanhamos a estória do pobre Quasímodo, o tocador dos sinos da catedral de Notre Dame. Corcunda, caolho, deformado, surdo e coxo, Quasímodo fora abandonado e frente à igreja ainda bebê, e criado pelo rígido padre Claude Frollo, arquidiácono de Notre Dame. Do alto das torres da catedral, Quasímodo observa apaixonadamente a bela e jovem cigana Esmeralda, que também desperta a paixão do arquidiácono Frollo - no entanto, Esmeralda é apaixonada pelo capitão da guarda Phoebus Châteaupers, que não corresponde seu amor, mas apenas tem por ela desejo sexual. Victor Hugo nos apresenta com maestria uma estória de amor, ódio, preconceito e injustiças.
Nota: 10

Luís F. Passos

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