1. O Irlandês (The Irishman, 2019)
O filme que talvez seja o último da brilhante carreira de Martin Scorsese é uma obra prima. Não há outra definição. As mais de 3 horas de duração de O Irlandês são puro deleite para os fãs de Scorsese e para qualquer apreciador do bom cinema. 24 anos depois de Cassino, Scorsese retoma a parceria com o amigo de longa data Robert De Niro, que dá vida a Frank Sheeran, caminhoneiro e veterano de guerra que entra na máfia aos serviços da poderosa família de Russel Bufalino (Joe Pesci), e a partir de então se torna assassino profissional. Frank ganha a alcunha de "o irlandês" e uma bela reputação por sua eficácia e discrição. Algum tempo depois ele entra no mundo dos sindicatos e se aproxima do poderoso Jimmy Hoffa (Al Pacino), o todo poderoso do sindicato de transportes. Disputas por poder e a grande pressão do FBI e do governo sobre o sindicato fazem a figura de Hoffa ser cada vez mais questionada, e cabe a Frank decidir até onde vai sua lealdade ao chefe - o que é decisivo nos momentos mais intensos do filme.
Nota: 10
2. O Barato de Iacanga (2019)
Quem imaginaria que uma fazenda no interior paulista, numa região bastante conservadora, ainda mais em pleno regime militar, seria o palco pra hippies andarem nus livremente? O Barato de Iacanga traz a história pouco conhecida por trás do lendário Festival de Águas Claras (que infelizmente não é conhecido como merece), realizado em quatro edições entre 1975 e 1984. Conhecido como Woodstock do Brasil, o Festival evoluiu de um encontro de bandas de rock progressivo, uma coisa mais underground, para uma reunião de artistas consagrados e extremamente populares, como Raul Seixas, Luiz Gonzaga, Gilberto Gil, Alceu Valença e João Gilberto - momento mostrado no filme como o apogeu do festival, quando João Gilberto cantou Wave junto a uma multidão de 100 mil pessoas na terceira edição, em 1983. Conduzido de uma maneira bastante leve, mesmo ao tratar da repressão da época e de todo o esforço do idealizador Leivinha e sua família para contornar a censura, o filme é uma mistura de cultura, memória e resistência. Dá uma saudade do que a gente não viveu.
Nota: 9,5/10
3. Democracia em vertigem (2019)
Nunca antes na história desse país uma indicação ao Oscar gerou tanta polêmica. O documentário que retrata a ascensão e queda do Partido dos Trabalhadores, com a consequente guinada à direita e extrema direita que o Brasil deu foi indicado ao Oscar e gerou opiniões diametralmente opostas, que vão do amor ao extremo ódio. Dirigido por Petra Lopes, que é filha de militantes de esquerda e neta de empreiteiros, o filme não é uma defesa de Lula ou exaltação aos anos em que o PT presidiu o País. Petra começa pelo fim do mandato de Lula, e a partir das manifestações de junho de 2013 mostra a queda da popularidade de Dilma e de toda a esquerda, passando pelas turbulentas eleições de 2014 e pela chegada de Eduardo Cunha à presidência da Câmara dos Deputados - fato decisivo no conturbado segundo mandato de Dilma. Vemos o rompimento de Cunha com o Planalto, a abertura do processo de Impeachment, a deplorável cena da votação na Câmara em abril de 2016, o julgamento de Dilma no Senado meses depois com a deposição da presidenta e consequente posse de Michel Temer, a podridão por trás daqueles que articularam e executaram o Golpe (os escândalos envolvendo Temer e Aécio com a JBS). Fatos tão conhecidos e que mostram todo o caminho percorrido até chegarmos no delicado momento em que estamos, sob a tutela de um governo iminentemente autoritário que a cada dia ameaça as instituições democráticas.
Nota: 9,5/10
4. Aquarius (2016)
Do mesmo diretor de um dos filmes mais falados no ano passado em terras tupiniquins (claro que tô falando de Bacurau. Aliás, você viu Bacurau?), Aquarius merece ser incessantemente comentado e aplaudido mais ainda. O longa traz Clara (Sonia Braga, rainha da p* toda), uma jornalista aposentada que mora em um velho prédio na praia de Boa Viagem, no Recife, resistindo à pressão de vender seu apartamento para que seja construído um edifício de luxo no lugar. Todos os moradores já haviam vendido suas casas, exceto Clara. Ao longo do filme ela demonstra uma força incrível para defender o lugar em que passou boa parte de sua vida e criou os filhos, lutando conta a construtora, os vizinhos - e a empresa nada mais é do que a representação da opressão que parte dos mais ricos, tão forte em nossa sociedade ("ou você é Cavalcanti ou é Cavalgado"). Através de um grande elenco liderado por Sonia Braga, um filme excelente sobre a mulher, o passado e o Brasil.
Nota: 10
5. Vinícius de Moraes (2005)
Mais um documentário, e o mais delicioso filme da lista de hoje. Não podia ser diferente ao falar de um dos mais populares poetas do Brasil: Vinícius de Moraes, o eterno poetinha. Poeta, cantor, músico, compositor, diplomata e amante inveterado, Vinícius é, sem dúvidas, uma das figuras mais importantes da cultura brasileira do século XX, com grande importância para a cultura mundial. Afinal, estamos falando de um dos pioneiros da Bossa nova e compositor da Garota de Ipanema. O filme é guiado pelas interpretações magistrais de Camila Morgado e Ricardo Blat, declamando poesias e lendo outros textos de Vinícius, e recheados de entrevistas de pessoas que conviveram com ele: uma irmã, filhas, e artistas como Chico Buarque, Toquinho, Edu Lobo, Carlos Lyra, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gilberto Gil e outros. Também participam artistas que interpretam músicas de Vinícius, a exemplo de Zeca Pagodinho, Mart'nália e Adrina Calcanhotto. Acompanhamos a vida do poeta, seu trabalho artístico e no Itamaraty, os amores e seus nove casamentos, as lembranças saudosas dos amigos, a popularização de Vinícius, inclusive s turnês internacionais de sucesso, e o declínio de sua saúde, que levou à sua partida aos 66 anos. Destaco os vários testemunhos bem humorados de Chico Buarque e o emocionante depoimento de Edu Lobo sobre o gradativo adoecimento do parceiro Vinícius. É um documentário imperdível, envolvente, incrivelmente prazeroso de se ver.
Nota: 10
Luís F. Passos
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