1. Um limite entre nós (Fences, 2016)
Por mais que eu não acompanhe as novidades do cinema como antes, me esforço pra ver um ou outro filme que foi destaque no Oscar. Nesse ano minha ansiedade era pra ver o filme estrelado por Viola Davis e Denzel Washinton, dois nomes que despertam e muito a atenção para qualquer longa. Viola interpreta Rose, uma dona de casa casada com o gari Troy (Washington) há dezoito anos e mãe do jovem Cory, que sonha em ser atleta, a contragosto do pai. Cory tem o mesmo talento para o beisebol que seu pai tivera na juventude, porém Troy carrega uma frustração muito grande com o esporte por não ter conseguido consolidar uma carreira devido ao racismo. Tal discordância é motivo de conflito entre pai e filho, assim como eventos corriqueiros do dia a dia são motivos para outros conflitos na família. E quando junta conflitos e atores excelentes, o resultado não podia ser outro: atuações memoráveis. O filme tem o defeito de ser lento, mas diante de um roteiro tão sólido e de interpretações fantásticas, a gente supera. Viola rainha, o resto nadinha.
Nota: 9,5/ 10
2. Moonlight: sob a luz do luar (Moonlight, 2016)
O grande vencedor do Oscar desse ano - depois daquela gafe com La La Land - merece nosso respeito. Moonlight é um filme sóbrio, denso, pesado. Acompanha três momentos da vida de Chiron, primeiro a infância (com atuação de Alex Hibbert), marcada pelo bullying, depois a adolescência (assume Ashon Sanders) repleta de bullying, problemas com a mãe viciada em crack e a questão da auto descoberta, e por fim a idade adulta (interpretada por Trevante Rhodes), quando, agora com o nome Black, ele chefia o tráfico local. O filme é muito bom, apesar de ter uns defeitos como falhas no enredo, que não é tão coeso como se espera; além disso ele peca por não se aprofundar o suficiente nas angústias de seu protagonista. Beleza, o cara é fechado, reservado, mas o filme não deve fechá-lo para o espectador. Falhas à parte, tem o mérito de tocar temas como racismo, pobreza, sexualidade e preconceitos de uma forma bem sensível, leve, sem ser superficial ou clichê.
Nota: 9,0/ 10
3. Nise: O coração da loucura (2016)
Sem dúvida um dos maiores sucessos do cinema nacional do ano passado pra cá, Nise mostra a vida profissional da psiquiatra Nise da Silveira, pioneira da reforma psiquiátrica muito antes da reforma acontecer. Nise (Glória Pires) é contratada pelo Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, onde atrocidades, então consideradas modernos tratamentos, eram cometidas, tais como eletrochoques e lobotomias. Por se opor a tais condutas, Nise é transferida para o setor de Terapia Ocupacional, onde alguns pacientes faziam trabalhos de limpeza. A médica começa um trabalho árduo utilizando pintura, outras formas de arte e também a presença de cachorros para estimular a socialização e a comunicação de seus pacientes. Os resultados são ótimos, mas ela ainda é vista com bastante preconceito por seus colegas que seguiam a psiquiatria clássica e violenta. E claro, ela precisa enfrentar o machismo, já que era a única mulher psiquiatra do hospital (e havia sido a única mulher a se formar na faculdade, ao lado de 156 homens). Filme muito bacana que trata de um tema tão importante e tão pouco debatido pelo grande público, que é a saúde mental.
Nota: 9,0/ 10
4. Dúvida (Doubt, 2008)
Nova York, 1964. Numa tradicional e rigorosa escola católica
do Bronx, a diretora, irmã Aloysius Beauvier (Meryl Streep), controla com mãos
de ferro a educação de seus alunos. A escola é vinculada à igreja local, e
consequentemente o pároco padre Brendan Flynn (Phillip Seymour Hoffman) também
tem algum poder na administração escolar, além de dar aulas de educação física.
A partir de um comentário feito pela irmã James (Amy Adams) sobre o excesso de
atenção dada pelo padre ao único aluno negro da escola, Donald Miller, a irmã
Aloysius começa uma verdadeira cruzada buscando a verdade por trás do padre,
cujo comportamento liberal irrita a conservadora freira. Além do drama denso e
muito bem elaborado, o filme é sustentado pelas excelentes atuações de seus
três protagonistas, ambos os três indicados ao Oscar, e de quebra traz um fator
adicional: Viola Davis, na época não muito conhecida, que aparece menos de dez
minutos do filme mas é responsável por uma cena excelente junto a Meryl Streep
(aliás, o trabalho de Meryl aqui é um dos que mais gosto na carreira dela) e
também foi indicada a melhor atriz coadjuvante.
Nota: 8,5/ 10
5. Os Sapatinhos Vermelhos (The Red Shoes, 1948)
Ô coisas lindas são esses filmes antigos restaurados. Deus abençoe as
fundações e os grandes estúdios que trabalham recuperando filmes para
que não se percam no tempo, como metade de todos os filmes feitos antes
de 1950. O primeiro filme restaurado que assisti foi Os Sapatinhos Vermelhos,
a maravilhosa história de uma garota, Victoria (Moria Shearer) que por
ter parentesco com a aristocracia inglesa teve de dar duro para mostrar
seu valor no ballet, em especial para o diretor Boris Lemontov (Anton
Walbrook). Quando enfim consegue a atenção do brilhante e exigente
diretor, ganha o papel principal no novo espetáculo do grupo, Os
sapatinhos vermelhos, baseado no conto de Andersen, sobre uma garota que
calça sapatilhas mágicas e dança até morrer de exaustão. Um filme sobre
amor, ciúmes e dedicação extrema que é muito belo e pra mim é um dos
melhores filmes de dança já feitos.
Nota: 10
Luís F. Passos
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