sábado, 30 de dezembro de 2017

Cinco livros em 2017

Bem amigos do Sagaranando, mais um ano se vai e aqui estamos mais um dia sob o olhar sanguinário do vigia pra comentar algumas coisas desta última volta da Terra ao redor do sol. Neste primeiro de dois posts sobre essa montanha russa chamada 2017, vamos comentar sobre alguns livros que tive o prazer de ler - além da alegria de ter lido um pouco mais nesse ano. Apesar do tempo curto na maior parte do ano, da correria da faculdade e da ocupação pré - formatura (formei, mas isso é assunto pra amanhã), 2017 rendeu ótimas leituras, e em um número um pouco maior do que nos últimos dois anos. Vamos às cinco obras que mais gostei:

5. O velho e o mar, Hernest Hemingway
Uma das maiores obras de Hemingway, este livro de menos de cem páginas figura entre os livros mais importantes do século. O velho e experiente pescador Santiago, depois de fixar 85 dias sem pescar um único peixe, se lança ao mar e se vê diante de um dos maiores desafios de sua vida. Ele pesca um marlin gigantesco que arrasta seu barco por dias, ao longo dos quais é estabelecida uma relação de respeito, ao mesmo tempo em que o pescador enfrenta seus próprios limites num enorme esforço de dominar sua presa. Essa é a essência do livro: a luta do homem contra a natureza e também contra sua própria natureza e sua própria essência. Um livro incrível,  exemplo do que o bom e velho Hemingway conseguia fazer de melhor.
Nota: 10
4. Cândido ou O Otimismo, Voltaire
Acho que posso dizer que este livro define genialidade. Usando de um sarcasmo aguçado, Voltaire narra a história do jovem Cândido, que morava em um castelo e era aprendiz do sábio Pangloss, que o instruiu sobre ser otimista a respeito das situações e das pessoas - claramente puro veneno para criticar Rousseau, a quem Voltaire se opunha. Cândido, seu mestre e sua amada Cunegundes comem o pão que o diabo amassou em diversas circunstâncias e em vários lugares diferentes. Apesar disso, nosso intrépido herói insiste em permanecer otimista e esperar o melhor das pessoas ao seu redor. Uma obra magistral em que não faltam críticas à filosofia, a monarquias, religiões,  exércitos e diversos setores da sociedade. Cinismo e sarcasmo do jeito que a gente gosta.
Nota: 10
3. Olhai os lírios do campo, Erico Verissimo
O primeiro romance de um dos mais queridos escritores gaúchos foi um sucesso imediato, e não é difícil imaginar o motivo. A vida de Eugênio Fontes é marcada pela pobreza, ascensão social e conflitos de consciência. Nascido na pobreza, Eugênio sofre humilhações pelas roupas velhas e remendadas, pela submissão e passividade dos pais, pela diferença de suas condições de vida e de seus colegas. Com muito esforço,  Eugênio se forma em medicina e se apaixona por uma colega de turma, Olívia,  mas acaba se casando por interesse com Eunice Cintra, herdeira de uma rica herança. Eventos inesperados fazem Eugênio repensar sua vida, sua trajetória e o verdadeiro significado de felicidade. Uma história um pouco triste, mas sensível, bela e envolvente.
Nota: 10
2. O sol é para todos, Harper Lee
O clássico de Harper Lee é um dos livros mais amados pelos leitores dos Estados Unidos e é conhecido e querido em todo o mundo. A bela estória de Atticus Finch, advogado de uma pequena cidade do Alabama, é narrada pelo olhar de sua filha Scout, que era uma criança na época dos acontecimentos da narrativa. Nos anos 1930, quando os direitos civis para os negros ainda eram um sonho distante, Atticus assume a defesa de um homem negro acusado de estupro, em um caso cheio de falhas, onde o que mais pesava para a acusação era a cor da pele do réu. Além do desafio no tribunal, o advogado ainda enfrenta o preconceito e o ódio de várias pessoas da cidade que abominavam o fato dele representar um cliente negro, acusado de um crime de tal gravidade. O enredo é conduzido com uma delicadeza singular e carrega um pouco da inocência que Scout tinha na infância, fase cheia de descobertas e aprendizado, em que ela e seu irmão têm a oportunidade de descobrir a importância de se livrar de preconceitos e dar valor às pessoas pelo que são, e não pelo que aparentam ser. Obra fundamental em tempos de tanta intolerância, como o que vivemos atualmente.
Nota: 10
1. Grande Sertão: Veredas, João Guimarães Rosa
Depois de anos, reli meu livro favorito, por dois motivos: vontade de reler e vontade de escrever sobre ele no aniversário de seis anos do blog. Seis anos depois da primeira vez que o li, a emoção foi praticamente a mesma, e a satisfação foi ainda maior. Neste (único) romance de Guimarães Rosa acompanhamos a narrativa do ex jagunço Riobaldo, já idoso, sobre sua vida: breve relato da infância e adolescência e um extenso relato sobre seus anos na jagunçagem no grande grupo de Joca Ramiro, a morte deste pelas mãos de traidores, os desafios para obter a vingança e a confusão de sentimentos para com Diadorim, companheiro de bando, grande amigo, e no meio de tantos conflitos internos, seu grande amor.
A genialidade de João Guimarães Rosa usa um jagunço do sertão mineiro para examinar as profundezas da mente do homem e a partir daí elaborar uma estória da mais ampla universalidade. Os dilemas de Riobaldo atravessam tempo e espaço: amor e ódio, o que é o bem e o que é mal, a existência ou não de Deus e do diabo, a ideia psicanalítica do poder da vontade, entre outros. Tudo isso, associado à beleza da narração sobre a natureza local e principalmente do amor de Riobaldo por Diadorim ("Diadorim deixou de ser nome e virou sentimento meu") fazem deste um livro único, maravilhoso e inesquecível. Deixou de ser meu preferido? Nonada.
Nota: 10

Luís F. Passos

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