segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O pecado mora ao lado - fiufiu, Marilyn!

Imagine que é verão, a cidade está um forno e aparentemente todas as mulheres casadas e seus filhos foram viajar de férias, deixando seus maridos em casa com seus empregos. Agora imagine um cara cujos vizinhos do andar de cima vão passar o verão na Europa e alugam o apartamento a uma jovem loira de parar o trânsito, nnguém menos que Marilyn Monroe. Bem, essa é a situação de Richard Sherman, editor novaiorquino casado há sete anos e pai de um menino. Sua esposa Helen viaja para o interior e no mesmo dia aparece uma loira que lhe tira o fôlego e quase o mata com um vaso de plantas acidentalmente.
Richard perde a razão por causa de sua nova vizinha, que é a representação do estereótipo da vizinha loira, burra e sedutora. O pior é que ela sabe o efeito que tem sobre o cara, mas mantém um ar de inocência que só aumenta seu efeito sobre Richard. Ele busca se aproximar dela, mas quanto mais o faz, mais fica nervoso e maior é seu desejo. Temendo cometer adultério, ele se consulta com um psiquiatra, que diz que ele está com a "coceira dos sete anos" (que é o nome original do filme), um mal que aflige 90% dos homens que completa sete anos de  casamento. Segundo o médico, a doença é um protesto interior contra a estabilidade do casamento, e é agravada quando há a tentação - no caso, o pecado do apartamento de cima (o pecado mora em cima, não ao lado!).
Basicamente O pecado mora ao lado (The seven year itch, 1955) é isso. Só isso? Não é "só isso". Esse curto enredo tem muita coisa nas entrelinhas. A começar pela personagem de Marilyn Monroe. Percebeu que não tem nome? É porque a mulher aparece apenas como a personificação do desejo. É loira, é linda, seu corpo é sensacional. Pra quê nome e inteligência, se o desejo físico já foi suprido?
O filme também trata de outros temas, apesar da censura vigente na época: racismo, traição (os homens mandavam as mulheres viajarem para se comportar como solteiros), homossexualismo (dois decoradores moram juntos no último andar) e claro, o machismo e a visão da mulher apenas como objeto. Algumas coisas saíram do filme por causa da censura, como cenas em que se comprovaria o adultério de Sherman. Mas a gente nem se importa, porque ficaram as cenas com os ótimos diálogos entre os vizinhos, e claro, a cena mais notória do filme: na saída do cinema, a loira pára na calçada e seu vestido levanta com o vento - quem nunca viu essa cena?
E é Marilyn quem domina o filme. Não só pelo papel de destaque, mas pelo fato de que ela era capaz de seduzir até as câmeras, mostrando muita sensualidade com um ar de inocência, coisa que poucas atrizes coseguem fazer, além de ter muito carisma, responsável em parte por sua legião de fãs. Quero dizer, inclusive, que agora que conheço seu trabalho sei que foi bom ela ter recusado o papel de Holly Golightly em Bonequinha de luxo. Marilyn era muito sensual, diferente de Audrey Hepburn, que fazia mais o tipo lady inglesa e soube tornar Holly meiga e ingênua.
Ah, vale lembrar que o filme é baseado numa peça homônima de George Axerold, que é co-roteirista do longa junto com o diretor Billy Wilder, que manteve o aspecto teatral usando praticamente apenas um cenário, que é o apartamento de Sherman.

Leia também: Bonequinha de luxo


Luís F. Passos

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