Melancolia (Melancholia, 2011) acompanha os últimos dias de duas irmãs, Justine (Kirsten Dunst) e Claire (Charlotte Gainsbourg) perante a passagem de um planeta chamado Melancolia pela Terra, algo que promete ser um grande espetáculo visual, já que a informação divulgada pelos cientistas é de que não há possibilidade de colisão, mesmo assimcria-se muita tensão em todo o mundo.
Num primeiro momento acompanhamos Justine em seu casamento, uma bela festa realizada por sua irmã no castelo de seu marido (Kiefer Shutterland). Nos primeiros momentos dessa seqüência (toda a primeira parte do filme é intitulada Justine) vemos a moça incrivelmente feliz. Pouco a pouco, durante a festa, Justine vai adquirindo comportamentos cada vez mais estranhos, torna-se cada vez mais distante e inquieta, desmancha os sorrisos falsos e não consegue mais disfarçar uma tristeza profunda. Fica claro que ela não está bem e que sofre de depressão. Mesmo a possibilidade de renovação garantida pelo matrimônio não foi capaz de ajudar em sua recuperação e após a festa ela passa a se entregar cada vez mais à doença. Uma boa explicação de um dos prováveis motivos para ela ser desse jeito, pode se encontrar nas figuras paternas. O pai e a mãe são totalmente opostos. Enquanto ele é muito alegre e pouco presente, ela é totalmente controladora, nem um pouco amável e parece estar sempre por ali.
Justine só faz piorar, não tem forças para comer, se levantar da cama ou tomar banho e acaba, então, passando um tempo no castelo junto com a irmã. Essa segunda parte do filme, intitulada Claire, vai se centrar nas duas irmãs e em seu relacionamento. Claire cuida de Justine, faz tudo para que ela melhora mas nada parece ter um resultado efetivo. Enquanto isso, o Melancolia se aproxima cada vez mais e mais da Terra e Claire fica cada vez mais insegura com relação a isso, na verdade, fica aterrorizada.
Enquanto o planeta se aproxima e com ele a grande possibilidade de um fim iminente, a tão orgulhosamente controlada Claire vai descontrolando, e a perturbada Justine parece até se recuperar um pouco, de modo até a encontrar um tipo de satisfação e aceitação de que o fim de tudo seja a melhor saída pra ela. Essa leve inversão de papéis vai se intensificando ao longo de toda a segunda parte do filme, principalmente após a confirmação de que os dois planetas realmente vão colidir, sobretudo na última cena com a destruição do planeta (um momento belíssimo).
Melancolia segue a linha de ótimos trabalhos de Trier. Aqui ele lança algo novo em sua carreira, um filme que mistura drama com ficção científica, cheio de questões existenciais sobre como o homem é impotente e desprotegido. Também é um filme visualmente muito bonito, uma das fotografias mais interessantes que já vi em um filme. As primeiras cenas são apenas mixagens de imagens em uma super câmera lenta que mais parecem pinturas. Nessas imagens, é possível captar todos os mínimos detalhes do movimento e da expressão dos atores. A trilha sonora também é muito bonita e o elenco é ótimo. Principalmente Charlotte Gainsbourg (recorrente da filmografia de Trier, trabalhou com ele em O anticristo) e Kirsten Dunst (que saiu vencedora de melhor atriz principal em Cannes).
A única coisa que poderia impedir que Melancolia fosse efetivamente colocado como um dos melhores filmes do ano e que levasse a Palma de Ouro em Cannes era o próprio Trier. Declarações equivocadas feitas por ele em uma coletiva de imprensa tiraram toda e qualquer chance do filme sair vitorioso, o fizeram ser expulso do festival, prejudicou prováveis futuras premiações ao filme (sobretudo Kirsten Dunst) e quase ofuscou o brilhantismo no qual esse filme foi realizado.
Lucas Moura
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