Quando o professor universitário francês chamado Humbert (James Mason) resolve passar algum tempo em New hampshire, EUA, não sabia que sua vida estava prestes a mudar drasticamente. Chegando à cidade, através de recomendações de amigos, vai até uma bela casa que está alugando um dos quartos. A dona da moradia é Charlotte Haze (Shelley Winters), uma viúva de meia idade, espalhafatosa e solitária que automaticamente se interessa por Humbert, por mais que a recíproca não seja verdadeira. O que o convence a ficar naquele lugar não é nenhuma das muitas qualidades expostas por Charlotte, e muito menos suas tentativas claras de atraí-lo. O que o faz ficar lá é uma pessoa, uma jovem adolescente filha de Charlotte: a bela Dolores Haze (Sue Lyon), também chamada pelo sedutor apelido de Lolita, que instantaneamente, com um simples olhar, faz Humbert se apaixonar por ela. a, que instantaneamente, com um simples olhar, faz Humbert se apaixonar por ela.
O
tempo passa e o homem vai se apaixonando cada vez mais e mais pela jovem
Lolita, que, por mais incrível que pareça a uma garota de uns 15 anos (ou
menos), não é tão inocente assim. Ao mesmo tempo em que Humbert aumenta seu
interesse por ela, a garota não faz por menos. Ela sabe efetivamente o efeito
que tem sobre ele e usa e abusa disso. Nas palavras de Humbert, o que o atrai
não apenas em Lolita, como em ninfetas de um modo geral, é a mistura entre uma
ingenuidade infantilizada e uma vulgaridade velada. Sim, ele é um pedófilo. No
lado oposto da história, quem também faz um cerco ao redor de Humbert é
Charlotte, mãe de Lolita, que faz esforços incessantes para atraí-lo sem
perceber que ele só tem olhos para sua filha. É criado uma espécie de triângulo
amoroso deturpado, formado por pessoas doentias em que mãe e filha praticamente
disputam a atenção de um homem.
É
nesse contexto que Humbert toma uma das mais extremas decisões para se manter
perto de Lolita: casar-se com Charlotte. Durante esse rápido casamento, as
coisas começam a ficar cada vez mais sérias e no momento que seria mais crítico
para Humbert, o destino resolve
atuar da forma mais irônica possível e garantir-lhe uma salvação.
Salvação essa que vai aproximá-lo muito mais de Lolita, e os dois passam a
viver juntos, efetivamente, viajando pelo país e se passando por pai e filha, para
não levantar suspeitas de uma relação sexual que os dois, efetivamente, passam
a manter. Claro que os dois não podem simplesmente escapar impunes de algo
assim, a obsessão de Humbert pela garota acaba por ter sérias conseqüências
para ambos, principalmente para ele, que acaba sendo levado a um estágio de
total desespero do qual não vai voltar.
Além
de Humbert, Charlotte e Lolita, temos também o cínico Clare Quilty (Peter
Sellers), um famoso roteirista de televisão que, há muito tempo, já conhecia
Charlotte. Por associação, já conhecia Lolita e, como ele mesmo diz a Humbert,
os dois são “pessoas normais com rostos normais”. Acho que já ficou bem claro o
que os dois têm, de fato, em comum. A primeira cena do filme, aliás, mostra
Quilty e Humbert. A explicação para o que acontece nesse primeiro ato, só sabe
quem vê o filme todo.
Pela
breve explicação da história, dá pra ver o motivo que levou Lolita (Lolita, 1962) a se tornar uma das histórias mais controversas e
polêmicas do cinema. Não é pra menos. Primeiro, o protagonista é um pedófilo (e
não o único na história) que decai a algo próximo à loucura em meio a sua
devoção por uma ninfeta de 15 anos de idade que não é nem um pouco inocente (apesar
da pouca idade, assume sim a postura de uma mulher sedutora). Interessante no
filme é que por mais que as coisas que Humbert faça sejam, de fato, nojentas e
fundamentadas num desejo repulsivo, não temos propriamente raiva dele em nenhum
momento. Em certas ocasiões, até nos divertimos com ele, pois o filme não é só
tensão e tem vários toques de humor. Não um humor aberto e exagerado, mas muito
ácido, sutil e irônico. Segundo, é um filme extremamente sexual. Apesar do
termo sexo não ser dito em momento algum e de nunca vermos Lolita e Humbert
transando ou sequer se beijando, o filme foi feito para ter uma tensão sexual
transmitida em pequenos detalhes como olhares e diálogos cheios de mensagens
implícitas, o que substitui totalmente a presença do ato em si na tela. Um
conteúdo como esse pode até ser concebível ao cinema dos dias de hoje, mas não
em 1962, daí tamanha polêmica criada em torno dele. Nessa época, a censura cinematográfica
ainda era muito rígida e permitir que algo como Lolita pudesse ser feito, realmente é uma audácia.
Um
dos primeiros filmes de Kubrick (que só fez filmes entre bons e obras-primas) é
também um dos menos cultuados do diretor, apesar de ter deixado suas marcas. Ao
contrário de outros trabalhos grandiosos de Kubrick, como Laranja mecânica, 2001 e Barry Lyndon, Lolita é um filme de sutilezas. Mérito do diretor, do brilhante
elenco (Shelley Winters é uma das melhores atrizes de sua época; Peter Sellers
é um ator divertidíssimo; Sue Lyon é a Lolita perfeita e James Mason consegue
ser o melhor de todos) e do roteiro, feito por ninguém mais ninguém menos que o
próprio Vladmir Nabokov (escritor do livro homônimo no qual este filme se
baseia).
No
cartaz de divulgação do filme, encontra-se a pergunta: Como eles puderam fazer um filme como Lolita?. Sinceramente, não
sei. Mas o cinema agradece.
Obs:
Lolita voltou ao cinema nos anos 90,
num remake que traz Jeremy Irons no papel de Humbert. Não vi e não faço questão
de ver.
Lucas Moura
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