quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Terra de ninguém - jovens, entediados e criminosos

Em uma pequena cidade da Dakota do Sul, vive Kit (Martin Sheen), um rapaz sem qualquer tipo de orientação que mal consegue manter um emprego como gari. Apesar de ser um total fracassado, se porta como se fosse alguém muito mais importante que o que de fato é. Fala de maneira arrojada e veste-se como uma espécie de James Dean. Um dia, ele conhece a jovem adolescente Holly (Sissy Spacek). Com o tempo, os dois acabam se apaixonando, algo que não é bem visto pelo pai da garota que não quer ver sua filha andando com um rapaz problemático. Em meio a essa crise amorosa, o casal acaba cometendo o seu primeiro crime: Kit assassina o pai de Holly. Depois do assassinato (o primeiro cometido pelo rapaz) eles fogem da cidade e queimam a casa para poder ganhar tempo e disfarçar sua fuga. Tudo, obviamente, planejado por Kit, enquanto Holly assiste sua vida se desmoronar com uma passividade que chega a ser irritante (“melhor passar uma semana com alguém que amamos do que anos em solidão.”). 
Os dois passam a viver em uma floresta, separados da sociedade, onde convivem apenas um com ou outro, têm altos e baixos típicos de qualquer casal e tentam construir uma vida perfeita, à medida do possível, enquanto dançam despreocupados ouvindo canções de rádio como jovens quaisquer. Quando descobertos, acabam cometendo mais crimes e passam a percorrer planícies desertas dos EUA, com mais e mais assassinatos, fugindo da polícia e se tornando um casal de criminosos de reconhecimento nacional (“não posso negar que tenhamos nos divertido... e isto já é mais do que outros podem dizer.”). 
O casal é uma espécie de Bonnie e Clyde. Holly e Kit praticam seus crimes sem nenhuma necessidade ou justificativa adequada. Não parecem mostrar nenhum tipo de sentimento perante as vítimas. Kit é violento e desequilibrado, apesar de não aparentar isso, e está obviamente interessado em se tornar uma celebridade (“sempre quis ser conhecido como um criminoso, só não sabia que seria tanto.”). Holly por sua vez é incrivelmente apática e vazia, tanto quanto as revistas adolescentes que ela lê. Sua passividade é impressionante e a única explicação para ela realmente ter seguido Kit nessa jornada, mesmo após o assassinato de seu pai (que ela encarou quase com a mesma placidez que a morte de seu peixe e de seu cachorro), por simplesmente não ter mais o que fazer. O filme, aliás, é narrado por Holly, numa voz doce e quase infantil. Narração essa que é tão superficial quanto um diário de adolescente cheio de banalidades.
Terra de ninguém (Badlands, 1973) é um filme frio e sem esperanças, ao mesmo tempo em que é estranhamente interessante e visualmente impactante. É um dos principais filmes dos anos 70. Está na lista com os 100 melhores filmes de todos os tempos, escolhidos por diretores, da revista Sight and Sound lançada agora no mês de agosto e é realmente único, apesar das semelhanças com Bonnie e Clyde (1967).
Uma grande importância de Terra de ninguém está na revelação de três grandes nomes do cinema: Martin Sheen, Sissy Spacek e Terrence Malick. Martin Sheen, que interpreta Kit, veio a se tornar um dos principais atores dos anos 70, protagonizando clássicos como Apocalypse Now, de Coppola. Ele ainda resolveu deixar um filho no mundo do entretenimento, o famoso Charlie Sheen. Sissy Spacek, uma das principais atrizes do cinema americano, fez aqui seu primeiro trabalho de destaque. Apesar de já ter mais de 20 anos quando fez o filme, aparenta ter bem menos para viver a ingênua (?!) Holly, e se passa perfeitamente por uma garota de 17 anos. A maior revelação do filme, porém, é a do próprio Terrence Malick, que aqui faz sua estréia cinematográfica como diretor, roteirista e produtor e, em minha opinião, o seu melhor trabalho.


Lucas Moura

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