Não foi a imagem colorida, não foram os efeitos especiais, nem mesmo a chegada do 3D. A maior revolução do cinema foi o advento do som, tanto nas falas das personagens como nos elementos de sonoplastia. O ano era 1927, a Warner estava beirando a falência, e foi o lançamento de um filme com falas e números musicais que botou as contas da casa em dia e deu novo fôlego à Sétima Arte. Tal revolução é tratada em diversos filmes, como Crepúsculo dos Deuses (1950), Cantando na chuva (1952) e mais recentemente O Artista (2011), longas que mostram a surpresa das pessoas diante da novidade, o repúdio de muitos que achavam que a moda seria passageira, e a mudança na vida de todos os profissionais de Hollywood, principalmente os atores, que deveriam deixar de lado o estilo caricato cheio de caras e bocas e aperfeiçoar suas performances com o uso da voz. Mas a nossa intenção hoje é falar do primeiro dos filmes falados: O Cantor de Jazz (The Jazz Singer, 1927).
No Guetto judeu de Nova York, o rabino Rabinowitz (Warner Oland) é uma figura de muito prestígio. Além de um dos principais líderes da sinagoga local, também é o cantor de maior destaque; talento presente na sua família há quatro gerações. Rabinowitz é um homem conservador que preza pelas tradições seguidas ao pé da letra, por isso que desde cedo deu aulas de canto ao seu filho Jakie (Bobby Gordon) para que ele assumisse seu lugar como rabino e cantor quando adulto. Acontece que Jakie é um grande fã de jazz e sonha em ser um ídolo do gênero. No dia em que descobre que o filho cantava jazz num bar, o rabino tem uma séria discussão com ele e o garoto foge de casa.
Os anos passam e Jakie se torna um conhecido cantor na Califórnia, usando o nome Jack Robin (Al Jolson o representa nessa fase adulta). Agora sua ambição é cantar e atuar na Broadway, que representa o topo da carreira e a possibilidade de se reaproximar de sua família. Com a ajuda de sua namorada Mary Dale (May McAvoy) ele consegue uma vaga num musical e retorna a sua cidade. Logo quando volta ao Guetto encontra sua mãe Sara (Eugenie Besserer), que fica muito contente com sua volta, o que não se podia dizer do rabino. Bem, era óbvio que ele estava feliz por rever o filho, mas não deu o braço a torcer porque ele voltara para trabalhar com jazz, e não na sinagoga, e acaba expulsando-o de sua casa. O rabino acaba doente, e o povo do Guetto pede a Jakie que o substitua nas celebrações do Yom Kippur (feriado judeu), que estão por vir; a partir daí seu coração fica dividido entre seus sonhos em ser um astro e suas obrigações para com seu povo.
Vamos às considerações, primeiro ao filme em si: merece destaque não só pelas inovações, mas por ser muito bom. Fui assistir com poucas expectativas, que foram facilmente superadas. É muito legal o roteiro que fala de sonhos, família, perdão (inclusive o Yom kippur é o feriado do dia do perdão) e os confrontos existentes quando se quer seguir um caminho mas alguns fatores levam a seguir outros.
Já em relação à inovação sonora: O Cantor de Jazz não é um filme totalmente falado. Praticamente só há duas sequências faladas (por sinal muito boas) e é nos números musicais que ouvimos as vozes do elenco (Al Jolson era cantor profissional); mas não há elementos de sonoplastia como sons de passos, de móveis sendo arrastados ou coisas do tipo, as falas são escritas para a plateia ler e há o típico fundo musical instrumental. Mas essas poucas falas e canções foram a chave para o que viria a seguir: a imensa onda de filmes falados, conhecidos como talkies, muito populares e que encheram as salas de cinema.
Mas além de histórico, este é um filme um pouco polêmico quando olhamos o contexto de preconceitos e e da falta de direitos civis para todos. Primeiro pelo fato muito conhecido de que o ator usa maquiagem para interpretar um negro - mas diferente do que é falado, não é o ator que se pinta para viver um protagonista negro; é o protagonista, que é ator, que se pinta para viver no teatro uma pessoa de cor. Ou seja, a racista da vez seria a Broadway, e não Hollywood. Não que eu queira amenizar a coisa, até porque essa era uma prática comum no cinema até os anos 1950. Lembrando que a primeira pessoa negra a conseguir um Oscar foi Hattie MacDaniel, que interpretou uma escrava em ...E o vento levou (1939), mas vergonhosamente Hattie entrou e saiu no teatro da premiação pela porta dos fundos. O filme também toca noutro ponto delicado: os guettos judeus. Até metade do século XX os judeus em Nova York estavam restritos a alguns bairros ou distritos (guettos), apesar da imensa população judaica na cidade (oi, Woody Allen?).
Leia também:
Cantando na chuva
O artista
Oscar de Melhor atriz coadjuvante
Luís F. Passos
Mas além de histórico, este é um filme um pouco polêmico quando olhamos o contexto de preconceitos e e da falta de direitos civis para todos. Primeiro pelo fato muito conhecido de que o ator usa maquiagem para interpretar um negro - mas diferente do que é falado, não é o ator que se pinta para viver um protagonista negro; é o protagonista, que é ator, que se pinta para viver no teatro uma pessoa de cor. Ou seja, a racista da vez seria a Broadway, e não Hollywood. Não que eu queira amenizar a coisa, até porque essa era uma prática comum no cinema até os anos 1950. Lembrando que a primeira pessoa negra a conseguir um Oscar foi Hattie MacDaniel, que interpretou uma escrava em ...E o vento levou (1939), mas vergonhosamente Hattie entrou e saiu no teatro da premiação pela porta dos fundos. O filme também toca noutro ponto delicado: os guettos judeus. Até metade do século XX os judeus em Nova York estavam restritos a alguns bairros ou distritos (guettos), apesar da imensa população judaica na cidade (oi, Woody Allen?).
Leia também:
Cantando na chuva
O artista
Oscar de Melhor atriz coadjuvante
Luís F. Passos
Nenhum comentário:
Postar um comentário