O filme trata, basicamente, da vida de um jovem adolescente de 16 anos que acaba de entrar para o ensino médio. Seu nome é Charlie (Logan Lerman) e ele de fato não tem nenhum amigo e pouca convivência com o mundo a sua volta, já que vive sempre assombrado por distúrbios psicológicos causados por terríveis traumas de sua infância – que vão sendo revelados aos poucos ao longo da trama. No meio de uma multidão de adolescentes que parecem tão vivos ele é um nada. Uma pessoa invisível.
Sua invisibilidade começa a desaparecer quando ele encontra as duas pessoas que viriam a se tornar seus melhores amigos e confidentes. Patrick (Ezra Miller), um veterano super divertido e descolado que parece estar sempre alegre e disposto a tornar todos a sua volta com o mesmo estado de espírito. Sam (Emma Watson), a bela colegial, super simpática e, aparentemente, igualmente cheia de vida por quem Charlie acaba desenvolvendo uma paixão inegável. Junto a essas duas novas pessoas, o solitário Charlie começa a andar sobre novos caminhos, tomar novas atitudes e passar por novas experiências, das mais banais as mais incomuns, que funcionam como um verdadeiro sopro de vida em sua decepcionante rotina e que acabam o afastando, um pouco, dos seus velhos transtornos que sempre o acompanharam. Entra de cabeça num mundo totalmente novo. Tudo parece ir melhor do que nunca.
O problema é que as coisas nunca são realmente o que parecem ser. A aparente euforia dos garotos, na verdade, não representa de fato o estado de espírito deles. Seus segredos, suas frustrações, seus medos e suas inseguranças vão, aos poucos, sendo cada vez mais exibidos em momentos naturais da mais franca sensibilidade. As aparências realmente enganam e escondem quem realmente somos. Charlie não é o único perdido ali, todos, em suas próprias maneiras, estão confusos e a procura de uma identidade pessoal ainda em formação.
As vantagens de ser invisível fala justamente disso. Dessa construção de uma identidade própria, da forma como disfarçamos nossos problemas e nossos traumas, da necessidade absurda de conseguir encontrar um lugar e um alguém com quem ser nada mais do que si mesmo (“vamos ser desajustados juntos!”). Fala sobre a importância da amizade e de como nos comportamos perante relacionamentos efetivos (“nós aceitamos o amos que achamos merecer” – frase fantástica essa). Tudo isso com uma sensibilidade e uma franqueza que somente filmes independentes poderiam trazer. Um filme ousado que se propõe a trazer algo genuinamente novo, mesmo que o tema central já tenha sido abordado em outros filmes para adolescentes e jovens. Afinal, As vantagens de ser invisível é sim um filme voltado para tal público. Não há motivos para negar isso. Sua linguagem fala diretamente a pessoas entre seus 15 e 20 anos, mais ou menos, por mais que possa se conectar com qualquer idade. É um filme jovem, feito para jovens, com um elenco quase inteiramente de jovens. E quem disse que filme para jovens é porcaria? Eventualmente temos provas consistentes de que há sim vida inteligente na juventude e que existe uma parcela considerável de espectadores de tal faixa etária mais interessada em questionamentos realmente pertinentes sobre temas diversificados e sérios. Que se preocupa com conteúdo e com uma legítima identificação com uma história, não com uma menina sem graça cuja grande dúvida é se vai transar com um lobisomem ou com um vampiro.
Além disso, para os fãs de boa música, As vantagens de ser invisível conta com uma trilha sonora muito legal e ainda com uma grande reverência ao excêntrico e sexual musical The Rocky Horror Picture Show (1975), que não podia ser metáfora maior ao modo como eles se propõem a serem pessoas diferentes no meio da mesmice. Muito legal.
Não conhecia o ator Logan Lerman, mas definitivamente adorei seu trabalho como o protagonista tão calado quanto complexo. Charlie é uma personagem completo e é impossível não criar empatia imediata com ele. Ezra Miller vive Patrick, o amigo gay e descolado, que garante boa parte dos momentos descontraídos do filme e ainda arrebata alguns dos momentos mais tensos e sentimentais. Ezra ficou conhecido pelo seu papel como Kevin em Precisamos falar sobre o Kevin (2011). E Emma Watson? Incrível. Ela confirma o que qualquer um com bom senso já sabia, que é a melhor coisa que saiu da saga Harry Potter no cinema. Mostra que consegue ir muito além de Hermione Granger e que tem absolutamente tudo que é necessário para se tornar a nova atriz sensação dessas pequenas maravilhas que são os filmes semi-independentes (ainda este ano, estréia no novo filme de Sofia Coppola), território onde nomes como Kirsten Dunst, Jennifer Lawrence e Ellen Page conseguiram firmar seus talentos alguns anos atrás.
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ResponderExcluirBem, qual não foi minha surpresa ao ver um comentário - ainda mais tão positivo. Muito obrigado Jaini, fico muito feliz por você ter gostado do nosso blog, por recomendá-lo em seu texto (que eu li e gostei muito) e em seu blog (que achei incrível e estou sequindo).
ResponderExcluirRealmente a coisa anda feia na blogosfera, e fazemos o possível para nos manter longe dessa realidade - coisa que você também faz muito bem.