segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A hora mais escura - os EUA vão à caça

Todos estão cansados de saber que os ataques terroristas de 11/09 provavelmente foram um dos marcos mais importantes da história recente e que definitivamente mudou o mundo. Nos EUA, então, o atentado saiu da esfera bélica e política e adentrou na sociedade. Instaurou-se um comportamento de medo no povo estadunidense e sua falsa sensação de segurança, garantida por uma aparência de país inabalável e inalcançável acabou, literalmente, em questão de minutos. Os EUA estavam com medo. Estavam revoltados. Precisavam de uma saída e alguém tinha que pagar por tudo aquilo. Quem deveria pagar? A organização terrorista responsável direta pelos atentados ao WTC e também ao pentágono: a Al-Qaeda. Mas para derrubar a organização de vez era preciso destruir o ponto chave de toda a máquina. Era preciso caçar, matar e mostrar para todo o mundo Osama Bin Laden. No entanto, o líder da organização sabia muito bem de sua posição de perigo e soube se esconder do quase incansável exército americano, que literalmente iniciou uma guerra ao redor desta caça (mais detalhes sobre isto podem ser vistos no filme da mesma Kathryn Bigelow, Guerra ao terror de 2009), e que, por anos procurou por seu paradeiro. Uns diziam que Bin Laden estava morto, outros que ele vivia escondido em cavernas em regiões afastadas do Paquistão. No fim das contas, o homem mais procurado da história na verdade se escondia numa casa enorme (com a segurança de um QG), no meio de uma cidade movimentada e a poucos metros de um centro de treinamento militar. Resumidamente, na cara dos americanos. A grande caçada que se iniciou logo após o 11/09/2001 teve fim apenas em maio de 2011, quando os EUA mostraram para o mundo todo que tinham, por fim, derrotado seu maior inimigo, mesmo pagando um altíssimo custo para tal.
Tudo que falei até agora acredito que vocês já saibam. Aliás, qualquer um que tenha acompanhado o mínimo dos fatos mais marcantes do século XXI viu, direta ou indiretamente, todo esse processo se desenrolar em meio a manchetes de jornais e reportagens de televisão. O filme A hora mais escura (Zero dark thirty, 2012), de Kathryn Bigelow, vai fundo no tema, mostrando com um caráter quase documental todo o desenrolar de fatos que culminaram com a morte de Osama Bin Laden. Acompanhamos as práticas de tortura comumente usadas para obter informações ainda no início da guerra, bem como o fim destas já no governo Obama devido as escândalos de Guantánamo; nos situamos em meio a fatos históricos que podem despertar a memória de algumas pessoas, como ataques terroristas a bases militares americanas no Paquistão; o táxi com bombas que quase explodiu em meio a Times Square e apavorou Nova York, o ônibus com bombas que explodiu nas ruas de Londres; percebemos todo o jogo político, militar e de inteligência americana em traçar previsões, acumular dados e perceber os pequenos detalhes que podiam passar despercebidos mas que fazem toda diferença. Vemos pistas falsas e verdade incômodas. No centro de tudo está Maya (Jessica Chastain), jovem oficial diretamente enviada por Washington D.C para liderar a caça. Seus esforços são incansáveis e sua confiança – mesmo que aliada a um nervosismo e uma histeria permanentes – é o combustível para tudo.
Muita polêmica foi gerada ao redor de A hora mais escura. Os motivos são óbvios. Alguns podem facilmente interpretá-lo como apenas mais um filme pró-América, que valoriza o intervencionismo exagerado dos EUA em território estrangeiro, monta o universo árabe como monstros inimigos que devem ser eliminados e, principalmente, que é um filme a favor das práticas de tortura. A questão é: isso é verdade? Em parte, sim. Não por Bigelow ter feito um trabalho tendencioso para tal, mas sim por ter havido uma preocupação em tentar, ao máximo, mostrar as coisas como elas realmente aconteceram. A verdade está aí e deve ser mostrada da melhor forma possível, por mais indigesta que seja. Os EUA fazem muita coisa errada, todo mundo está cansado de saber disso. O foco de Bigelow não é em deturpar ou valorizar a imagem que temos dos EUA, mas sim focar os fatos. Como negar a existência da tortura? Ela ocorreu, foi amplamente usada e foi através dela que eles conseguiram muitas informações importantes. Então, está no filme. Quando a tortura foi proibida (pelo menos é o que dizem) pelo governo Obama, obviamente houve uma dificuldade em obter informações e uma polêmica foi gerada em torno de tal tema. Isto também está no filme.
Achei uma boa escolha a presença de Jessica Chastain no papel de Maya. É uma atriz em ascensão, vem fazendo um filme atrás do outro e filmes com um nível relativamente alto de qualidade. Não consegui me conectar muito com a personagem, mas entendo sua indicação ao Oscar de melhor atriz e sua vitória no Globo de Ouro. Bigelow, mais uma vez, faz um excelente trabalho de direção. A hora mais escura não é um filme apaixonante, mas é um filme que tem um objetivo muito sério e desenvolve muito bem o que quer mostrar (achei algumas partes entediantes, mas toda a parte final é fantástica). Bigelow, pra mim, é um dos nomes mais interessantes do cinema atual. Em meio a um cenário de filmes políticos e de guerra que podiam ser muito bem associados a uma visão mais masculina, ela aparece para nos mostrar que o sexo não importa quando se trata de talento. A hora mais escura não é melhor que Guerra ao terror, mas deixo aqui minha recomendação para ambos. Aparentemente, Bigelow é a voz dos “heróis” desconhecidos.

Lucas Moura

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