Kathy Nicolo (Jennifer Connely) é uma jovem perdida no mundo. Vive isolada, sem muito contato com familiares, sem amigos, abandonada pelo marido que a largou, trabalhando como empregada doméstica e com cara de quem está à beira da depressão. A única coisa que ela tem, de fato, é uma bela casa perto da praia, deixada pelo seu pai como herança para ela e para seu irmão. Após um pequeno desentendimento do setor tributário imobiliário, Kathy foi acusada de não pagar impostos relativos a estabelecimento comercial, sendo que sua residência não é um estabelecimento comercial. Por ser displicente, Kathy não olhou suas correspondências e não soube que o governo iria colocar sua casa a leilão. Ela só descobre que deve sair da casa quando policiais batem na sua porta e a põem na rua. Além de tudo de ruim que já andava acontecendo com ela, Kathy agora se vê sem o único bem que ela possuía de fato. Alcança apoio em um desesperado e infeliz policial, Lester, com quem passa a ter um relacionamento amoroso. Sua meta agora é, então, recuperar sua residência. O problema é que pouco depois de sua saída, a casa foi arrebatada num leilão de imóveis por um senhor árabe chamado Behrani (Ben Kingsley).
Behrani, por sua vez, é um ex-coronel do exército iraniano que saiu praticamente fugido de seu país (não há qualquer explicação sobre o motivo) com seus filhos e sua esposa, Nadi (Shohreh Aghdashloo) que agora se vê em difícil situação financeira. Trabalhando dois períodos como caixa em loja de conveniência e asfaltando rodovias, vê na compra da casa a chance perfeita de melhorar de vida. Seu objetivo é: vender a casa por pelo menos quatro vezes o valor pelo qual ela lhe foi adquirida e utilizar esse dinheiro para se estabelecer em outro lugar e financiar os estudos do filho, Esmail. Ao saber de Kathy e de sua situação, ele não aceita a proposta feita pelos advogados que consistia na venda da casa pelo valor o qual ele a adquiriu. Isso, obviamente, impediria que ele cumprisse seus objetivos além de colocá-lo numa situação financeira complicada.
Ufa. A partir daí, a história vai se centrar na dualidade entre Kathy e Behrani. Cada um com seus dramas e sofrimentos particulares e cada um necessitando, de diferentes maneiras, de uma mesma casa. O cenário está arrumado para um drama intenso e inteligente que nunca cria vilões e heróis, apenas mostra pessoas comuns numa situação de crise tomando atitudes extremas, porém justificáveis. Vou logo adiantando: o final é excepcional. Não tem uma cena muito melhor que a outra. Toda a metade final do filme é excelente.
Casa de areia e névoa (House of sand and fog, 2003) também pode ser percebido como uma grande metáfora aos próprios Estados Unidos. De certa forma, nós temos um impasse entre uma cidadã estadunidense típica que se vê ameaçada por um estrangeiro (ainda mais árabe) que parece vir para tomar o seu lugar. É um comportamento inerente a muitos estadunidenses, ainda mais no cenário de crise pós 11/09 no qual o filme foi idealizado. Além disso, o filme ainda coloca como ponto central de toda a problemática de Kathy e Behrani um pequeno desentendimento do mercado imobiliário. Mercado esse que, anos depois, jogou os EUA numa das suas maiores crises da história. Outro ponto interessante nisso, está na figura de Behrani e de sua família árabe, que, no fundo, não querem nada mais nada menos que ter seu próprio “sonho americano” cumprido: uma bela casa, estabilidade financeira, um filho na universidade e, porque não, serem felizes na América, além de recuperar a vida que haviam perdido ao sair do Irã. Infelizmente para eles, a coisa é muito difícil.
Atuações espetaculares cercam o filme. Kathy, uma personagem difícil e problemática, é interpretada pela bela Jennifer Connely, uma ótima atriz, mas quem se destaca mais é Ben Kingsley como Behrani. O ator captou traços de personalidade da cultura árabe, que já é rígida, ainda mais Behrani sendo um ex-militar. Sendo assim, construiu a personagem mais complexa do filme. Rígido, rigoroso, exigente, racional, persistente e até mesmo explosivo, também é um homem desesperado a sua própria maneira (não deve ser nada fácil sair de elite de um país para escória de outro) e totalmente dedicado a sua família. Mesmo assim, cada um dos cinco atores principais tem seu momento de brilhar. Impossível não notar o trabalho de Ron Eldard, como Lester e de Shohreh Aghdashloo como Nadi.
Casa de areia e névoa recebeu três indicações ao Oscar, incluindo uma de melhor ator para Ben Kingsley e uma de melhor atriz coadjuvante para Shohreh.
Lucas Moura
Ufa. A partir daí, a história vai se centrar na dualidade entre Kathy e Behrani. Cada um com seus dramas e sofrimentos particulares e cada um necessitando, de diferentes maneiras, de uma mesma casa. O cenário está arrumado para um drama intenso e inteligente que nunca cria vilões e heróis, apenas mostra pessoas comuns numa situação de crise tomando atitudes extremas, porém justificáveis. Vou logo adiantando: o final é excepcional. Não tem uma cena muito melhor que a outra. Toda a metade final do filme é excelente.
Casa de areia e névoa (House of sand and fog, 2003) também pode ser percebido como uma grande metáfora aos próprios Estados Unidos. De certa forma, nós temos um impasse entre uma cidadã estadunidense típica que se vê ameaçada por um estrangeiro (ainda mais árabe) que parece vir para tomar o seu lugar. É um comportamento inerente a muitos estadunidenses, ainda mais no cenário de crise pós 11/09 no qual o filme foi idealizado. Além disso, o filme ainda coloca como ponto central de toda a problemática de Kathy e Behrani um pequeno desentendimento do mercado imobiliário. Mercado esse que, anos depois, jogou os EUA numa das suas maiores crises da história. Outro ponto interessante nisso, está na figura de Behrani e de sua família árabe, que, no fundo, não querem nada mais nada menos que ter seu próprio “sonho americano” cumprido: uma bela casa, estabilidade financeira, um filho na universidade e, porque não, serem felizes na América, além de recuperar a vida que haviam perdido ao sair do Irã. Infelizmente para eles, a coisa é muito difícil.
Atuações espetaculares cercam o filme. Kathy, uma personagem difícil e problemática, é interpretada pela bela Jennifer Connely, uma ótima atriz, mas quem se destaca mais é Ben Kingsley como Behrani. O ator captou traços de personalidade da cultura árabe, que já é rígida, ainda mais Behrani sendo um ex-militar. Sendo assim, construiu a personagem mais complexa do filme. Rígido, rigoroso, exigente, racional, persistente e até mesmo explosivo, também é um homem desesperado a sua própria maneira (não deve ser nada fácil sair de elite de um país para escória de outro) e totalmente dedicado a sua família. Mesmo assim, cada um dos cinco atores principais tem seu momento de brilhar. Impossível não notar o trabalho de Ron Eldard, como Lester e de Shohreh Aghdashloo como Nadi.
Casa de areia e névoa recebeu três indicações ao Oscar, incluindo uma de melhor ator para Ben Kingsley e uma de melhor atriz coadjuvante para Shohreh.
Lucas Moura
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