terça-feira, 31 de julho de 2012

Alice no País das Maravilhas – quando uma criança sonha

O encontro modesto ocorreu na minha adolescência quando tentava absorver uma carga de clássicos que não tive contato na infância. Não vou atribuir culpas nem julgamentos; sinceramente, acredito que os desenhos da Disney foram esquecidos, mas não vos digo que estejam ultrapassados. Enfim, buscando encontrar nas animações de Walt Disney as lendas cinematográficas de outrora acabei me deparando com Alice no País das Maravilhas de 1951.
Neste momento abro espaço para pedir desculpas, pois não é o meu objetivo tratar do filme e sim da obra escrita de Charles Lutwidge Dogson – ou se preferir, Lewis Carrol. Entretanto farei alguns apontamentos necessários aos mais leigos que tiveram apenas contato com a sétima arte.
Alice in Wonderland” (repito: o filme!) não teve uma repercussão em sua estreia tão parabenizada quanto os tempos atuais. O misticismo aponta ao fato de ter sido o 13º longa-metragem da Disney, logo após a conturbada Segunda Guerra Mundial (período de congelamento das produções de longas na empresa). A crítica e o público massacraram o resultado final na telona por um motivo que poucos conhecem: a película condensou os dois livros da série (“Alice in Wonderland” e a continuação “Alice Through The Looking-Glass”) em uma animação de 75 minutos com muitas adaptações. Sabem como é... Com os clássicos não se brinca, nem com os de criança.
Alice’s Adventures in Wonderland de 1865 (agora sim; o livro!) alcançou ótimos resultados em sua venda tão logo o seu lançamento e o sucesso não se deu apenas aos pequenos leitores, mas aos pais e mães que se afeiçoaram a obra. A razão de tal êxito comercial se atribui não somente às excelentes ilustrações de John Tenniel como ao diferencial na história de Carrol; em uma época a qual os livros infantis apresentavam contos funestos incorporados a lições de moral, uma singela historia sobre uma garota e sua aventura em uma terra onírica atrairia muito mais a atenção. Quem me lê agora pode achar um absurdo essas macabras histórias infantis, todavia estou certo de que – assim como eu – tu cresceste na ameaça constante do Lobo Mau (tanto faz se assopra ou se faz mingau com as criancinhas).
O onirismo é a chave de toda a saga de Alice. Sentimos através das doces peripécias da teimosa protagonista um aprofundamento das suas fantasias, bem como os transtornos da sua personalidade forte. Destemida, ela atravessa as mais pueris situações envolvendo animais fabulosos e personalidades lúdicas. A obra é envolta de diversos contos, poesias musicadas, adivinhações e diálogos tão absurdos quanto improváveis. Se fossemos considerar apenas o aspecto imaginativo, Lewis Carrol merecia uma atenção especial por aparentemente criar um enredo tão incoerente, contudo extremamente apaixonante.
A acurada criação desse mundo partiu da mente de um professor de matemática com experiência em publicações de tratados de geometria e álgebra. Lutwidge Dogson (1832-1898) ensinou em Oxford, era um fotógrafo entusiasta e apaixonado pelas mentes infantis (essas duas últimas qualidades geraram especulações sobre pedofilia). Uma dessas crianças a quem ele era especialmente afeito chamava-se Alice Liddell (1852-1934), a quem contava breves narrativas durante passeios. Dessa maneira nasceram as primeiras anotações do que viria a ser mais tarde comercializado como Alice no País das Maravilhas.
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aguardem a segunda parte com os comentários e mais detalhes de “Alice no País do Espelho”.

Guilherme Patterson

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